CAPITULO 38 - Marcelo (parte 02)

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Ter Luísa finalmente em meus braços ainda era diferente, embora eu nunca tivesse me sentido tão à vontade em toda minha vida com alguém. Seus olhos sempre me transmitiram compreensão e conforto, e agora eu podia comprovar isso. Desde a ligação do Lucas ontem, ela percebeu a mudança do meu comportamento, e em momento algum me pressionou para que eu contasse o que aconteceu, apenas me abraçou e esteve ali para mim. Eu sabia que eu podia contar a ela tudo sobre mim, cada vez mais eu sentia essa necessidade de compartilhar tudo com ela, eu só queria esperar mais um tempo para ter certeza. Eu não costumava me abrir às pessoas, falar sobre meu passado sempre foi algo difícil para mim. Eu esperava que quando ela soubesse de tudo, tornasse mais fácil.

— E então, aonde nós vamos? — ela perguntou saindo do banheiro.

Ela ainda não aceitava tomar banho comigo, mas isso não era algo que eu iria desistir fácil, era apenas algo que eu seria paciente. Por enquanto.

— Nós temos o dia livre hoje, pensei que poderíamos conhecer um pouco a cidade. Aluguei algo para a gente andar.

Ela me olhou rindo, ainda secando o cabelo molhado com a toalha.

— Algo? Não é um carro?

Eu neguei com a cabeça e não disse nada. Depois da tarde no buggy eu vi que ela gostava de velocidade, pensei que hoje poderíamos andar de moto para ela conhecer a adrenalina sobre duas rodas nas estradas. Descemos no hotel e uma Yamaha preta estava na porta. Ela ficou olhando para a moto por um tempo e seus olhos brilharam, talvez a minha pequena fosse uma amante de duas rodas também.

— Por favor, por favor, diga que esta moto é nossa — ela pedia juntando as mãos e me olhando com expectativa.

— Se eu disser que é, o que eu ganho em troca?

Mais rápido do que eu pensei ela pulou no meu colo, circulando minha cintura com suas pernas pequenas e puxando meu rosto em suas mãos. Ela distribuiu beijos por todo meu rosto, exatamente como fez esta manhã, mas de um jeito mais louco. Um jeito mais Luísa.

— Se eu soubesse que receberia tudo isso por te levar na garupa de uma moto, não teria alugado os carros — comentei rindo, enquanto ela ainda me beijava.

Eu a levei em meu colo e a sentei na moto. Achei engraçado quando coloquei o capacete nela, e observei que mesmo com aquela coisa enorme na cabeça ela continuava linda. Sentei-me colocando meu capacete, e antes de ligar a moto suas mãos circularam meu corpo para se segurar. Não sabia para onde íamos, eu só queria poder acelerar e não me preocupar com carros. Eu amo moto desde que tive tamanho suficiente para ficar andar sobre uma e não deixá-la cair. Sentir a velocidade sobre minhas mãos, a inclinação do meu corpo a cada curva, o vento batendo em meu rosto, este era o tipo de adrenalina que sempre me deu a sensação de liberdade. Viver sobre duas rodas sempre me acalmou quando tudo parecia difícil. Depois de alguns minutos eu parei na beira de estrada, próximo a uma ponte onde poderíamos ver ao longe o horizonte e o pôr do sol.

Luísa desceu da moto e foi para o meu lado. Eu retirei o capacete dela e seu sorriso era ainda maior do que quando ela subiu. Minha pequena definitivamente compartilhava amor sobre duas rodas comigo.

— Você corre muito — ela comentou.

Eu desci da moto também e retirei meu capacete, parando em frente a ela. Quase como se estivessem em sintonia, seus braços circularam meu pescoço no momento em que eu a ergui em meu colo. Eu a sentei sobre a moto e tirei os cabelos bagunçados de seu rosto.

— E você ficou com medo? — eu perguntei. — Pensei que gostava de velocidade.

Ela negou com a cabeça, beijando meus lábios rapidamente.

— Não estou reclamando, eu gosto. Sempre gostei de motos, mas nunca aprendi a dirigir.

— Quer que eu te ensine?

— Você tem uma moto para me ensinar? — Havia algo em sua voz, uma mistura de excitação e medo.

— Lá no Rio, sim, se você tivesse reparado na minha garagem, ia ver que no fundo tem uma moto, encostada na parede.

— Eu não reparei, mas que bom que estamos indo para lá este final de semana.

Quanto mais eu a conhecia, mais eu queria a conhecer. Eu percebi que ela estava bem mais leve e descontraída comigo. Esta era a Luísa que eu sempre soube que estava escondida dentro dela, curiosa e cheia de vida.

— E então, como você está? — eu perguntei. — Está tudo bem com tudo o que esta acontecendo? Não desistiu ainda?

— Às vezes você é idiota, mas eu acho que vou me acostumar com isso.

Eu segurei suas bochechas em minhas mãos e juntei seus lábios antes de beijá-la. Nós voltamos para a estrada de volta ao hotel, mas desta vez eu não corri. Eu queria aproveitar seus braços à minha volta e aquela sensação de tranquilidade que tomava meu peito. Há muito tempo eu não me sentia assim, e iria prorrogar o máximo que podia.

Pedimos pizza para jantar e comemos no quarto mesmo. Eu não queria dividi-la com o resto do mundo ainda, e para minha sorte, ela partilhou da mesma opinião. Suas pernas e braços tomavam vida própria, era só eu deitar na cama que eles me cercavam. Era tão engraçado que há poucos dias tínhamos tanto cuidado de não tocar um ao outro de forma errada, e agora sempre que podíamos estávamos nos tocando.

— Boa noite — ela sussurrou. — Tenha bons sonhos.

Eu a apertei em meus braços e beijei sua cabeça.

— Você também, pequena.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora