CAPITULO 41 - Luisa

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O domingo nunca foi tão chato. Marcelo havia me levado para o aeroporto, e por mais que eu soubesse que precisava ir embora, uma parte de mim não queria voltar para Curitiba.

— Me liga quando chegar? — Marcelo perguntou.

Ele passava os polegares pela minha bochecha e me olhava intensamente, como se quisesse guardar cada mínimo detalhe do meu rosto.

— Eu ligo, pode deixar.

No alto-falante foi anunciado a última chamava para meu voo, os ombros de Marcelo caíram e meu coração se apertou. Fiquei na ponta dos pés e puxei seu rosto para o meu. Minha língua procurou pela dele e elas se misturaram com necessidade. Era triste pensar que esta seria a última vez que seus lábios tocariam os meus por um tempo, e isso fez o beijo ser demorado. Era como se não quiséssemos nos separar. Ele passou os braços sobre minhas costas e me levantou do chão. Eu passei as pernas sobre sua cintura e o abracei apertado pelo pescoço. Ele me colocou no chão e eu fui andando de costas até a porta de embarque. Acenei para ele e caminhei para o avião.

Carol e Rafa estavam lá me esperando quando eu desembarquei. Assim que vi o Rafa corri para seus braços. Ele me segurou e passou a mão por meus cabelos.

— O que aconteceu? — ele perguntou.

Carol veio para o meu lado e me abraçou também. Eu não sabia o que estava acontecendo comigo, o dia todo eu parecia estar engolindo o choro. Eu sentia um aperto no peito a cada vez que pensava em me afastar do Marcelo. Passar os últimos dias com ele me deixou extremamente feliz, e agora eu estava lamentando não estar mais ao lado dele. As lágrimas vieram antes que eu pudesse impedir.

— Eu estou começando a ficar preocupada — Carol comentou. — O que aconteceu com você?

— Eu me apaixonei — admiti. — Eu não queria ir embora de lá, eu acabei de descobrir o amor de um jeito totalmente louco, e eu não queria que acabasse.

Rafa me abraçou mais apertado e Carol beijou minha bochecha repetidas vezes tentando me acalmar. O celular no meu bolso vibrou e eu sabia que era Marcelo. Eu não queria atendê-lo com essa voz de choro.

— Atende pra mim? — pedi para Carol entregando a ela meu celular.

Ela observou o celular por um tempo antes de pegá-lo.

— Ela é nossa agora, cai fora. — Eu ri da forma como ela havia atendido o celular. — Sim, ela desembarcou e já estamos com ela. — Ela me olhou com atenção, ouvindo Marcelo. — Para que você quer falar com ela? Fale comigo, eu sou mais legal.

Rafa enxugou meu rosto com seus dedos e respirou fundo comigo, para ajudar a me acalmar. Virei para o lado e Carol estava segurando o celular com a mão esticada para mim.

— Oi — eu disse, tentando soar mais firme do que realmente estava.

— Hey, fez uma viagem tranquila?

Ouvir sua voz me acalmou.

— Fiz sim.

— Tá tudo bem?

— Sim.

— Eu te conheço, pequena, sua voz está estranha — ele comentou do outro lado da linha. — Aconteceu alguma vez?

Eu respirei fundo.

— Vai me achar idiota se eu falar que já estou com saudade?

— Não, eu estou com saudade também, estava acostumado a ter você o dia todo.

— Eu também.

— Eu te falei para não ir embora, a culpa é sua, faz tudo errado.

Eu ri da sua acusação.

— Da próxima vez eu vou te ouvir.

Ele suspirou e eu me virei para Carol e Rafa, que me olhavam espantados.

— Eu vou pra Curitiba em breve, prometo.

— Tá, vou ficar esperando.

— Se cuida, pequena, me liga a hora que quiser.

— Você também.

Eu desliguei o telefone e a avalanche de choro me invadiu de novo. Carol me abraçou e Rafa pegou minha mala. Fomos para o meu apartamento e eu contei tudo a eles. Desde a viagem e suas perseguições, até todos os últimos dias juntos. Suas expressões alternavam entre espanto e felicidade. Eu também me surpreendi com minhas atitudes, mas gostei da nova versão da Luísa.

— Uau, eu nem sei o que o que dizer — admitiu Rafa. — É surreal tudo o que você me contou, mas eu estou tão feliz por você.

Carol me olhou com lágrimas nos olhos, assim como eu.

— Eu nunca vi você falar desse jeito, tão empolgada e emotiva sobre uma pessoa. Vinicius que me desculpe, mas eu tenho que concordar com o Rafa, eu estou muito feliz por você descobrir essa coisa toda com o Marcelo.

Eles me abraçaram e me confortaram até que eu me acalmasse de verdade. Eu ainda não amava Marcelo, era impossível amá-lo em uma semana, mas eu definitivamente havia me apaixonado por ele. Por seu olhar, seu cheiro, sua voz grogue de manhã. Dormir sozinha hoje seria difícil.

— Você vai me contar o que aconteceu com você e o Biel? — perguntei.

— Não aconteceu nada, eu já disse.

— Ele já confessou que vocês transaram, tá mentindo por quê?

Rafa me olhou espantado e se virou para a Carol, que estava corada.

— Como é que você sabe? — ela perguntou.

— Tenho meus métodos.

Rafa riu.

— Eu sabia que você estava escondendo alguma coisa — ele comentou.

Carol escondeu o rosto nas mãos.

— Eu não sei o que falar. Eu fiquei preocupada com ele, então fui até o apartamento ver como ele estava. Eu estava tentando consolá-lo, mas papo vai e papo vem, quando me dei conta estávamos no quarto dele — ela admitiu. — Foi estranho, nós não falamos nada, simplesmente aconteceu. Quando eu acordei não tive coragem de ver a cara dele, então sai de lá correndo.

Eu e Rafa nos entreolhamos.

— Rebobina — eu pedi. — Você foi embora na manhã seguinte sem falar com ele? E o que vocês conversaram depois?

— Não conversamos. Ele me ligou naquela manhã, mas eu não atendi, e desde então não nos falamos mais.

Rafa assoviou.

— Uau, quer dizer, você não gostou ou o quê?

— Foi diferente com ele. Eu não sou nenhuma puritana, vocês sabem. Mas, nunca tive tanta conexão com alguém como tive com ele. Foi diferente.

— Diferente bom ou ruim? — eu quis saber.

— Diferente bom, muito bom.

Nós permanecemos calados por um tempo. Rafa veio para nosso meio e passou o braço sobre nossos ombros, nos puxando.

— Como se fossem gêmeas siamesas, minhas meninas descobriram o amor juntas. Que ironia.

Eu ri e Carol nos olhou em pânico, negando com a cabeça. Era engraçado que aquilo havia acontecido, e minha amiga definitivamente teria muito que resolver com o Biel quando tomasse coragem. Eu só esperava que ela não fosse tão lerda como eu e não demorasse tanto.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora