CAPITULO 6 - Marcelo

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No domingo de manhã, assim que tirei meus fones de ouvido quando cheguei da corrida no parque, a porta da sala abriu de repente com uma Hilda muito sorridente. Ela carregava em suas mãos uma grande travessa de vidro, e rapidamente corri para ajudá-la. Vovó tinha o cabelo louro, ondulado até os ombros, seus olhos tão azuis quanto os meus, mas em torno deles seu rosto já estava marcado com rugas da experiência. Assim que ela me viu, seu sorriso aumentou, e era inevitável que eu não sorrisse também.

— Oi, vó.

Eu me aproximei pegando a travessa de vidro de suas mãos e em seguida lhe dando um beijo na bochecha.

— Oi, meu querido. Como você está?

— Estou bem, e a senhora? — eu perguntei indo para a cozinha, colocando a travessa sobre a bancada.

— Estou ótima, mas já estava com saudade.

— Eu estive aqui há menos de três semanas, vó.

Ela pegou meu braço e me puxou para a sala, sentando-se no sofá e me levando com ela.

— Eu sei, mas me deu saudade do mesmo jeito. Como você passou o natal e o ano novo? Eu vi suas fotos naquele Facebook, você estava tão feliz, sorrindo para as fotos. — Ela passou sua mão em meu rosto enquanto me encarava, era muito intimidador quando ela ficava me analisando desta forma. — Você está feliz?

— Eu estou, não precisa se preocupar. O Rio me fez bem, conheci grandes amigos lá.

— Eu sei, querido, eu sei. Mas, eu sempre vou me preocupar com você. Eu queria que você voltasse a morar aqui, gosto dos meus netos sob meus cuidados e meus olhos, e não lá em outro estado.

— Não vamos começar tudo isso de novo, ok? Lá também tenho amigos e pessoas para ficarem de olho em mim. É só que, nesta cidade... — comecei, olhando para o chão — eu não posso, vovó, pelo menos não ainda.

— Tudo bem, não vou insistir. Faça o que for melhor para você. — Ela pegou meu rosto e me obrigou a olhá-la. — Mas, você sabe que não foi sua culpa, não é?

Eu suspirei audivelmente e fechei meus olhos. Era exatamente por isso que eu odiava esta cidade. Ninguém ali me deixava esquecer o que tinha acontecido, e por mais que eu amasse minha avó, me frustrava facilmente com ela.

— Vovó, por favor. Eu não quero falar sobre isso, ok? Não me faça me arrepender de ter vindo vê-la.

— Ok, ok. Já não está mais aqui quem falou. — Ela soltou meu rosto se rendendo. — Cadê o Bielzinho?

— Acho que ainda deve estar dormindo, ele me levou para conhecer o Nelli's ontem.

— E o que achou? Você gostou? — ela perguntou com um enorme sorriso nos lábios. — Eu fiquei tão orgulhosa pela iniciativa deles, espero que aquilo dê certo. Eu estava comentando ainda ontem com a Ângela o quanto estava feliz por eles, e que eu tinha adorado o lugar.

— Você foi lá?

— É claro que eu fui, eles são como meus netos de sangue. Adorei a pista de dança, o bar, o palco bem espaçoso. Uma pena que já não consigo mais frequentar estes lugares, agora são para vocês que estão jovens.

A vovó era uma pessoa extremamente ativa e jovial para seus sessenta e oito anos. Estava sempre indo nos bailes da terceira idade, participando de eventos e ajudando a várias instituições. Nas festas da família ela sempre fora a mais animada, todos já estavam sentados enquanto ela rodava com o vovô pelo salão.

— Na pista realmente ficaria muito apertado. É sufocante até mesmo para nós. — Levantei pegando suas mãos, puxando-a para o centro da sala comigo e a conduzi por alguns passos. — Mas, quando a Nelli's abrir, a senhora vai comigo e ficaremos no camarote dando um show. Combinado?

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora