CAPITULO 1 - Luisa

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Olhando para meu ipad, fiquei vagando pelas fotos das últimas semanas. Eu havia passado as férias na casa da minha tia Ellen, no Rio de Janeiro, junto com Larissa, minha priminha de seis anos e meu tio Vagner. Continuei olhando meu álbum, até que apareceu uma foto minha com o Vinicius, em nosso primeiro aniversário de namoro. Eu estava com saudade dele, havia semanas que não nos víamos, e mesmo falando quase todos os dias por telefone não vejo a hora de encontrá-lo.

— Atenção passageiros do vôo 0598 das 17h45min com destino a Curitiba, por favor, se encaminhar ao portão F.

Guardei meu ipad na bolsa e fui caminhando até o portão de embarque enquanto procurava as passagens. Estava tão distraída revirando a bolsa, que nem percebi quando já estava na fila, e sem querer trombei com uma pessoa à minha frente. No baque, deixei minha bolsa cair, mas antes de pegá-la achei melhor me desculpar.

— Eu estava tão distraída que nem olhei para frente. Foi sem querer, me desculpe.

Quando o senhor virou-se para trás, limitou-se apenas a me dar um aceno de cabeça. Tinha a aparência jovem, mas devia ter uns quarenta e cinco anos. Alguns fios já grisalhos, mas com uma cara tão séria e mal-humorada naquele terno, que aquele comportamento o envelhecia uns dez anos.

— Ok, tanto faz. — Seu tom de voz era seco. Ele me olhou com desprezo e virou de costas.

Abri a boca incrédula com a frieza do sujeito. Tudo bem que eu bati nele, mas para que tanta hostilidade? Se soubesse que era um velho carrancudo teria dado uma cotovelada nele, isso sim. Respirei fundo e abaixei para recolher minhas coisas, enquanto reparava que o braço de alguém ao meu lado recolhia meu celular e minha carteira.

Quando ergui o rosto para agradecer meu ajudante, senti que meus pulmões congelaram por alguns segundos. O sujeito era alto – bom, devido ao fato de que eu sou baixinha, todo mundo é alto perto de mim – mas digamos que minha testa acabava onde seu pescoço começava. Fiquei paralisada e um pouco surpreendida com a aproximação, estávamos tão perto que eu podia sentir a sua respiração contra minha pele. Ele me olhava fixamente, com aqueles grandes e lindos olhos claros, e eu me senti presa a eles porque não conseguia desviar o meu olhar.

— Odeio mulher de TPM — ele comentou, finamente interrompendo o momento.

Aquilo me surpreendeu. Pisquei algumas vezes tentando entender o sentido daquela frase, até que ele levantou a mão. Assustei quando vi que havia um absorvente ali com meu celular e a carteira. Alcancei rapidamente minhas coisas de sua mão e coloquei na bolsa. Somente depois de garantir que estava seguro na bolsa, com o zíper fechado e nada que me envergonhasse a vista, é que consegui voltar a encará-lo.

— Ai, minha nossa, me desculpa — eu disse envergonhada abaixando o rosto e escondendo-o em minhas mãos. Com tanta coisa para ele pegar no chão tinha que ser logo isso?

— Não tem problema, desde que você não esteja naqueles dias. As mulheres ficam extremamente chatas em certos períodos.

Fiquei um pouco incomodada com isso, como pode dizer uma coisa dessas? Ele nem me conhecia, e de toda forma é algo um tanto quanto rude para se dizer a uma mulher. Coloquei a mão na cintura e voltei a encará-lo, com o pescoço esticado como se isso fosse me fazer ser mais alta.

— Mas que grosseria.

— Ué, mas por quê? — ele perguntou, me olhando como se fosse eu quem falasse algo de outro mundo. — Para isso estar na sua bolsa deve estar naqueles dias.

— Não que isso seja da sua conta, mas não estou naqueles dias. Toda mulher deve andar prevenida.

— Ah, então quer dizer que não está naqueles dias. Isso é bom. — Ele me olhou animado. Vi sua boca se formar em um sorriso de canto, e logo em seguida arqueou as sobrancelhas.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora