Alice estava absorta em seus próprios pensamentos quando atravessou os corredores da faculdade, sem rumo definido. O peso da incerteza ainda estava ali, mas, de algum modo, ela começou a aprender a viver com ele. As perguntas não feitas pairavam no ar, as palavras de Gabriel ecoando em sua mente, mas algo havia mudado dentro dela. Por mais que tivesse tentado, ela não conseguia mais sentir a mesma necessidade de encontrar respostas imediatas para tudo. O que antes parecia crucial, agora parecia mais distante, como se uma parte de seu mundo tivesse se desconectado, e ela não tivesse mais certeza do que queria ou se sabia o que ainda poderia esperar dele.
A biblioteca foi o primeiro lugar que procurou ao deixar o pátio, como um refúgio natural onde ela podia se perder. Um lugar silencioso, longe das conversas e olhares curiosos, onde os livros podiam falar por ela, onde a realidade parecia se diluir na ficção. Ela se sentou em uma das mesas mais distantes, perto da janela, onde o sol começava a desaparecer, tingindo o céu com tons de laranja e rosa.
Puxou de sua bolsa o livro que começara a ler semanas atrás, um romance leve, que ela só pegava nas raras horas em que sentia vontade de esquecer os problemas. No entanto, ao abrir a primeira página, percebeu que suas mãos tremiam um pouco, como se estivesse tentando se afastar de algo que, no fundo, ainda a preocupava. Ela olhou para o texto, mas não conseguia absorver as palavras. Seu olhar se perdia no papel enquanto seu pensamento flutuava entre Gabriel, Luísa e as palavras não ditas entre ela e ele. Tudo parecia um emaranhado de confusão que não podia ser resolvido apenas com livros ou distrações.
Foi então que Alice percebeu algo que ela não queria admitir até então: ela estava deixando que a situação com Gabriel tomasse um espaço desproporcional em sua vida. O que, em outro momento, teria sido uma relação que a fez se sentir viva e cheia de possibilidades, agora se sentia como um peso, como um fardo que ela não sabia mais como carregar. Talvez fosse o fato de as respostas estarem sempre em cima da hora, sempre na ponta da língua dele, mas sem consistência. Talvez fosse o fato de que ela nunca se sentiu totalmente vista por ele, sempre à margem, sempre esperando ser escolhida.
A ideia de que ela precisaria de tempo para descobrir o que queria já não parecia mais uma questão de tempo, mas de escolha. Alice se perguntava o que ela realmente esperava de si mesma. Até que ponto o relacionamento com Gabriel valia a pena se ela mesma não sabia quem era sem ele? Ela não estava mais disposta a se perder completamente, nem a continuar investindo em algo que parecia estar em constante ebulição sem nunca chegar a uma conclusão.
Foi quando o celular vibrou em seu bolso. Ela não precisava olhar para saber que era ele. Gabriel. O que ele poderia estar dizendo agora? Ela hesitou, a mão pairando sobre o aparelho. Ele queria uma resposta. Ela sabia disso. Ele queria mais, como sempre. Mas Alice sabia que, para dar qualquer resposta a ele, precisaria primeiro dar uma resposta a si mesma.
Ela decidiu, então, que não abriria a mensagem. Não agora. Não enquanto ainda estava tentando entender o que sentia e o que queria para sua própria vida. O celular continuou vibrando, mas ela ignorou, de forma decidida, o impulso de responder ou de dar qualquer tipo de satisfação. Naquele momento, ela precisava se reencontrar, buscar clareza nas suas próprias emoções, não na expectativa de um outro.
Alice fechou o livro e olhou pela janela novamente, observando a luz suave do entardecer. Lá fora, a vida seguia, o céu mudava de cor, e ela percebeu que, talvez, a verdadeira mudança estivesse acontecendo dentro dela. O silêncio da biblioteca, o ruído distante dos outros alunos, tudo parecia mais claro agora. Ela não precisava de um grande alarde para encontrar respostas. Precisava apenas de um pouco mais de tempo com si mesma.
Talvez o amor tivesse que esperar. Talvez o amor fosse algo que, em sua vida agora, não precisava ser a prioridade. Talvez fosse hora de focar no que ela realmente queria para si, sem depender da aprovação de alguém, sem medo de errar. Alice suspirou, fechando os olhos por um momento. A pressão de ser perfeita, de se encaixar nos padrões do que deveria ser um relacionamento, estava se dissipando lentamente.
Ela não sabia se Gabriel entenderia, ou se ele aceitaria o fato de que ela precisava de um tempo – não dele, mas dela mesma. Mas, naquele momento, Alice sentiu uma leveza que não sentia há muito tempo. Era como se um peso estivesse sendo retirado de seus ombros, e a simples ideia de poder respirar sem tantas expectativas fosse um alívio. Ela se levantou da mesa, guardou o livro na bolsa e caminhou em direção à porta da biblioteca.
Era hora de começar a se encontrar novamente.
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me ensina a amar
DragostePLÁGIO É CRIME? SIM. A violação dos direitos aurorais é CRIME previsto no artigo 184 do Código Penal3, com punição que vai desde o pagamento de multa até a reclusão de quatro anos, dependendo da extensão e da forma como o direito do autor foi violad...