CAPITULO 10 - Luisa (parte 01)

16.9K 1K 25
                                    

Eu não estava esperando por aquilo, então foi quase um susto ver minha mesa de jantar arrumada, com pratos e talheres sobre ela, e uma travessa do que parecia ser yakisoba no centro. Eu ainda estava parada na porta do meu apartamento analisando a mesa, quando vi Vinicius carregando dois copos em suas mãos e uma garrafa de refrigerante em baixo do prato.

Ele olhou para mim e abriu um sorriso.

— Oi — ele disse, colocando o refrigerante e os copos na mesa. – Vai querer jantar com a gente, Rafa?

— Não, valeu — Rafael respondeu atrás de mim e virei para encará-lo.

— Tem certeza? — perguntei. Afinal, tínhamos combinado de jantar juntos.

Ele sorriu me tranquilizando.

— Sim, aproveite. Eu vou pedir uma pizza.

Eu o vi se afastando para o corredor, ele acenou para mim e piscou antes de entrar no elevador. Eu fechei a porta e tirei meus tênis, virando para encarar Vinicius.

— Está tudo bem? Eu pensei que tivesse uma reunião hoje.

Ele confirmou com a cabeça, pegando uma colher e servindo um dos pratos.

— Sim, eu tinha.

— Então por que está aqui? — perguntei me aproximando da mesa.

Ele soltou um longo suspiro, antes de deixar o prato com a comida na minha frente.

— Porque quando eu estava sentado na minha mesa hoje à tarde, eu fiquei olhando para a sua foto e senti sua falta. Eu tinha uma reunião para esta noite, mas era apenas expor uma proposta de planejamento que fizemos para novos clientes, não havia necessidade de estar presente. — Ele sentou-se à minha frente e ficou me olhando. — Então eu deixei as orientações para Thiago e Alan, e pedi que eles fizessem em meu nome.

— Entendi. Mas, isso ainda não explica por que você está aqui.

Ele soltou uma risada, mas era uma risada irônica e sem humor.

— Faz sentido que estar aqui e não em uma reunião, seja estranho para você.

Alguma coisa tinha acontecido. Ele estar no meu apartamento com um jantar, enquanto uma reunião de trabalho acontecia, era um claro sinal de que algo estava fora dos trilhos. A expressão de surpresa e desespero em meu rosto parecia diverti-lo, já que ele ria enquanto me observava.

— O que aconteceu, Vini? — perguntei, tentando controlar minha ansiedade.

Ele esticou a mão sobre a mesa, esperando que eu a alcançasse. Ele ficou encarando nossas mãos juntas e desenhou círculos com seu polegar na base de minha mão, como se estivesse pensando no que falar.

— Eu queria te fazer uma pergunta, e quero que seja sincera. — Ele levantou seu rosto para me encarar, e eu apenas confirmei com a cabeça, nervosa demais para responder com palavras. — Você está feliz comigo?

— Para que esta pergunta? — Tentei afastar minha mão da sua, mas ele a segurou firme mantendo-a no centro da mesa. — Você não está feliz, é isso? Está querendo terminar?

— Lu, não. — Ele negou rapidamente com a cabeça. — Não tem nada de término aqui, ao menos espero que não. Só me responda, e seja sincera.

— Ok. — Respirei fundo, tentando pensar em uma resposta sincera. — Até onde sei, eu sou feliz. Onde está querendo chegar com isso? Não estou gostando desta conversa.

Ele riu novamente.

— Não tem ninguém morrendo, eu não estou terminando com você, e não tem nada para se preocupar. Eu só queria confirmar isso, está tudo normal.

Soltei uma risada irônica.

— Você está na minha casa com comida, hoje é uma terça-feira, não foi a uma reunião quando sei que trabalho é algo importante para você, e me veio com essa pergunta idiota se eu estava feliz. Normal é a última coisa acontecendo nessa sala.

Ele suspirou derrotado e se levantou da mesa.

— Tudo bem, tudo bem. Vamos conversar primeiro.

Eu o acompanhei quando ele se levantou e me puxou pelo braço, nos levando até a sala. Quando sentamos no sofá, virando nossos corpos para ficarmos frente um ao outro.

— Antes de começar a pensar besteira, deixa eu te esclarecer uma coisa — ele anunciou, trazendo seu rosto para mim. Seus lábios macios e delicados tomaram os meus, exigindo uma resposta. Eu demorei um pouco para corresponder, mas logo minha boca se abriu para recebê-lo e o toque de sua língua brincando com a minha fez todo o nervosismo se acalmar. Suas mãos subiram para meu rosto, me segurando ali enquanto ele mantinha a testa encostada na minha. — Eu te amo, e eu sou feliz com você. Apenas me ouça antes de tirar conclusões precipitadas. Lembra como foi, algum tempo atrás, quando você voltou da casa dos seus avós?

Meus olhos começaram a arder, e eu sabia que isso era por conta da tristeza que me bateu naquele momento. Minha avó paterna ficou muito doente, então eu e Michele, minha prima, nos mudamos para a casa deles por três meses. Nós tentamos dar toda assistência e ajuda possível ao vovô, com os cuidados que ele tinha com a vovó. Infelizmente ela não aguentou muito tempo, e o vovô foi logo em seguida. Nós sempre acreditamos que ele morreu de amor, por não aguentar viver em um mundo que ela não estava mais presente.

— O que aquela época tem a ver com o que está acontecendo?

— Tudo. Ou nada. Depende do ponto de vista. Nós estamos passando por aquela fase de novo. Estamos afastados, e eu odeio isso. E não estou te culpando, porque a culpa é minha também. Você não sentiu as coisas estranhas desde que voltou? — Eu apenas balancei a cabeça concordando, esperando que ele continuasse. — Então, quando você voltou da casa dos teus avós, você se dedicou a faculdade quase que tempo integral. Adiantou todas as matérias que conseguia, vivia e respirava livros. Eu era seu segundo plano naquela época. E vejo que acabei fazendo isso com você agora. Naquela época eu também aproveitei aquela fase para me dedicar ao trabalho, e a consequência foi à promoção. Só que aquela fase já passou, e eu acabei mantendo o trabalho em primeiro lugar. E eu não quero isso, Lu, não quero nós dois afastados e estranhos novamente. Me perdoa?

Ok, isso não era o que eu estava esperando. De fato as coisas estavam estranhas, mas estava conformada que o trabalho era sua prioridade de agora em diante.

— Eu não acho que tenho o que perdoar. Nós dois fizemos isso, colocando outras coisas em primeiro lugar. Eu me prendi aos estudos e você se prendeu ao trabalho, não acho que exista realmente um culpado aqui.

— Eu te amo. Eu te amo demais. Não são semanas ou meses, Lu. São anos. E eu não quero mais isso para nós, eu quero sentir que somos apenas nós novamente.

Eu sorri. Eu apenas sorri. Eu não sabia o que responder. Ele estava ali admitindo nosso problema, e então tudo foi colocado em uma nova perspectiva.

— Eu acho que podemos trabalhar com isso — eu disse, enquanto mantinha o sorriso bobo nos lábios.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora