CAPITULO 35 - Luisa (parte 02)

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Eu deixei que ele segurasse e o abracei também, passando meus braços em volta do seu pescoço. Ficamos por um longo tempo daquele jeito, guardando este momento para nós.

— Eu acho que devemos sair, seus dedos já estão enrugados iguais os da minha vó.

Um sorriso escapou de meus lábios ao ouvi-lo. Ele permanecia me olhando daquela forma que fazia meu corpo todo virar uma bagunça, mas por mais que eu tentasse odiar, eu amava aquele olhar. Nós voltamos para a pedra onde estavam nossas coisas e deitamos esperando o sol nos aquecer e nos secar. Voltamos para o carro e nos enrolamos nas toalhas que Marcelo trouxe.

— Eu quase morri congelada hoje, meus dedos ainda estão enrugados, e perdi a conta de quantos pernilongos morderam minha perna — contei rindo. — Mas, foi uma tarde maravilhosa. Obrigada por nos levar lá.

— Mesmo sendo lerda para caminhar você foi uma boa companhia.

Eu bati em seu braço.

— Eu fui ótima.

Era fim de tarde e o sol já estava se pondo, os carros já estavam com os faróis ligados. Na pista ao lado alguns dos motoristas começaram a passar por nós, fazendo sinal com as luzes.

— O que será que é? — eu perguntei.

— Talvez seja alguma blitz logo à frente.

— Vai devagar então.

Quando fizemos a curva foi que eu entendi porque os motoristas estavam nos avisando de algo na estrada. Havia um caminhão tombado e um carro logo à frente todo amassado, com destroços na pista. Nós deveríamos ir devagar e com cuidado, mas, ao contrário do esperado, Marcelo acelerou. Ele desviou de um pneu que havia na nossa pista e fez a curva mais rápida do que o normal. Olhei para o lado apenas para vê-lo segurar o volante tão forte que seus dedos estavam brancos.

— Marcelo, diminui — eu pedi.

Seus olhos não desviavam do para-brisa, mas não parecia enxergar um palmo à sua frente, ele estava muito longe dali. Eu me agarrei à porta na segunda curva e todo meu corpo foi jogado para o lado.

— Marcelo, por favor, encosta esse carro.

Quanto mais eu pedia, mais ele acelerava. O marcador já estava passando de 180 km por hora, e eu senti meu corpo colado ao banco.

— Nós vamos bater — eu gritei. — Você quer morrer? Marcelo, por favor, encosta a porcaria desse carro.

Ele piscou, como se finalmente tivesse saído do transe e jogou o carro no encostamento. Ele freou tão bruscamente que eu pude sentir o cheiro de borracha queimada. O carro parou, mas ele continuou segurando o volante e olhando para frente, como se fechar os olhos ou até mesmo piscar fosse algo difícil. Sua respiração estava pesada, eu podia ver seu peito subindo e descendo de forma irregular. Aos poucos, tudo começou a fazer sentido.

— Marcelo, fala comigo — pedi ao colocar minha mão sobre a sua, que estava mais gelada do que quando saímos da água. — Ei, fala comigo, por favor.

— Eu não — ele começou com sussurrou — eu não consigo, me desculpa.

Seus olhos fecharam e ele encostou a cabeça no banco. Seu rosto estava contorcido, como se realmente estivesse sendo ferido, e a dor era demais para suportar. Eu não aguentei vê-lo daquela forma e soltei meu cinto. Eu lutei com suas mãos, que não queriam soltar do volante e finalmente sentei em seu colo e o abracei. Ele demorou a reagir, mas me abraçou com força logo em seguida, chorando no meu pescoço. Eu respirei fundo tentando me controlar, pois minha vontade era de chorar junto com ele.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora