41. A Morte de Cedric Digory

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Sento-me na beira da cama, sentindo o peso sufocante do Profeta Diário nas minhas mãos. A manchete grita comigo: "Cedric Digory: Vítima de Voldemort e seus Comensais." Não consigo tirar os olhos do nome do meu pai entre os cúmplices. Ele estava lá, de alguma forma ele fez parte disso... e Cedric está morto.

Meu estômago se contorce. É como se uma nuvem negra tivesse se alojado no fundo da minha alma, uma mistura de vergonha e ódio que não consigo dissipar. Vergonha de quem eu sou. Vergonha do sangue que corre em minhas veias. Vergonha do meu sobrenome. Como posso olhar para Harry agora, sabendo que meu pai estava envolvido naquilo? Que, de algum modo, ele ajudou a trazer Voldemort de volta? Cedric morreu, e eu... eu carrego a culpa nos ombros, mesmo sem estar lá. A culpa de carregar o nome Malfoy.

Eu tento me convencer de que tudo é culpa de Harry, que ele devia ter feito algo, ter impedido. Ele deveria ser o herói, não deveria? Mas toda vez que olho para ele, todo machucado e desolado, eu sei. Eu sei que ele não teve escolha. Que ele tentou. E isso só piora as coisas. Eu odeio a situação, odeio o peso que meu nome carrega, mas... não consigo odiá-lo.

— Droga! — soco a cama, frustrada. Lágrimas ameaçam cair, mas eu as seguro. Não posso fraquejar agora. Tenho que ser forte, pelo menos para ir ao funeral de Cedric.

Levanto-me, ajeitando minha blusa. Não consigo tirar da cabeça a imagem de Harry. Ele vai estar lá, de luto por Cedric... enquanto eu fico presa neste turbilhão de emoções que não consigo entender. Vergonha. Raiva. Confusão. Mas o pior de tudo... a sensação de que talvez, só talvez, eu esteja mais conectada a ele do que quero admitir.

Enquanto saio do dormitório e sigo em direção ao salão, o peso do mundo está nos meus ombros, e tudo que posso pensar é em como nunca será o suficiente dizer "sinto muito."

O salão está silencioso quando entro, o peso da perda visível no rosto de todos. As longas mesas foram retiradas, dando espaço a cadeiras enfileiradas, e no centro, uma grande foto de Cedric, sorrindo com aquele jeito que todo mundo conhecia tão bem. Meu peito aperta. Ele não merecia isso. Nenhum de nós merecia isso.

Passo por alguns alunos da Lufa-Lufa, todos com expressões perdidas, em choque. Alguns me olham, e me pergunto se sabem. Se todos já ouviram falar sobre meu pai, se já sussurram pelas costas. O nome Malfoy nunca foi associado a nada de bom, e agora... agora é pior do que nunca.

Draco parecia quase invisível em um dos bancos no canto de uma fileira na direita. Ele está olhando para mim de longe querendo falar alguma coisa, mas não quero ouvi-lo. Meu irmão está disposto a defender Lucius até mesmo nessa situação, agora posso simplesmente evitar uma briga.

Me sento em uma das últimas fileiras, tentando me fazer pequena, invisível. Meu coração bate pesado no peito. Não sei se posso lidar com isso, com as palavras de despedida, com a dor coletiva de Hogwarts. O lugar que sempre foi um refúgio, agora se parece mais com uma prisão. E então, meus olhos encontram Harry, sentado perto da frente, ao lado dos Weasleys.

Ele está ali, imóvel, olhando para a foto de Cedric como se o mundo tivesse desabado aos seus pés. E talvez tenha mesmo. Como ele lida com isso? Ele foi levado àquele cemitério, forçado a assistir Cedric morrer... e ainda assim, está aqui, firme. Não consigo entender como ele continua de pé. Como ele suporta tudo isso.

Uma sensação de raiva e culpa me invade novamente. Raiva por tudo que meu pai fez, pelo que ele representa. Culpada por estar tão perdida em meus próprios sentimentos enquanto Harry carrega o peso de algo infinitamente maior. E, no fundo, há aquela voz que me lembra que não deveria me importar. Mas eu me importo.

As palavras começam, uma homenagem ao Cedric, mas mal consigo ouvi-las. Meus pensamentos estão em conflito. Tento focar em qualquer coisa que não seja Harry, mas é impossível. O jeito que ele segura as próprias mãos, como se estivesse tentando evitar que tremessem. A dor que é evidente em seus olhos. Ele é uma lembrança viva do que aconteceu, de tudo o que eu preferia esquecer.

A Outra Malfoy - Harry PotterOnde histórias criam vida. Descubra agora