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O hotel onde Alice estava hospedada, apesar de todo o luxo, parecia cada vez mais um lugar distante, como se estivesse imersa em um mundo paralelo. A grande janela de sua suíte mostrava a movimentação da cidade, mas nada disso parecia tocá-la mais. Ela sentia a pressão do ambiente ao seu redor, o peso da responsabilidade sobre seus ombros, mas o vazio que sentia dentro dela não podia ser preenchido com luxo, sucesso ou grandes vitórias.

Ela se levantou da cama e caminhou até a janela, observando a paisagem noturna da cidade. As luzes piscavam abaixo dela, mas seu coração estava em outro lugar, distante, naqueles momentos que compartilhava com Luísa, nas conversas que nunca mais poderiam acontecer, nos planos que nunca se concretizariam.

O celular na mesa ainda estava ligado, mas sem mensagens. A ausência de Gabriel, as horas sem uma palavra sua, começavam a pesar. Alice sabia que, embora estivesse se distanciando dele, algo ali estava fora do lugar. As mensagens não enviadas, as respostas que nunca chegavam, tudo isso a fazia sentir uma dor sutil, mas constante. Talvez fosse o reflexo de sua própria insegurança, ou talvez fosse o reconhecimento de que a relação deles nunca foi sólida o suficiente para resistir à distância.

Ela suspirou e pegou o celular, olhando as horas. Era tarde, e Marcelo havia sugerido que ela descansasse. Mas, ao invés disso, Alice sabia que não conseguiria dormir. Seu coração estava acelerado, cheio de pensamentos e sentimentos que não sabia como organizar. Ela sentia que precisava tomar uma decisão.

O telefone vibrava com uma notificação, e Alice hesitou antes de olhar. Era uma mensagem de Gabriel:

"Desculpa, Alice. A vida tem sido uma loucura por aqui. Como você está? Já está mais confortável por aí?"

Ela leu a mensagem com um suspiro pesado. Havia algo de desconfortante naquela resposta, uma frieza que a fazia questionar a sinceridade. Era como se ele estivesse em sua vida, mas não totalmente presente. Alice sabia que precisava fazer algo. Precisava colocar as coisas em perspectiva e não apenas esperar que as respostas viessem sozinhas.

Ela digitou, pausadamente, uma resposta:

"Eu estou bem. Estou aqui, mas parece que a distância está se tornando um obstáculo muito grande. Não sei como a gente vai lidar com isso, e estou começando a achar que talvez a gente precise repensar as coisas. Eu não posso ficar esperando... A vida aqui não é fácil, e eu realmente preciso saber onde você está."

Alice hesitou antes de apertar "enviar", mas sabia que não poderia continuar assim. Essa incerteza a consumia e a fazia se sentir ainda mais sozinha. Não apenas a distância geográfica, mas também a emocional. Ela não podia mais ignorar isso, não quando estava sozinha em um hotel luxuoso, em uma cidade que nunca fora sua, com tudo o que sempre sonhou, mas sem a paz de espírito que ela realmente buscava.

Ela se recostou na cama, observando o celular na sua frente. Sentiu uma leve ansiedade, mas também um alívio. Ela sabia que estava tomando o controle da sua vida, se afastando da incerteza, enfrentando suas emoções. As respostas viriam - ou viriam, ou não viriam - e, de qualquer forma, ela estaria pronta para lidar com isso.

O som de uma nova mensagem interrompeu seus pensamentos. Era de Gabriel novamente:

"Eu entendo, Alice. A distância tem sido difícil para nós dois, e você tem razão em me cobrar mais. Eu não sei o que vai acontecer com a gente, mas eu sinto sua falta. Não sei o que fazer com isso ainda."

Alice leu a mensagem com uma mistura de frustração e tristeza. Ela sentiu um nó na garganta, mas também sabia que essa resposta era tudo o que ela precisava para tomar uma decisão definitiva. Gabriel estava ali, mas ele não estava. Ele ainda não havia entendido a profundidade do que ela estava sentindo. Ela precisava seguir em frente. Se ele não conseguia acompanhá-la nessa jornada, talvez fosse hora de soltar essa parte do passado.

Com um suspiro profundo, Alice respondeu:

"Eu acho que é hora de cada um seguir seu caminho, Gabriel. Eu te desejo o melhor, mas... eu não posso mais esperar."

Ela não sabia se essa era a decisão certa, mas sabia que não poderia continuar naquela incerteza, nessa distância que os afastava não apenas fisicamente, mas emocionalmente. E, enquanto o celular vibrava mais uma vez, ela sentiu, pela primeira vez em muito tempo, uma sensação de liberdade. Talvez a dor fosse inevitável, mas ela já não tinha medo dela. Era hora de seguir em frente.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora