— Merda, merda, merda — repeti várias vezes entrando na sala que eu dividia com Pedro.
Ele desviou os olhos de seu notebook e me olhou espantado.
— O que aconteceu? Você está me assustando, Marcelo. Algum processo deu errado? Você não encontrou a tal garota do escritório do seu avô?
Uma risada escapou de meus lábios. A principio eu achei graça da situação, quão irônico era isso? A garota que me chamou minha atenção desde o primeiro momento, que ficou marcada em minha memória por mais de meses e que eu torcia para ter a sorte de encontrá-la novamente, já estava na minha vida e eu não fazia a menor ideia.
— Encontrei, e este é o problema.
Ele me olhava ainda curioso pedindo por uma explicação. Eu não conseguia ficar parado, então tirei meu paletó e apoiei na cadeira, soltando a gravata em seguida.
— Você vai explicar?
— A garota, a novata e queridinha do vovô — comecei dizendo. Ele concordou com a cabeça, encostando-se á sua cadeira e cruzando os braços sobre a mesa. — É a tal morena que eu falei que tinha encontrado novamente em Curitiba. A do aeroporto, a pequena.
Ele me olhou com espanto quando finalmente entendeu a quem eu me referia. Eu me sentia tão idiota naquela situação. Quem aos 26 anos de idade fica tão intrigado sobre uma garota que você encontra casualmente por aí?
— Assim que entrei no aeroporto eu a vi, era quase como se eu estivesse programado para reconhecê-la na multidão. E então eu fui e agi por impulso. Eu não poderia deixar de aproveitar a chance e falar com ela, certo? — eu perguntei, mas nem esperei por Pedro para responder. — E então eu estava lá brincando com ela, e ela liga para alguém e meu celular toca. Eu havia anotado o número dela na minha agenda esta manhã, para o caso de não conseguir encontrá-la no aeroporto. E eu até cheguei a mandar uma mensagem para ela no privado do WhatsApp, mas sua imagem era um pôr do sol. Então como é que eu ia adivinhar?
Um sorriso apareceu em meus lábios quando me lembrei da cena. No momento em que eu atendi ao telefone fiquei animado, nem pensei muito sobre isso, mas a realidade veio quando ela empurrou um envelope para mim. Ela não era apenas a barraqueira que eu não sabia o nome, era a Luísa. Eu não podia simplesmente continuar irritando-a ou agir como bem entendia. Agora era diferente. No elevador eu senti tudo o que eu não podia. Agora que o rosto que por muitas vezes frequentava meus pensamentos tinham um nome, eu estava travando uma batalha interna muito difícil. De um lado, eu queria aproveitar a chance que vida estava me dando, quando colocou novamente a minha pequena no meu caminho. Do outro lado eu sabia que não podia mais agir por impulso, pois agora a minha pequena não era mais a minha pequena, era a Luísa. E a Luísa não é a minha, é de outra pessoa. Agora ela é apenas a pessoa que por ironia da vida eu trocava e-mails há duas semanas. Eu percebi que Pedro não falava nada, e então abri meus olhos para vê-lo, o que não foi de grande ajuda, pois seu rosto não me dizia nada também.
— E então? — perguntei.
— Cara, isso é uma grande merda. Quer dizer, nós fazíamos piada sobre isso, que você jamais a encontraria de novo, e agora ela é a pessoa que você estava conversando nas últimas semanas.
— Eu estou pedindo por ajuda, eu não preciso que você fique relatando fatos que eu já sei.
Ele se levantou e apoiou em sua mesa, assim como eu.
— O que você vai fazer? — ele me perguntou, mas eu não sabia esta resposta. Eu acenei com a cabeça e dei de ombros, isso era o que eu estava tentando encontrar, algum sinal do que fazer. — Ela namora, não é? Então agora não tem muito que você possa fazer, vai ter que continuar sendo o amigo dela.
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BASTA ME ESCOLHER - degustação
RomanceSINOPSE Luisa tinha sua vida planejada. Terminar os estudos, começar a carreira em um escritório de advocacia, se esforçar para conquistar espaço no mercado de trabalho e ser reconhecida por isso. As únicas coisas que vinham antes de sua carreira er...