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Alice sentia um peso crescente no peito enquanto caminhava até o café onde havia combinado de se encontrar com Luísa. Ela sabia que a amiga estava puta da vida com ela. O silêncio nos últimos dias havia se estendido, criando uma barreira invisível entre elas, mas que parecia mais sólida a cada segundo. Alice já podia imaginar a expressão de Luísa, furiosa e cheia de frustração, e sabia que seria difícil lidar com isso.

Quando entrou no café, Luísa estava sentada em uma mesa no canto, mexendo no celular, como se estivesse esperando. Alice hesitou na porta por um momento, mas logo se forçou a ir até a mesa. Luísa levantou os olhos e, embora tentasse disfarçar, Alice percebeu o desconforto estampado em seu rosto.

“Oi”, disse Alice, tentando soar normal, mas sua voz saiu mais baixa e insegura do que queria.

Luísa levantou uma sobrancelha, claramente não convencida. “Oi. Que bom que resolveu aparecer.” Ela olhou para o lugar vazio na mesa antes de continuar, a voz agora dura: “Achei que não fosse mais querer me ver.”

Alice suspirou e se sentou lentamente, tentando entender o que estava acontecendo entre elas. Ela sabia que não poderia mais esconder o que sentia, mas também não sabia por onde começar. “Eu não queria te afastar, Luísa. Não é isso.”

Luísa riu sem humor, cruzando os braços com a expressão fechada. “Não queria me afastar? Alice, você está me evitando. Tem dias que você some sem dar explicação, e agora isso. O que tá acontecendo com você? Que porra é essa?”

Alice sentiu o desconforto apertar, como se estivesse sendo empurrada para uma parede que não conseguia escalar. “Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu só... Preciso de um tempo. Tá foda, Luísa. Eu não sei como lidar com tudo. Só isso.”

Luísa bufou, claramente irritada. “Precisa de um tempo? Você está me ignorando, sua vacilona. Eu sou sua amiga, caralho! E você simplesmente some, não fala nada, e agora vem com esse papo de 'precisar de um tempo'? Foda-se, Alice. Me diz o que aconteceu!”

Alice engoliu em seco, a raiva e a frustração batendo forte. Era como se tudo estivesse saindo da sua boca sem controle. “Eu tô tentando lidar com tudo, ok? Tô com medo de me entregar de novo, de me machucar de novo. E você, Luísa... você tá sempre tão envolvida, tão perto de tudo, que eu não sei mais o que fazer. Eu não sei o que você espera de mim. Eu não sei mais como ser sua amiga também.”

Luísa balançou a cabeça, o olhar cheio de uma raiva amarga. “Então, é isso? Você vai me afastar, porque tá com medo de se machucar? Foda-se, Alice, você acha que todo mundo ao seu redor vai ficar esperando enquanto você se perde na sua própria cabeça? Você acha que pode ficar se escondendo atrás dessa merda toda e eu vou ficar quieta? Não é assim que funciona.”

Alice sentiu o peso das palavras, mas não sabia como se defender. “Eu só... não sei mais como ser quem eu era, Luísa. Eu... não sei mais como lidar com isso tudo. Como lidar com o Gabriel, com tudo. Eu não sei como continuar sendo a mesma.”

Luísa apertou os dentes, o rosto ficando vermelho de raiva. “Eu entendo que você está passando por um momento difícil, mas isso não dá direito de me tratar como se eu fosse um fantasma. Eu não sou sua inimiga, caralho. E eu tô aqui, sempre estive. Só que, pra você, é como se eu fosse uma estranha, como se eu não fosse parte disso. E você não vai me convencer de que não é isso.”

Alice olhou para a amiga, a dor e a raiva se misturando. Ela queria gritar, mas não sabia como. “Eu não estou tentando te afastar. Só... não sei mais o que fazer, Luísa. Não sei nem por onde começar.”

Luísa respirou fundo, o rosto mais calmo, mas o tom ainda agressivo. “Então, cê vai se perder nessa merda sozinha? Eu não vou te abandonar, Alice, e não vou fingir que tá tudo bem, porque não tá. E você tem que parar de se esconder de todo mundo. A gente vai lidar com isso, junto, ou vai continuar fazendo todo mundo pagar o preço por sua merda emocional?”

Alice engoliu em seco, sentindo o peso das palavras de Luísa. Ela sabia que a amiga estava certa em muitas coisas, mas as feridas internas estavam doendo demais para que ela conseguisse se abrir completamente.

“Eu não queria te afastar, Luísa… Eu só… Não sei mais quem sou. Não sei quem sou eu no meio disso tudo. Com o Gabriel, com você, com todos esses sentimentos que estão explodindo dentro de mim… Eu só me sinto perdida.”

Luísa a olhou, a expressão suavizando por um momento. Mas logo, a raiva voltava a surgir. “E não é justo, Alice. Não é justo com ninguém. Não é justo comigo, que sempre tentei estar aqui, ao seu lado. O que você tá fazendo é se esconder. Tá se escondendo de tudo e de todos. Isso não vai te ajudar. Você pode se afastar de todo mundo, mas uma hora vai ter que encarar, cara, vai ter que encarar a merda de tudo isso e, principalmente, encarar quem você realmente é. Porque, do jeito que está, você tá se afundando.”

Alice sentiu um aperto no peito. Aquelas palavras, tão diretas, cortaram fundo. Ela queria responder, se defender, mas tudo o que tinha eram lágrimas prestes a cair. Estava cansada. Cansada de lutar contra algo que nem sabia mais o que era.

“Eu sei… Sei que tô errada. Só que… Não sei como lidar com isso. E com tudo o que aconteceu com o Gabriel. Não sei o que esperar dele, não sei o que esperar de mim mesma. Me sinto perdida, Luísa. Sério. Eu não quero mais magoar ninguém, mas ao mesmo tempo, não sei como fazer as coisas darem certo.”

Luísa ficou em silêncio por alguns segundos, avaliando a amiga. Ela sabia que Alice estava em um turbilhão emocional, mas isso não justificava o comportamento dela. “Eu entendo que você está passando por um momento fodido, mas não posso ficar quieta, vendo você se perder assim. Eu sou sua amiga, Alice. E por mais que eu esteja puta com você, eu tô aqui. Mas se você continuar com esse papel de ‘não sei de nada’, não sei até onde vou aguentar. Eu também tenho meus limites.”

Alice olhou para Luísa, agora sentindo um nó na garganta. As palavras da amiga estavam pesando como uma tonelada, mas ela sabia que precisava ouvir aquilo. Não podia continuar se escondendo.

“Eu não sabia que estava te magoando tanto. Eu realmente não queria isso, Luísa… Eu só não sei mais o que fazer. Eu… Eu não sei nem como lidar com os meus próprios sentimentos. Sério, é como se eu estivesse fora de mim.”

Luísa suspirou, se recostando na cadeira. “Eu sei que não é fácil, mas não dá para continuar assim. Você não pode viver essa vida inteira fugindo dos problemas, fugindo de quem você é, do que você sente. Porque, no fim das contas, quem vai sofrer vai ser você mesma. E se você me deixar de lado nessa história, também não vai ser só você que vai perder. Vai ser nós duas, caralho.”

Alice sentiu a dureza das palavras de Luísa, mas sabia que eram necessárias. A dor estava ali, mas talvez fosse esse o ponto de virada. Ela precisava lidar com tudo, e não mais se esconder.

“Eu sei, Luísa. Eu vou tentar… Eu vou tentar enfrentar. Não sei como ainda, mas vou tentar. Só não quero perder você no processo. Não quero te perder também.”

Luísa finalmente deu um sorriso fraco, quase sem vontade. “Você não vai me perder, Alice. Mas vai ter que lutar por isso, vai ter que mostrar que está disposta a encarar a porra da vida de frente. Porque, se não for assim, não vai dar certo.”

Alice assentiu lentamente, sentindo o peso da conversa finalmente começar a se dissipar. Ela sabia que estava longe de resolver tudo, mas naquele momento, estava dando o primeiro passo para não se perder mais.

“Eu sei, Luísa. E vou lutar. Mas me dá um tempo… Só um pouco, por favor. Eu prometo que vou tentar ser quem eu era.”

Luísa respirou fundo, antes de finalmente ceder, com um sorriso mais leve. “Então vai. Mas não se esquece de quem você é, Alice. Não se esquece de lutar por você mesma.”

Alice olhou para a amiga, e pela primeira vez em dias, se sentiu um pouco mais leve. A luta estava apenas começando, mas com Luísa ao seu lado, talvez houvesse esperança de que ela pudesse se encontrar de novo.

me ensina a amarOnde histórias criam vida. Descubra agora