Eu estava em frente à esteira esperando minha mala, tentando de todas as formas não pensar muito no meu desgosto de pisar naquela cidade. Era assim toda maldita vez em que eu desembarcava. Eu era nascido e criado em Curitiba, e costumava amar a minha cidade. Pois é, costumava.
Assim que peguei minha mala e me encaminhei às portas da saída, meus olhos focaram naquela pequena encrenqueira e rapidamente me apressei para alcançá-la. Eu gostei de provocá-la, e era engraçado como ela tinha sempre uma resposta na ponta da língua. Aprendi isso a vendo brigar com um homem qualquer no aeroporto do Rio, há alguns minutos.
Foi muito engraçada toda aquela cena, e jamais apostaria minhas fichas nela pela aparência. Ela tinha um jeito todo delicado, rosto fino, cabelos escuros e compridos. Sem contar que ela era pequena, aparentemente inofensiva. A primeira coisa que me chamou atenção nela foram os olhos. Eles eram castanhos, porém tão escuros, que quase se confundia a pupila com a íris. Eu me perdi naquela escuridão, tentando descobrir como dois pequenos olhos podiam prender tanto a minha atenção.
Meus olhos a seguiram por mais algum tempo, e então a vi parar em frente de um loiro. Ela logo foi abraçando-o e eu virei meu rosto para o outro lado, estas demonstrações de afeto demais me enjoavam. Aproveitei para vasculhar o lugar à procura do meu primo, ele era o responsável de me buscar. Eu sabia que ele odiava fazer isso todos os meses, mas eu poderia apostar que era a vovó quem o obrigava a vir me buscar. Quando o encontrei, fui caminhando em sua direção.
— E ai, como foi sua viagem? — ele perguntou quando nós nos cumprimentamos com um aperto de mãos.
— Por incrível que pareça desta vez não foi chato. Eu tenho que te contar cara, a viagem hoje foi movimentada.
— Ah é? E o que aconteceu de tão engraçado nesta viagem?
— Vou te contar no caminho. Cadê a Jéssica? — Procurei atrás do meu primo para ver se eu encontrava a namorada dele em algum lugar.
— Não veio, ela vai passar o final de semana com as primas dela no litoral. — Ele deu de ombros como se isso não fosse grande coisa. Eu sabia que a Jéssica não gostava de mim. Aliás, eu acho que ela não gosta de ninguém da nossa família com exceção ao Biel.
— Cara, ela me odeia, não é? — perguntei rindo.
— Claro que não, mas ela sabe que quando você está aqui, nós temos nossas coisas de homens para fazer, então ela só nos deu um pouco de espaço.
— Aham. — Eu não estava comprando esta história.
— Vamos logo. E não me enrole, o que aconteceu na viagem?
— Cara, foi muito engraçado. Deixa-me ver se a encontro para te mostrar. — Estiquei meu pescoço para ver se encontrava a pequena encrenqueira ainda por ali. Logo que a avistei, pisquei para ela.
— Para quem você está piscando? — ele perguntou seguindo meu olhar.
— Ali. — Apontei com a cabeça na direção onde a pequena estava. — Está vendo aquela mulher, ao lado daquele loiro de mala azul?
— Aquela morena baixinha?
— Isso — eu confirmei. — Cara, ela arrumou confusão com um homem lá no aeroporto, sei lá eu por quê. Ela estava toda irritadinha com ele, e o cara foi meio grosso com ela. — Eu continuei a contar enquanto nos dirigíamos ao estacionamento. — E aí ela começou a bater boca com ele na fila, e te juro, eu tive que segurá-la. Eu acho que ela ia pular na garganta dele. Eu não entendi nada do que estava rolando, mas eu me diverti muito com a cena.
— Como assim pular na garganta dele? — Ele olhava para mim rindo.
— Eu não sei, a menina tinha jeito de ser barraqueira.
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BASTA ME ESCOLHER - degustação
RomanceSINOPSE Luisa tinha sua vida planejada. Terminar os estudos, começar a carreira em um escritório de advocacia, se esforçar para conquistar espaço no mercado de trabalho e ser reconhecida por isso. As únicas coisas que vinham antes de sua carreira er...