CAPITULO 7 - Luisa

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— Mãe! — eu gritei do corredor quando entrei na casa.

— Na cozinha — ela gritou em resposta.

Assim que cheguei à cozinha, vi minha mãe mexendo na panela em frente ao fogão, e meu padrasto estava descascando ovos no balcão a seu lado. Ela conheceu Luciano há doze anos. Ele é daqui de Curitiba, mas tem irmãs lá em Maringá, onde morávamos e onde conheceu minha mãe. Ele era divorciado na época, sem filhos, e então dois anos depois de um relacionamento à distância, eles se casaram e nós nos mudamos para cá. Por mais que eu já tivesse 14 anos quando nos mudamos, meu padrasto e eu criamos um vínculo muito forte. Ele nunca impôs substituir o lugar de pai em minha vida, mas ele acabou fazendo isso sem perceber. Hoje em dia não poderia imaginar uma figura paterna melhor para mim.

— Ei, pai.

Ele enxugou as mãos em um guardanapo de pano e me abraçou.

— Um bom filho a casa torna.

— Quem te ouve pensa que eu abandonei vocês, né?

— Você passou o mês fora, eu me senti abandonado — ele comentou dando de ombros.

— Eu imagino. Te deixar sozinho com a Dona Sônia não foi fácil?

Ele olhou para mim colocando a mão em seu coração.

— Ela estava chorando para todo lado, e toda carente. Eu estava quase implorando para vir tirá-la da depressão. — Ele encenou de forma tão dramática que eu não pude deixar de rir.

— Ei, eu posso ouvir vocês, ok? — mamãe nos interrompeu do fogão. — E eu não estava depressiva, só sentia falta do meu bebê.

Meu pai apertou minhas bochechas com essa declaração.

— Bebê da mamãe.

Eu bati em seu braço e fui até o fogão.

Mamãe largou sua colher sobre a pia e me puxou para seus braços.

— Que saudade eu fiquei, está proibida de passar mais de duas semanas longe de casa.

— Eu prometo não ficar longe por tanto tempo — respondi retribuindo seu abraço e me mantive ali.

Algum tempo depois eu ouvi meu pai arranhar sua garganta, chamando nossa atenção.

— Vem garota, me ajuda a descascar os ovos para a sua maionese.

Quando nos desvinculamos, mamãe voltou para o fogão e eu fui lavar as mãos para ajudar meu pai. Era comum para nós pelo menos uma vez por mês cozinharmos juntos. Mesmo que eu tivesse meu próprio apartamento, eu gostava de vir aqui visitá-los. Antes de me sentar com eles à mesa, liguei para Vinicius.

— Oi, Lu — ele disse do outro lado da linha.

— Já está chegando?

Escutei uma respiração profunda do outro lado da linha, e sabia que tinha algo errado.

— Acabei esquecendo, me desculpa. Faz tempo que está ai? — ele perguntou, e no mesmo momento eu já fechei os olhos respirando fundo. — Já serviram o almoço?

— Eu não acredito que você não vem. Ela vai servir o almoço agora, eu cheguei quase uma hora atrás. Eu te mandei mensagem avisando hoje de manhã. Não viu?

— Eu não vi, acabei me distraindo com os relatórios dos projetos aqui. — Ouvi ao fundo uma papelada sendo mexida. — Temos tantas propostas para estudar, tem Eólicas que estão abrindo, e tem contas que estou estudando, parecem bem interessantes. Lu, tem muito dinheiro envolvido, eles estão precisando de engenheiros e...

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora