CAPITULO 29 - Vinicius (parte 03)

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Eu havia acordado há pouco tempo, mas não tive coragem de levantar para não despertá-la, apenas sentei encostado na cabeceira e permaneci parado. Luísa dormia tranquilamente ao meu lado, abraçada em seu travesseiro e com muitos fios de cabelo sobre o rosto. Eu os afastei e fiquei olhando para ela, tão linda em seu sono profundo.

A primeira vez que eu a vi, aquela pequena mulher pulando e dançando com os amigos como se não se importasse com as pessoas à sua volta, fez com que eu me apaixonasse por ela. E isso só foi aumentando com o tempo. Ela tinha um coração de ouro, era a pessoa mais sincera, generosa e carinhosa que eu havia conhecido. Eu confiava nela cegamente e sabia que ela jamais mentiria, ela nunca me deu motivos para pensar o contrário, nem mesmo contando aquela história de dormir fora de casa. Ela nunca julgou minhas manias ou meus hábitos estranhos, mesmo que eu soubesse que ela não gostava deles.

Eu sempre fui acostumado a ser sozinho, mas aos poucos ela foi quebrando este muro e invadindo meu espaço. Eu sabia que ela ficava triste ao acordar e não me ver ao seu lado, mas eu sempre gostei de dormir na minha cama e acordar na minha casa para que eu não me atrasasse. Eu sempre foquei tanto na minha independência que isso era um hábito difícil de quebrar. Queria ser bem sucedido no trabalho, ter uma estabilidade financeira, cresci com o pensamento de que o homem deveria ser o responsável pela casa. Por muito tempo eu priorizei o trabalho em vez desta linda mulher deitada ao meu lado, mas esta era a forma como eu funcionava. Se eu queria dar uma vida boa para ela, eu precisava me esforçar. E eu queria que ela tivesse o melhor, ela não merecia menos que o melhor.

Eu a vi se espreguiçar e abrir os olhos. Ela sorriu aquele sorriso lindo e preguiçoso que eu vi poucas vezes, e um arrependimento tomou conta de mim. Eu deveria ter visto mais vezes ela sorrir daquele jeito, deveria ter visto mais vezes ela acordar com a cara amassada do travesseiro, mas eu tinha a esperança que isso seria recompensado na hora certa.

— Bom dia — disse ela, fechando os olhos de novo. — Faz tempo que acordou?

— Não muito.

Eu deitei na cama e a puxei para meus braços, não demorou muito para que sua respiração ficasse regular. Ela era tão preguiçosa de manhã, eu sabia disso, mas vê-la ali lutando para tentar não dormir de novo era algo que me fez sorrir. Eu comecei a passar a mão pelo seu cabelo e ela dormiu novamente, mas desta vez estava em meus braços, e isso era algo que aquecia meu coração.

Nós aproveitamos cada segundo desta viagem, e eu queria que ela gostasse da cidade e mais ainda de estar comigo o dia todo. Isso era algo que eu sempre havia sonhado para nós, e esta ideia estava me corroendo por dentro. Dormir e acordar com ela todos os dias era algo que eu sempre quis, e passar estes quatro dias juntos apenas confirmou isso.

Na noite de terça eu quis levá-la para jantar fora, em um restaurante que me recomendaram. Eu precisava contar a ela sobre meu trabalho e os planos que eu havia feito para nós.

— Este restaurante é muito lindo — disse ela quando eu puxei a cadeira para que se sentasse.

— Espero que a comida seja tão boa quanto à vista.

Nós jantamos e rimos, lembrando-se de tudo o que havíamos visto no carnaval. As músicas que ficaram em nossas cabeças, as cenas engraçadas que presenciamos. Quando a sobremesa veio, eu tomei uma respiração funda.

— Você vai me dizer o que está te incomodando tanto? — perguntou ela.

— Como você sabe que tem algo me incomodando?

Ela deu de ombros e deu mais uma colherada do seu Petit Gateau.

— Você parece ansioso, eu percebi isso desde o primeiro dia, mas achei que você me contaria quando achasse que devia — ela comentou. — Só que desde que chegamos aqui, você parece mais nervoso que o normal, então esta é apenas uma teoria.

Ela havia percebido, então eu não tinha mais o que esconder. Bom, apenas a aliança que eu mantinha em minha mala, mas isso era planos futuros.

— Na semana passada quando chegamos aqui, eu e o Alan ficamos responsáveis de ver como eles iriam implantar os projetos que criamos — eu disse. Ela apenas concordou com a cabeça e continuou comendo sua sobremesa. — Só que no decorrer da semana, eles pediram para gente ficar aqui e acompanhar toda a construção. Ofereceram-nos um cargo de confiança e com maior salário na empresa, para que pudéssemos ficar aqui e dar assistência a eles.

Eu fiquei um pouco nervoso de contar isso a ela, porque isso significava que eu moraria aqui pelos próximos meses, e eu sabia que este seria um grande passo para nós dois. Ela parou de comer, mas não disse nada.

— Este projeto está previsto para ser concluído no final do ano, então eu teria que me mudar para cá pelos próximos meses — eu contei. Ela continuou em silêncio e eu peguei suas mãos nas minhas. — Nós comentamos ano passado sobre a hipótese de morarmos juntos, mas você viajou para a casa dos seus avós e nós nunca mais tocamos no assunto. Eu quero que você pense sobre isso, Lu. Daqui a três meses você se forma, e eu gostaria que você viesse morar comigo. Se não gostarmos daqui podemos voltar para Curitiba.

Sua mão ficou gelada sobre a minha então eu a segurei firme para aquecê-la.

— Eu sei o quanto você se esforça no trabalho, e tenho certeza de que este deve ser um grande passo para você. Então parabéns, amor, toda sua dedicação está sendo recompensada — ela comentou com um sorriso, mas não era um sorriso completo. Eu sabia que ela realmente estava feliz por mim, seus olhos me diziam isso, mas eles não brilharam como eu sabia que eles eram capazes de brilhar. — E quanto a morar aqui, uau, eu ainda não sei o que dizer sobre isso.

Eu não vou negar que isso me deixou desapontado, mas eu esperava que fosse apenas por ter sido pega desprevenida.

— Eu sei que é muito para absorver, mas eu gostaria que você pensasse na minha proposta. É apenas por alguns meses, Lu. Lembre-se de nossos últimos dias juntos, do quanto amou esta cidade e os lugares que visitamos, e principalmente de nós dois finalmente vivendo como um casal. Seria isso em tempo integral, e eu gostaria muito de poder dividir meus dias com você.

Seu sorriso aumentou de um jeito carinhoso e ela apertou minhas mãos, e pensei que isso fosse significar algo bom. Era sinal de que ela realmente havia gostado dos dias que passamos juntos tanto quanto eu gostei. Apostaria todas as minhas fichas que ela pensaria na minha proposta, e daqui a três meses, viria morar comigo para enfim começarmos a viver nossa vida juntos.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora