CAPITULO 29 - Luisa (parte 04)

14.4K 979 53
                                    

— Bom dia, amor — disse Vinicius ao sair do banho.

Eu me levantei e fui até ele, beijando-o rapidamente.

— Bom dia. Vou tomar um banho rapidinho e nós já descemos para comer.

Aproveitei meu momento sozinha no banho, para deixar que a água me acalmasse e assim pudesse organizar meus pensamentos. Eu estava me acostumando a acordar os últimos dias ao lado de Vinicius, descer para tomar café da manhã juntos, passar o dia ao seu lado e conhecer a cidade. Era a primeira vez que fazíamos uma viagem apenas nós dois, sempre que viajávamos eram com nossos amigos. Agora eu entendia um pouco mais do motivo que ele queria tanto que eu conhecesse a cidade e me apaixonasse por ela. Sua proposta havia me surpreendido, eu sabia o quanto ele era esforçado no trabalho e que isso um dia seria recompensado. Eu só não sabia que seria desta forma. Não pude deixar de ficar feliz por ele, e ele mais do que ninguém merecia esse reconhecimento, mas me mudar de Curitiba era algo que eu não havia planejado. Minha família, meus amigos, minha vida parecia estar lá, mudar era algo que me assustava.

Estávamos descendo para o café da manhã quando meu celular tocou, com o nome do Fernando na tela.

— Alô.

— Bom dia, querida. Espero que não tenha te acordado.

— Não, eu já estava acordada. Aconteceu alguma coisa?

— Sim, mas eu não quero estragar seu dia, então quando você chegar amanhã o pessoal irá te contar tudo o que aconteceu. Eu só queria saber se você poderia faltar à faculdade na próxima semana para uma viagem, nós precisamos que alguém viaje com o Marcelo para visitar alguns de nossos clientes.

Aquilo me deixou preocupada e eu queria perguntar o que havia acontecido, mas eu ligaria para o Marcelo à noite para que ele me esclarecesse tudo.

— Eu posso conversar com meu orientador, acredito que não terá nenhum problema.

Ele soltou um suspiro aliviado do outro lado da linha.

— Que maravilha — exclamou ele. — Eu já vou pedir para a Carla deixar todas as passagens e hospedagens de vocês prontas. Alguém daqui de Curitiba teria que acompanhá-lo, e você é a pessoa ideal. Não se preocupe que vou reajustar seu salário com todas estas viagens e tudo o que está fazendo por nós ultimamente. Eu preciso desligar, querida, faça uma boa viagem.

Eu desliguei o telefone e fiquei olhando para ele, ainda confusa com aquela ligação. Algo havia acontecido e fiquei chateada que ninguém havia me ligado para avisar. Eu percebia meus amigos ausentes nos últimos dias, mas eu pensava que era porque estavam aproveitando o carnaval.

— O que aconteceu? — perguntou Vinicius ao meu lado. — Está tudo bem?

— Sim, era Fernando perguntando se eu poderia faltar à faculdade na semana que vem, parece que surgiu um problema no escritório e ele precisa que eu viaje.

Ele sorriu para mim antes de me oferecer um prato.

— Estou feliz por você, esta lá há pouco mais de um mês e eles já confiam muito no seu trabalho. Está vendo? Você é capaz, tenho certeza que encontrará algo aqui também.

Eu sorri, mas não com tanta confiança. Claro que não havia garantias de que eu permaneceria como advogada na SMD depois que me formasse, mas seria muito mais difícil começar do zero em outra cidade. Ao menos uma coisa ainda me reconfortava em toda aquela decisão, nada era definitivo, como ele havia mencionado, e se não nos habituássemos, poderíamos voltar. E era a essa ideia que eu iria me apegar.

O meu voo estava marcado para às três horas da tarde, nós havíamos combinado de aproveitar nosso último almoço juntos em um restaurante de frutos do mar, e ele me levaria ao aeroporto. Eu havia enviado várias mensagens no grupo do escritório, mas ninguém me respondeu. As únicas pessoas que me responderam foram o Rafa e a Carol, no nosso próprio grupo, e eles apenas mencionaram que tinham descoberto alguma coisa da Jessica e que os meninos haviam voltado antes para Curitiba resolver problemas no escritório. As pessoas me mantiveram no limbo, e aquilo estava começando a me incomodar. Na saída do restaurante, Vinicius acenou para um grupo de homens.

— São os sócios da empresa, vou te apresentar para eles — sussurrou ele quando nos aproximamos. — Olá senhores, boa tarde.

Dois deles eram mais velhos, já com alguns fios grisalhos. O terceiro era mais novo, mas eu via muita semelhança dele com um dos homens mais velhos, ele provavelmente era filho de um deles. Quando Vinicius me apresentou, um chamava Mendes, o outro Moura, e o mais novo foi apresentado como Moura Júnior, confirmando minhas teorias.

— Que adorável, sua namorada — comentou o senhor Moura. — Você já conhecia Pernambuco, querida?

— Não, primeira vez.

— E o que achou?

— Eu me apaixonei pela praia, nunca vi água tão linda e clara antes. Mas, confesso que o calor é algo que estranhei muito.

Todos eles riram e o senhor Mendes acenou.

— Posso entender, eu também estranhei muito quando fui para o Sul, principalmente à noite.

Eles começaram alguma conversa sobre os projetos deles e fiquei olhando meu celular algumas vezes na esperança de que alguém me respondesse ou retornasse minhas ligações.

— Precisamos ir, se não vou me atrasar para o voo — disse para Vinicius e olhei para os homens à minha frente. — Foi um prazer conhecê-los, mas eu realmente preciso ir, meu voo é daqui à uma hora e preciso passar no hotel pegar minhas malas.

Os Moura assentiram e o senhor Mendes pegou na minha mão.

— Faça uma boa viagem, querida, e espero que se acostume ao calor e se junte a nós o quanto antes. Vinicius já nos contou que você irá se mudar quando se formar.

Como assim, já contou que eu vou me mudar? Eu nem confirmei nada ainda. Olhei para meu namorado em busca de alguma resposta, mas ele fingia estar se despedindo do Júnior.

— Muito obrigada, senhor Mendes. E quanto a me mudar ainda estou pensando, tenho três meses para me decidir.

Desta vez foi ele que me olhou estranho.

— Pensei que já estivesse certo, Vinicius até chegou a ver algumas casas que estão à venda com a minha corretora esta semana — contou ele antes de bater na minha mão mais uma vez. — Então pense com carinho e venha acompanhar seu namorado, vocês vão amar morar aqui.

Eles se despediram e seguimos para o hotel. Quando estávamos a uma distância segura, soltei a mão de Vinicius e o encarei.

— Então quer dizer que eu vou me mudar? Eu pensei que era algo que eu deveria pensar.

Vinicius tentou segurar minha mão de novo e eu me afastei, cruzando os braços.

— Ele deve ter entendido errado, eu disse que iria falar para você vir, ele pode ter pensado que você já tinha aceitado.

— Sei, e que história é essa de ver casa para comprar? Sei que não vai ficar em hotel durante os meses que ficar aqui, mas você vai comprar uma casa? E se a gente não vier pra cá? Vai vender no final do ano?

— Era para alugar, eu não vou comprar uma casa. Estava apenas vendo, para então quem sabe ano que vem nós comprarmos uma.

— Eu não sei nem o que vou fazer amanhã, Vinicius, que dirá no ano que vem. Você não pode sair falando que vou me mudar, se eu soube disso ontem. Não pode comprar uma casa se não sabemos nem se vamos morar aqui.

Ele tentou se aproximar mais uma vez.

— Luísa, aqui não é lugar para conversar, você está chamando atenção.

— E daí? As pessoas não veem namorados brigando? Eu nem estou te batendo ou gritando com você.

Ele riu, uma risada irônica, e começou a me conduzir pela calçada.

— Vamos para o hotel, você vai se atrasar — disse ele ao meu lado. — E seu comportamento agora não foi nada bonito, aliás, foi muito rude da sua parte ficar vendo o celular.

— Ah, e você queria que eu falasse algo que eu não entendia? Sobre construções e pedreiros? A única coisa que eu sei sobre pedreiros são cantadas. Queria que eu começasse a falar cantadas de pedreiros para interagir?

Ele balançou a cabeça reprovando minha resposta e eu dei de ombros. Eu não estava nem aí, estava brava e azar o dele se não gostava.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora