Era uma noite fria, e o apartamento de Alice estava mergulhado em silêncio. Ela passara as últimas semanas afastando todos ao seu redor, inclusive Luísa, que sempre esteve ao seu lado. Luísa, entretanto, não iria mais suportar aquilo. Com o coração cheio de preocupação e cansaço por ver a amiga sofrer em silêncio, decidiu aparecer na casa de Alice sem aviso novamente.
Bateu na porta uma, duas, três vezes até Alice abrir, com um olhar cansado e vazio.
"O que foi, Luísa?" Alice perguntou, sem muita vontade.
"O que foi? É sério que você ainda pergunta, Alice? Você some do nada, se afasta de todo mundo, e eu não posso nem te perguntar o que está acontecendo, a gente já não teve essa conversa, Alice?" respondeu Luísa, o tom carregado de frustração.
Alice suspirou e desviou o olhar. Ela queria fugir, queria evitar essa conversa, mas sabia que não conseguiria escapar de Luísa.
"Eu... eu não posso falar sobre isso. É complicado demais, você não vai entender," disse Alice, quase em um sussurro.
"Você tá de sacanagem, né? Eu sou sua melhor amiga, Alice! Como assim eu não vou entender? Eu tô aqui, porra! Eu tô aqui pra ouvir o que você precisar falar, seja lá o que for," insistiu Luísa, com os olhos faiscando de determinação.
Alice fechou os olhos, sentindo uma onda de ansiedade crescer. Era dificil até respirar naquele momento. Mas Luísa não arredaria o pé. Ela precisava desabafar nem que fosse a última coisa que fizesse.
Ela finalmente respirou fundo e falou, a voz vacilando. "Lu... eu... eu fui abusada quando era criança. Pelo meu tio. Depois que meus pais morreram e fui morar com ele."
Aquelas palavras pairaram no ar, e o silêncio foi quase ensurdecedor. Luisa ficou sem reação, o rosto congelado de surpresa e dor por Alice.
"Você... Alice, eu... caramba, eu nem sei o que dizer. Esse desgraçado... Eu... Eu queria poder...", Luísa gaguejava, a raiva evidente em seus olhos.
Alice continuou, engolindo em seco. "Eu não entendia, sabe? Eu era só uma
criança. E ele dizia que era normal, que eu não devia contar a ninguém. Eu
carreguei isso... e nunca falei pra ninguém. Até hoje.As mãos de Luísa tremiam de raiva, mas ela as estendeu para Alice, segurando-asegurando-a com firmeza. "Alice, eu não fazia ideia. Você nunca... você nunca deu nem um sinal, e agora tudo faz sentido. Você tem noção do quanto isso me destrói saber que você passou por isso sozinha?"
Alice fechou os olhos, lágrimas escorrendo pelo rosto. "E não foi só isso, Lu. Anos depois, quando eu tentei me relacionar com alguém de novo... eu achei que podia confiar. Mas ele também... Ele me usava, me humilhava, me batia quando eu tentava me afastar por causa das traições. E eu achava que era minha culpa. Que eu merecia, sabe? Que eu era um problema, que ninguém ia me amar de verdade e que ele precisava de outras pra suprir as necessidades e oque eu não dava pra ele."
"mas... que porra é essa?Esses dois... essas duas merda de homens... Alice, ninguém merece passar por isso. Ninguém." Luísa estava com o rosto vermelho de raiva, e ao mesmo tempo, sentia uma vontade enorme de proteger a amiga, de curá-la de tudo aquilo.
Alice olhou para ela, os olhos desesperados. "Você entende agora, Lu? Eu não consigo... não consigo confiar no Gabriel. Eu não consigo acreditar que ele não vá fazer o mesmo. Cada vez que ele tenta se aproximar, meu cérebro fica me dizendo que ele só quer o mesmo, que ele só vai me usar. E aí eu fujo. Porque... é a única coisa que eu sei fazer."
Luísa respirou fundo, controlando a raiva e o desgosto por tudo o que Alice passou. "Eu entendo agora. Alice, você tem todo o direito de ter medo. E, cara, você foi forte demais por aguentar tudo isso sozinha. Mas eu tô aqui, tá? Você não precisa carregar essa merda sozinha."
Alice escondeu o rosto nas mãos, chorando. Depois de anos, ela finalmente sentia que podia dividir o peso daquela dor.
Luísa a abraçou, apertando-a forte. "Você merece ser feliz, Alice. E, se precisar, eu vou te ajudar a lembrar disso todos os dias. Eu tô aqui pra te lembrar disso, custe o que custar. E esse seu tio... aquele ex... se eu pudesse... eles não têm ideia do quanto te destruíram, mas, amiga, você é mais forte do que isso. Você ainda tá aqui."
Alice soltou um sorriso fraco em meio às lágrimas. Pela primeira vez, ela sentia que talvez pudesse deixar o passado para trás. Ao menos um pouco.
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me ensina a amar
RomancePLÁGIO É CRIME? SIM. A violação dos direitos aurorais é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal3, com punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violad...