Em meio aos becos sombrios do morro, Ana Clara e Dk vivem um amor proibido, inflamado pelo perigo. Ela é filha do dono do morro; ele, um vapor de confiança. Cada encontro é um risco, uma faísca que pode acender a fúria implacável de seu pai. Sabem q...
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Ana Clara narrando🤍
DK e meu pai chegam hoje para nos buscar. Decidi que vou conversar com ele sobre tudo o que está passando na minha cabeça. Preciso colocar as cartas na mesa, mesmo que doa.
Agora são 2h da manhã, e o sono simplesmente não vem. Desligo a televisão, ligo o ar-condicionado e viro para tentar dormir. O silêncio da noite é quebrado por barulhos de passos no quintal de trás. Provavelmente são os vapores fazendo a ronda. Não era para ser nada de mais, mas o som das folhas secas sendo pisadas me incomoda.
Pego o celular e mando uma mensagem para o Breno, chefe da segurança da casa.
📲 Boa noite, Breno. Tem como você pedir para os meninos tentarem não passar aqui embaixo da janela do meu quarto? Estou tentando dormir e me assusto com o barulho das folhas.
Mandei e virei para o canto, tentando relaxar. Só que o barulho muda. Agora os passos estão acelerados. Correria. Algo está errado.
A porta do quarto abre com tudo, e Theo aparece, ofegante.
– Vai, Ana! Corre! Vamos pro cofre!
– Por quê? – pergunto, ainda meio grogue.
– Mais ação e menos pergunta. Anda logo!
Levanto apressada e corro atrás dele. Quando entramos no cofre, minha mãe já está lá, visivelmente tensa.
– O que está acontecendo? – pergunto, tentando controlar a respiração.
– Descobriram aqui – Theo responde, a expressão carregada de tensão.
– Meu Deus... Seu pai sabe? – minha mãe pergunta, a voz trêmula.
– Não sei, acho que não. Ana, foi você que avisou os vapores das movimentações no fundo?
– Sim...
Ouvimos passos do lado de fora. Theo já pega a arma, e minha mãe me puxa para perto dela. Sinto o coração disparar.
Uma voz grave ecoa do outro lado da porta.
– O foco é a Ana.
Meu corpo inteiro começa a tremer. Instintivamente, coloco a mão na barriga e começo a rezar. Rezo como nunca rezei na vida, tentando encontrar forças.
Um barulho seco de tiro atravessa o silêncio. Meu coração quase para. A porta do cofre é aberta com violência.
– Sai vocês duas e foge – ordena uma voz desconhecida.
Minha mãe me puxa pela mão, me guiando para fora. Quando olho para o corredor, vejo algo que nunca vou esquecer: dois corpos caídos no chão, mas, ao lado deles, está meu irmão, Theo, caído em uma poça de sangue.
Dois vapores estão ao lado dele, mexendo no celular.
– Eu não vou deixar meu irmão aqui! – grito, tentando me soltar.
– A médica já tá vindo. Ele tá suave. Esse sangue aqui nem é dele – diz um deles, sem desviar o olhar do celular.
Ainda assim, minha mente se recusa a aceitar. Quero correr até ele, mas sinto um dos vapores me puxando enquanto outro carrega minha mãe, que parece em choque.
Quando percebo, já estamos na sala. Minhas malas e as da minha mãe estão ali, prontas. Eles nos colocam dentro de uma van sem dizer nada.
– Eu quero meu irmão! – insisto, quase gritando, para um dos vapores.
– Ele mandou te entregar isso. Pediu ontem, se acontecesse algo com ele.
Ele me entrega um envelope.
– Então ele estava sentindo... – sussurro, mais para mim mesma.
O vapor não responde. Só me lança um olhar frio e sai. Seguro o envelope nas mãos, mas não consigo abrir. Não tenho forças para lidar com o que quer que esteja ali dentro.
O ódio por essa vida cresce dentro de mim. Odeio tudo isso. Odeio viver nesse caos. Odeio o medo que sinto pelo meu filho.
Minha mãe, que sempre foi forte, toma um remédio para dormir. Provavelmente foi o efeito do remédio que a fez adormecer tão rápido. Encosto minha cabeça na janela da van, exausta, e o sono finalmente me vence.
(...)
Acordo com gritos.
– Sai da van, porra! – alguém berra.
Abro os olhos e vejo dois homens apontando fuzis. Um na minha cabeça, outro diretamente na minha barriga. Levanto as mãos, tentando não provocar mais nada. Eles me puxam para fora e me jogam dentro de um carro. Minha mãe já está lá, com as mãos amarradas e a boca tampada.
Fazem o mesmo comigo. Amarram minhas mãos e tampam minha boca.
Minha mãe tenta gritar, mas um deles coloca um pano molhado na boca dela, e ela desmaia quase imediatamente.
Penso em gritar também, mas a voz não sai.
"Isso não pode estar acontecendo... Não agora. Não comigo."
Antes que pudesse entender mais alguma coisa, senti a visão escurecer.
"Eles não podem fazer isso comigo. Eu estou grá..."