CAPITULO 8 - Marcelo

18K 1.1K 28
                                    

Logo cedo fui buscar Lucas com o Gabriel, era meu último dia aqui, então tínhamos muitas coisas para fazer antes do meu voo. Quando chegamos ao shopping, Lucas foi direto para o McDonalds, enquanto eu e Gabriel optamos por massas. Eu ainda não sabia o que fazer em relação ao Lucas. Eu queria estar mais presente, mas não via como fazer isso. Meu trabalho estava todo no Rio, e eu não queria voltar a esta cidade. Mas ao mesmo tempo, sabia que infelizmente levá-lo comigo não era uma opção. Ele tinha muito a perder saindo daqui.

— Ei, o que acha? — Gabriel me perguntou.

— Desculpa cara, o que?

— Estamos falando de ir à livraria depois de almoçar. Depois podemos ir ao Park Barigui jogar futebol.

Concordei com um aceno e me virei para Lucas, que apenas balançou a cabeça enquanto devorava seu lanche. Eu e Gabriel nos olhamos e atacamos suas batatas fritas, mas ele rapidamente pegou a embalagem e a escondeu em seus braços.

— Deixa de ser guloso, cara — Gabriel resmungou rindo.

— Vocês sempre fazem isso. Por que não compram uma para vocês?

Assim que terminamos de comer, nós fomos à livraria. Enquanto eu e o Gabriel conferíamos a lista de material que a atendente da loja reuniu, Lucas foi jogar a embalagem do sorvete no lixo. Quando retornou ao nosso lado estava ofegante.

— O que eu disse sobre correr? — perguntei. — Vai acabar batendo em alguém ou se machucando.

— Eu bati em uma mulher — Lucas contou. — Mas ela era gente boa.

Gabriel levantou as sobrancelhas rindo.

— Gata?

— Eu sei lá, para vocês acho que era.

Eu olhei para ele com curiosidade.

— E para você, não?

— Até era — Lucas respondeu dando de ombros. — Morena. Eu gosto de morenas. Mas, era velha pra mim.

— E você nem quis dar uma piscada para ela? — Gabriel perguntou, bagunçando o cabelo de Lucas.

Enquanto íamos em direção à vaga no estacionamento, um carro passou à nossa frente fazendo a curva. Eu ouvi risos no interior do veículo e no momento em que vi o rosto ao lado do banco do motorista, eu a reconheci. Era a mesma morena do aeroporto, e ela estava gargalhando junto com as pessoas do carro, mas eu me foquei apenas no som que ela transmitia. Eu fiquei um tempo admirando a cena, e era incrivelmente lindo de ver. De seus olhos escorriam lágrimas enquanto suas mãos abanavam seu rosto, e instantaneamente eu sorri. O som daquela risada, a forma como ela secava a lágrima e como ela transbordava alegria e beleza naquele ato, me deram uma sensação boa. Foi quase como um arrepio, ou um aperto no estômago. Por mais idiota que isso seja, me trouxe uma grande paz presenciar aquilo. Eu não tinha visto seu riso da outra vez, mas se eu tivesse a sorte de encontrá-la de novo, iria me certificar de fazê-la rir.

— Do que você está rindo? — Lucas perguntou.

— Nada garoto, vamos para o carro — respondi.

— Eu vi — Gabriel disse a caminho do carro. Eu apenas dei de ombros e o ignorei.

Assim que chegamos ao apartamento, Lucas foi direto ao meu quarto pegar a bola. Eu dividia o apartamento com meu primo. Bom, em termos. Eu tinha um quarto aqui, que eu usava uma vez por mês quando eu aparecia em Curitiba. Passamos à tarde no Park jogando futebol, e por sorte tinha sol. Como era começo de semana não tinha quase ninguém, então chutamos bola e corremos para todo lado. Foi uma tarde tranquila, e adorei ver Lucas tão relaxado e alegre a todo o momento. Fui buscar três garrafinhas de água e fiquei observando-o enquanto jogava com o Gabriel, a risada dele enchia meu peito. Eu amava aquele garoto, daria minha vida por ele se fosse preciso.

— Ei parceiro, chega por hoje — eu falei ao me aproximar e entreguei uma garrafinha de água para Lucas. — Vá descansar um pouco na sombra e toma bastante água.

Ele pegou a garrafinha de água da minha mão e correu ver os cisnes. Gabriel se aproximou ao meu lado, e apoiou as mãos nos joelhos.

— Ele cansa a gente.

— Eu que o diga, não sei como ele acumula tanta energia — respondi e lhe entreguei uma água.

— Já pensou no que fazer?

— Ainda não — admiti olhando para Lucas perto do lago. — Primeiro eu preciso confirmar essa gravidez da Letícia, e ver se as coisas melhoram entre eles.

— Eu acho que ela não contou para ninguém ainda.

— Também acho que não, não comente com a vovó.

— Não vou. Eu acho que é só uma fase, ele deve estar com ciúme, mas não quer admitir. Não dá para você levá-lo, o certo seria você voltar.

— Me conte uma novidade — respondi sarcasticamente.

— Eu sei o que essa cidade representa para você, sei o quanto odeia isso aqui. Mas, por ele, ok? Pense no Lucas.

— Eu vou tentar.

Nós voltamos ao apartamento para tomar um banho rápido e pegar minhas malas. Lucas quis ir junto me levar ao aeroporto, e assim que fiz o check-in ele me abraçou apertado.

— E eu vou voltar logo. Não é daqui a duas semanas seu torneio do futebol?

— Sim! — ele gritou e seus olhos brilharam de alegria. — Você vai vir?

— É claro que eu vou, não posso perder, acho bom treinar bastante pra fazer bonito.

Ele concordou com a cabeça e me soltou. Bati na mão de Gabriel em cumprimento e lhe dei um abraço rápido.

— Cuida do meu garoto, cara. Mantenha os olhos nele — pedi antes de me afastar. — Qualquer coisa que você souber, por favor, me avisa ok?

— Fica tranquilo, vou te manter informado.

— Valeu, Biel.

Acenei para eles enquanto me direcionava a plataforma e embarquei. Deitei minha cabeça na poltrona e fechei meus olhos tentando relaxar. Vir aqui sempre me desgastava, e era cada vez mais difícil ir embora. Estava na hora de ser responsável, se não por mim, então por ele. Lucas precisava de mim, e eu precisava manter isso em mente.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora