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Alice caminhava pelos corredores da faculdade, o som dos passos apressados dos estudantes ao seu redor parecia distante, como se ela estivesse em um mundo à parte. Sua mente estava agitada, mas ela tentava focar no caminho à sua frente, evitando olhar para os lados. Ela sabia que Gabriel estava lá, e isso a fazia querer desaparecer. A ideia de encontrá-lo, de ter que encará-lo novamente, a incomodava de uma forma que ela não sabia como controlar.

Quando entrou na área comum, seu coração quase parou. Ele estava ali, com os amigos, rindo, como se nada tivesse acontecido. Algo dentro dela se apertou, mas ela não podia deixar que ele percebesse. Por isso, tomou uma decisão rápida, quase instintiva: virou-se e seguiu em direção à saída, com passos rápidos e sem olhar para trás.

Ela sabia que Gabriel provavelmente a tinha visto, mas não importava. Alice não queria ser vista. Não queria mais lidar com as palavras que ele pudesse dizer ou com os olhares que ele poderia lançar em sua direção. Não queria ser mais uma vez puxada para aquela teia de sentimentos confusos que a deixavam em frangalhos.

O pátio da faculdade estava cheio, mas ela encontrou uma escada lateral e subiu rapidamente, buscando algum lugar onde pudesse ficar sozinha. Encontrou um canto tranquilo no bloco de Literatura e se escondeu ali, sentindo um alívio momentâneo ao estar longe do caos da convivência social. Mas, mesmo assim, a sensação de vazio não a deixava em paz. O que ela estava fazendo? Estava fugindo. Mas a verdade era que, para ela, aquela era a única opção viável.

Sentou-se no banco e tentou focar no que tinha à sua frente: os livros. Organizar os materiais para a aula parecia ser o único refúgio possível. Ela sabia que a professora falaria sobre um novo trabalho, e talvez isso a ajudasse a se concentrar. Mas seus pensamentos estavam longe. A imagem de Gabriel não saía de sua mente. Ela ainda podia ver o sorriso dele, o jeito como ele falava com os outros, sem perceber o que se passava com ela.

De repente, uma notificação no celular a fez parar. Era uma mensagem de Gabriel: “Alice, onde você está? Vi você saindo rapidamente. Podemos conversar depois?” Ela leu a mensagem sem pressa, sem vontade de respondê-la. Seu dedo hesitou por um momento sobre o teclado, mas no final, ela guardou o celular de volta na bolsa. O simples ato de digitar uma resposta a parecia cansativo demais, uma tarefa que ela não estava pronta para enfrentar.

Tentou se concentrar nas palavras do livro à sua frente, mas o peso das palavras não ditas entre ela e Gabriel parecia tão grande quanto a própria solidão que ela sentia. Não queria pensar sobre o que ele queria dizer ou sobre o que ela deveria sentir. Ela não sabia mais como lidar com ele, ou com o que ele representava para ela. Por mais que tentasse se convencer de que era apenas uma fase, uma complicação momentânea, o medo de se ferir novamente sempre a alcançava.

O som de passos se aproximando a tirou de seus pensamentos. Alice não precisava olhar para saber quem era. Ela reconheceu o som da silhueta de Gabriel se aproximando, e o simples fato de saber que ele estava perto fez seu peito apertar. Ela fechou os olhos por um momento, controlando a respiração. Não, ela não queria ver isso. Não queria mais ser forçada a encarar as expectativas dele, a dor que tudo isso trazia.

Ele passou por ela, sem perceber que ela estava ali, perdida em seus próprios pensamentos. Alice permaneceu imóvel, aliviada por não ter sido chamada. Ele não se virou, não fez menção de se aproximar. E, naquele silêncio, Alice percebeu que, talvez, esse fosse o único modo de se proteger: simplesmente desaparecer, ser invisível para ele, mesmo que isso significasse se esconder.

Mas o que realmente a fez parar e pensar foi o simples fato de que, por mais que ela estivesse tentando ignorá-lo, ele ainda ocupava um espaço imenso dentro dela. Talvez não fosse ele o problema. Talvez fosse o medo que ela carregava dentro de si, aquele medo de se entregar novamente e se machucar. Ela queria acreditar que poderia ser forte o suficiente para enfrentar isso, mas, a cada vez que o via, se sentia mais frágil.

Ela ficou ali, sozinha, até que o barulho ao redor diminuiu e a noite começou a cair. As últimas pessoas saíam, e Alice sabia que era hora de ir embora. Mas, antes de sair, deu uma última olhada no celular. Mais uma mensagem de Gabriel: “Eu entendo que você precisa de espaço. Eu só não quero te perder. Se precisar de algo, estarei aqui.”

Ela engoliu em seco, mas não respondeu. Talvez, no fundo, fosse exatamente isso que ela precisava ouvir, mas ainda assim, não sabia como reagir. Ela não queria mais promessas, não queria mais incertezas. Só queria entender como seguir em frente, com ou sem ele.

Saindo dali, Alice sentiu o peso da decisão. A evasão parecia ser o único caminho que ela ainda tinha para se proteger. Mas a dúvida persistia. Será que, no fim, ela estava fugindo do que poderia ser bom para ela? Ou estava apenas tentando se proteger de si mesma?

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora