CAPITULO 39 - Luisa (parte 01)

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Acordar com alguém me abraçando não era exatamente uma novidade, mas acordar ao lado do Marcelo era. Assim que respirei fundo senti seu cheiro quando eu acordei, e isso me fez sorrir sozinha na cama. Levantei meu rosto para vê-lo e ele estava dormindo. Seu rosto estava tão sereno, como se ele estivesse tendo realmente bons sonhos. Com cuidado eu me desvinculei de seu braço e me levantei. Entrei no banheiro para minha higiene pessoal, e quando sai amarrando o cabelo ele ainda estava lá, na mesma posição. Liguei pedindo o serviço de quarto, para acordá-lo com café da manhã na cama, assim como no dia anterior. Era triste pensar que não seria assim na semana seguinte, eu havia me acostumado com isso.

Eu peguei uma maçã da bandeja e dei uma mordida, olhando para Marcelo ainda dormindo e pensando em como eu iria acordá-lo. Eu segurei uma xícara de café próximo ao seu nariz, esperando que o cheiro o fizesse abrir os olhos, mas ele permanecia quieto. Nem mesmo eu batendo a colher na xícara o acordou. Talvez se eu gritasse ou derrubasse café em seu rosto ele acordaria. Então teria um ataque cardíaco de susto e eu teria que ir para o hospital. Eu não sabia que era tão complicado acordar alguém. A maioria das vezes eu acordava sozinha, ou Vinicius já estava acordado na cama, então nunca tive muito que pensar sobre isso.

Peguei um morango que tinha na bandeja e prendi em meus dentes. Engatinhei até o lado do Marcelo e passei o morango por seus lábios. Ele permaneceu imóvel por um longo tempo, e quando me preocupei que talvez estivesse desmaiado ele começou a rir.

— Você estava acordado esse tempo todo — eu acusei me levantando da cama.

Seus braços me puxaram e ele beijou minha bochecha.

— Eu estava em uma luta muito difícil aqui segurando o riso pelas suas tentativas para me acordar, eu queria saber o que você faria.

Eu bati em seus braços para tentar me livrar de seu aperto, mas quanto mais eu batia mais ele mordia meu ombro.

— Que mulher mais violenta, eu já perdi a conta de quantos tapas eu levei nos últimos três dias.

— Eu não tenho culpa se você merece.

Ele continuou rindo e aos poucos meu corpo relaxou. Eu me virei na cama e ele se sentou sobre mim, me olhando.

— Bom dia, pequena — ele sussurrou, com aquela voz ainda grogue de sono que eu adorava.

A barba por fazer dos últimos dias era algo que eu estava gostando nele, tão macia e máscula. Deixava seu rosto ainda mais lindo, se isso fosse possível.

— Não vai fazer a barba, não?

Ele riu e passou as mãos pelo rosto.

— Por quê? Esta tão feio assim?

— Não, eu gosto.

Ele se abaixou passando o queixo pelo meu pescoço e sua barba me fez cócegas.

— Então eu deixo assim por mais um tempo — ele disse se levantando. Antes de entrar no banheiro ele me olhou da porta. — Quando enjoar você faz minha barba.

Eu ri e me esperneei na cama enquanto ele não voltava. Eu me sentia aquelas adolescentes que acabaram de ganhar uma piscada do gatinho da balada. E isso era ridículo para uma mulher de vinte e quatro anos.

Nós comemos na cama nosso café da manhã e fomos para a reunião. Nenhum encontro foi tão animado e divertido como na V.D.A., mas acho que nunca encontraríamos clientes como eles. Passamos a tarde aproveitando a praia e a noite andamos de moto.

Eu não sabia se era porque agora eu estava apaixonada pelo mundo, mas cada lugar que eu visitava, eu me encantava. Quando passamos pela Terceira Ponte, com água embaixo e apenas as luzes dos postes iluminando a estrada, eu me senti a pessoa mais sortuda do mundo. Era como se fosse um lugar mágico, me animando para todas as mudanças da minha vida.

A manhã seguinte foi como estávamos acostumados. Acordando junto e tomando café na cama no meio de nossa bagunça particular. Eu amava dormir, mas estava amando ainda mais acordar, e eu sempre fui uma pessoa preguiçosa de manhã. A caminho do Rio, Marcelo pareceu nervoso, agitado. Beijava-me mais do que o normal, não que eu estivesse reclamando, mas era engraçado que ele a todo o momento se certificava de que eu me sentisse à vontade.

— Tudo isso é pelo que? — eu perguntei quando paramos em frente à sua porta. — O que é que está te incomodando?

Ele riu me olhando.

— Você não deixa passar nada, né?

— Fala logo.

Ele abriu a porta de seu apartamento e gesticulou para que eu entrasse. Eu já conhecia seu apartamento, mas era diferente desta vez. Quando você conhece o dono, você o identifica com o lugar. E agora aquele apartamento era definitivamente a cara do Marcelo. Cheio de informações, parecendo bagunçado com tantos objetos, e ainda sim, tudo perfeito exatamente onde estava.

— Quer alguma coisa? — ele perguntou da cozinha, abrindo a geladeira. — Retiro o que eu disse, precisamos ir ao mercado.

Eu ri e apoiei a bancada.

— Não tem nada? Você não cozinha na sua casa?

Ele pareceu envergonhado.

— Eu moro sozinho, lembra? Cozinhar para uma pessoa é ruim, acabo comendo fora.

Eu entrei em sua cozinha e abri todas as portas de seus armários para conferir. Tinha bolacha, leite, pão de forma, muitas coisas enlatadas, mas nada de frutas, frios, arroz e macarrão.

— Ok, acho que posso te ajudar — eu anunciei, me virando para ele. — Vamos ao mercado.

Para nossa sorte o mercado era próximo. Fomos a pé, de mãos dadas, conversando sobre todas as receitas fáceis que ele poderia fazer sozinho. Fizemos a compra dos itens da lista que fiz na minha cabeça quando averiguei seus armários, e derreti por dentro quando estávamos na parte dos frios. Eu tremi com o ar gelado dos congeladores e ele me abraçou, andando atrás de mim por todo o caminho, para que eu não passasse frio. Guardamos as compras e o ensinei a fazer uma macarronada simples de molho vermelho, que ele poderia fazer em pequena quantidade para comer sozinho.

— Quem te ensinou a cozinhar? — ele perguntou.

Eu estava lavando a louça e ele me ajudava secando e guardando

— Minha mãe. Você provou a lasanha dela, ela é uma excelente cozinheira.

Ele beijou minha bochecha e guardou o copo que secou em um armário, em cima da minha cabeça.

— Se você puxou os dotes culinários dela, eu estou feito.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora