O dia começou normal, ou pelo menos o mais normal possível considerando a confusão que minha vida tem sido. Estava no Salão Principal, ocupando meu lugar habitual à mesa da Sonserina, bebendo um suco de abacaxi com hortelã enquanto tentava ignorar os cochichos ao meu redor. De certa forma, eu estava acostumada com o peso dos olhares, mas hoje eles me incomodavam mais do que o normal. Talvez fosse a tensão no ar, o sussurro de algo prestes a acontecer.
É então que Wendy aparece, andando apressada com um maço de jornais enrolados embaixo do braço. Assim que chega até mim, larga um deles sobre a mesa e me olha com seriedade.
— Você viu isso? — ela pergunta, apontando para a manchete.
Minha atenção vai imediatamente para a primeira página. "COMENSAIS DA MORTE FOGEM DE AZKABAN". Uma foto me chama atenção de imediato, como se o ar ao meu redor tivesse congelado. Bellatrix Lestrange. Seus olhos selvagens e sorriso cruel pareciam me perseguir mesmo através da imagem.
— Não pode ser... — sussurro. Meu estômago se aperta de forma quase dolorosa.
Levanto os olhos em busca de Draco, do outro lado do Salão. Ele me ignora completamente, fingindo estar concentrado na conversa com Crabbe e Goyle sobre Ainda está com raiva porque não passei o Natal com ele e menti sobre estar na escola, coisa que ele não vai descobrir. Não era o momento de discutir isso, mas a atitude dele só me irrita ainda mais.
Empurro o jornal para Wendy, tentando manter minha expressão controlada.
— Obrigada por me avisar — murmuro com a voz mais fria que conseguia.
Pouco tempo depois, estávamos na sala do treinamento da Armada. Meu corpo se movia no automático, mas minha mente ainda estava presa na manchete do jornal. Era difícil me concentrar em qualquer coisa além da sensação de que a liberdade de Bellatrix era uma ameaça muito mais pessoal para mim do que para qualquer um ali.
Tenho uma lista de defeitos muito grande e não me orgulho disso. Posso ser chamada de arrogante, fria, vingativa, talvez insensível. Mas uma coisa que nunca vou ser é incompetente. Não posso deixar meu relacionamento com Harry nem minha linhagem de sangue idiota afetarem na minha competência da Armada. Eu era única que não tinha acertado o feitiço de patrono. Tentei várias vezes. Desconfio que algo estava errado comigo.
Harry percebe, é claro. Ele sempre percebe. Aproxima-se, mantendo uma distância respeitosa, mas a preocupação estava estampada no rosto dele.
— Você precisa lembrar de uma memória boa para isso servir de estímulo para ativar o feitiço — ele sussurra.
— Não sei como fazer isso — rebato, talvez mais dura do que pretendia.
— É claro que sabe. Pensar em uma memória feliz... Ou qualquer memória forte o suficiente de emoções.
— No entanto, eu não sou uma pessoa intensa como você.
Ele franze a testa.
— O que quer dizer?
Hesito por um instante. Não era o tipo de conversa que queria ter ali, mas as palavras escaparam antes que eu pudesse impedir.
— Harry, a coisa que mais sei fazer é reprimir minhas emoções desde que... Bom, desde que me entendo por gente.
Ele fica em silêncio, me olhando de um jeito que me fez sentir exposta. Era desconfortável, mas também reconfortante de uma forma estranha.
Passei a maior parte da minha infância sendo ensinada por Lucius como me comportar diante de uma mesa de jantar. De como lidar com convidados importantes do ministério. De como chorar não adiantaria em nada. Lembro-me que uma vez eu estava chorando porque uma garota que tinha minha idade, filha de um dos chefes do departamento, tinha puxado meu cabelo. Lucius me chamou de frágil, e que eu deveria saber "me defender" e me vingar daquela garota. Eu sempre fui a filha mais comportada, mais educada e mais sútil, sempre na sombra de Draco. Mas, desde que fiz 13 anos, cansei de esconder em ser quem não sou. A rebeldia antes era uma forma de chamar atenção do meu pai, já que minha mãe sempre me apoiou em quase tudo. Era ela quem vinha conversar comigo depois de eu passar as férias inteiras trancada no meu próprio quarto desejando desaparecer daquela maldita casa escura.
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A Outra Malfoy - Harry Potter
FantasyDiana Grace Malfoy é a irmã gêmea de Draco. Ela nunca se encaixou na própria família e sempre foi julgada por ser uma Malfoy. Em uma tarde, com os seus 11 anos, a garota recebe uma carta para ir à Hogwarts. Apreensiva, e ao mesmo tempo animada, ela...