CAPITULO 30 - Marcelo (parte 02)

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Thiago percebeu também, já que a todo o momento olhava desconfiado para meu primo. Na segunda de manhã, havia mais de cinco ligações da Adri e uma mensagem para que ligasse para ela mais rápido possível.

— Que bom que você me ligou, eu liguei no celular de todo mundo, mas ninguém me atendeu então torci para que você acordasse cedo — ela falava do outro lado da linha.

— Bom dia. Também estou morrendo de saudade de você, Adri.

— Eu também estou com saudade, mas não há tempo para isso agora, o papo é sério. Eu preciso que você verifique uma suspeita que eu tenho.

Eu me sentei rapidamente na cama.

— O que aconteceu?

— O Alan me perguntou ontem o que o escritório estava fazendo, que alguém da SMD ligou lá para conversar com o departamento jurídico sobre mudanças das procurações nos processos, que queriam uma reunião e etc. Você está sabendo de alguma coisa?

— É claro que não, e que procurações são essas?

— Eu estava pensando que só eu não sabia, mas pelo jeito alguma merda está acontecendo. Ele não sabe quem foi só disse que era uma mulher. A Carla não avisou nada, e como o Alan conhece a Luísa e sabe que não é ela, estou suspeitando que seja a Jessica.

Foi então que as coisas começaram a fazer sentido.

— Eu estou desconfiando da Jessica desde quando a Luísa disse que ela fez uma reunião com o pai com um cliente do escritório.

— Ela em reunião? Ela nunca se envolveu com nada.

— Exatamente. E desde que estamos aqui, ela passa a manhã com o pai e a tarde toda no notebook, dizendo que está estudando.

— Que mentirosa! — ela gritou. — Se ela estudasse já tinha passado no exame da Ordem. Ela está fazendo tudo naquele notebook, menos estudando.

Eu ri e Adri me acompanhou.

— Obrigado por avisar, eu vou ver se descubro alguma coisa e te aviso. Você está se divertindo aí?

Ela soltou um suspiro do outro lado da linha.

— Sim, tudo ótimo aqui. Só não está perfeito porque estou longe de vocês. Mas os pais do Alan são uns amores, e nós estamos nos dando muito bem.

— Que bom, fico feliz por você. Estamos sentindo sua falta aqui também.

— É bom que sinta mesmo. Agora eu vou desligar, assim que souber de algo me avisa. Eu te amo, manda um beijo para todo mundo aí.

Eu desliguei o celular e fui correr na praia, tentando pensar em tudo o que a Adri havia me contado e os acontecimentos que estavam me incomodando. Eu precisava descobrir o que a Jessica tanto se envolvia com o pai, e tinha certeza que o que ela estava fazendo naquele notebook, poderia me dar respostas que eu precisava. No café da manhã eu contei na mesa sobre a ligação da Adri e nossas suspeitas.

— Você não ligou para lá, não é? — perguntei à Carla. Eu queria confirmar antes de realmente fazer acusações.

— É claro que não, normalmente quem liga são eles, e eles sempre pedem para falar com a Adri.

— Então foi realmente a Jessica, não tem outra pessoa.

— Se perguntarmos diretamente para ela, ela vai saber que descobrimos alguma coisa e não vai nos contar — alertou Matteo.

— Além de ser capaz de tentar esconder as coisas — completou Carla.

— Eu percebi mesmo ela afastada mais do que o normal nesses dias, não que eu esteja reclamando — disse Luigi rindo. — Ela está estranha, não sai daquele computador, e parece tão distraída que ainda não deu nenhum chilique com a Carol.

Biel se mexeu desconfortável em sua cadeira, mas permaneceu calado.

— E isso realmente não é o padrão dela — Matteo comentou. — Ela não se envolve com clientes, nunca foi de estudar, e em qualquer outra época ela já teria fincado as garras em volta do Biel e não o soltaria por vinte e quatro horas por dia. E definitivamente já teria falado alguma merda para a Carol.

Todos concordaram até mesmo nossos avós. Olhamos para Biel, que permanecia calado apenas nos observando.

— Eu sei o que todo mundo está perguntando, se eu sei de alguma coisa? Eu não sei. A Jessica realmente anda agitada nas últimas semanas, principalmente nos últimos dias. Fala com o pai por telefone o tempo todo, não soltar aquele computador, é realmente suspeito para ela, mas daí a estar tramando algo nas nossas costas já acho demais — ele desabafou. — Ela é minha namorada, e por mais que muitos de vocês não gostem, acho que acusá-la apenas por suspeitas não é algo justo.

Biel saiu da mesa e foi para seu quarto. Nós olhamos uns para os outros sem saber o que falar. Era complicado para ele, sendo o namorado e não saber de nada, mas nós precisávamos descobrir se as suspeitas estavam certas. Luigi, Carla e Matteo queriam ajudar, mas ninguém sabia como. Nosso melhor aliado era o Biel, mas ele avisou que não iria investigar a própria namorada. Na segunda-feira, Rafa, Carol e Thiago vieram almoçar. Os meninos ficaram jogando no salão de jogos e as meninas estavam tomando sol.

— Mulheres, lindas e inteligentes, preciso da ajuda de vocês — eu disse ao me aproximar de Carla e Carol, que estavam sentadas na beira da piscina. — Mulheres sempre foram boas em arquitetar estratégias, vocês poderiam me ajudar.

Contamos a história para a Carol. Carla mencionou que pediu o notebook da Jessica emprestado, mas que ela não deixava ninguém se aproximar, o que significava que nós teríamos que pensar em outra estratégia para ter acesso.

— Quando ela se afasta dele? — perguntou Carol.

— Ela não solta, esse é o problema — contou Carla. — Ela fica mexendo nele o tempo todo, sobe para o quarto deles com o notebook, pega suas coisas e vamos para a praia. E de manhã quando ela se encontra com o pai, ela o leva.

Carol olhou para o salão de festas enquanto batia seu pé na água.

— E se alguém ficasse aqui quando ela fosse à praia?

Eu concordei com a cabeça.

— É uma ideia, nós podemos tentar. Eu fico, falo que vou ver algo com o vovô e encontro vocês depois.

Jessica deixou o notebook no quarto deles, como previsto, foram para a praia. Eles estranharam quando fiquei para trás, em especial o meu primo, mas eu esperava que ele entendesse a situação se nossa suspeita estivesse certa. Quando entrei no quarto deles, demorei a encontrar onde ela havia escondido o notebook. O encontrei no meio das cobertas na parte de cima do guarda-roupa, mas não consegui ver nada. O notebook pedia senha e por mais que tentasse todas as datas como aniversário dela, do pai até do Biel, não consegui desbloquear.

— E então? — Carol perguntou quando cheguei à praia.

— Eu até achei o notebook, mas pede senha e eu não sei qual é, e duvido que o Biel contaria.

Ela então olhou para a Carla, que acenava com a cabeça e não conseguia conter o riso.

— O que vocês estão tramando? — perguntei desconfiado.

— Você confia em mim? — perguntou Carol. — Porque eu tive uma ideia, eu desconfiei que algo como isso pudesse acontecer e montamos um plano B.

— E esse não tem como falhar — Carla confirmou.

Quanto mais elas contavam o plano, mais eu ria. Era realmente algo que não falharia, mas era também arriscado demais. Se estivéssemos errados, teríamos muito a perder. Teríamos problema com a Jessica, a Carol com o Thiago, mas principalmente a confiança de Biel em todos nós. Era um tiro só, se estivéssemos certo tudo seria justificado, caso contrário, bom, eu estava evitando pensar sobre nisso.

Aproveitamos o nosso último dia de carnaval o máximo que pudemos, já que sabíamos que o dia seguinte seria uma catástrofe.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora