CAPITULO 17 - Luisa (parte 02)

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Só pelo nome do assunto no e-mail já fiquei alarmada, mas eu não esperava que aquele fosse o conteúdo. Eu quase engasguei com o café. Agora o 'não fique brava' fez sentido. Ele me deixou falar tudo aquilo, e é neto do Fernando também? Que vergonha. Se eu achava que ontem tinha ficado estranho, acabei de bater um recorde. Ele deveria ter rido tanto de mim, pelo tanto de besteira que havíamos comentado. Como ele pode ter mentido para mim? Será que ele estava esperando que eu fosse falar mal da família dele? Que ódio. Eu não vou responder a este e-mail. Aliás, não vou responder mais nenhum. Isso! Não vou falar com ele nunca mais. Que tiro no pé, Luísa.

A manhã passou rápido, e eu me concentrei em meus relatórios. Fernando e Lorenzo apareceram nos chamando para ir almoçar, e fomos todos ao restaurante do térreo. Eles eram tão joviais e animados, e me peguei muitas vezes rindo de suas brincadeiras. Todos pareciam muito à vontade, e em todos os momentos se certificavam de que eu participava da conversa e não fosse deixada de lado. Quando voltamos ao escritório Jessica já estava em sua mesa. Ela questionou nossa demora e Lorenzo esclareceu que perdemos a noção do tempo conversando. Ela me olhou ao lado deles com reprovação e não pareceu muito satisfeita com a resposta, mas eu não iria me sentir intimada por ela.

— Luísa, seu computador está funcionando? — perguntou Gabriel ao meu lado. — Está enviando e recebendo e-mail normalmente?

Eu sentei em minha mesa e liguei o computador, verificando a conexão da internet.

— Sim, por quê? Você me mandou algo que eu não respondi?

Ele foi para sua mesa, apoiando o paletó na cadeira.

— Não, é que o Marcelo perguntou se estávamos com internet, pois você não havia respondido seu e-mail.

E nem irei responder.

Ele me olhou por um momento, e então eu tentei sorrir. Ele balançou a cabeça e sentou em sua mesa, digitando algo em seu celular. O telefone de minha mesa tocou alguns minutos depois.

— Quer dizer que seu e-mail está funcionando normalmente? — perguntou Marcelo do outro lado da linha. — Posso saber por que não me respondeu, então?

Droga.

— Não tive tempo — menti.

Ele riu.

— Entendo, não tem nada a ver com o fato de descobrir que sou neto do Schmidt, então?

Minhas bochechas queimaram. Que situação mais embaraçosa, mas caramba, a culpa era dele.

— Você deveria ter me falado. Foi muito errado de sua parte ter mentido para mim.

— Não, eu não menti. Eu apenas omiti. Você sabe a diferença.

Eu suspirei.

— Foi errado do mesmo jeito.

— Admito, foi errado, mas pudemos nos conhecer de forma mais descontraída. Foi divertido no fim das contas, não? — Ele ficou em silêncio por um tempo esperando por uma resposta que não veio. E nem viria. Não foi divertido. — Entendi, você não quer falar. Me desculpa, ok? Mas não foi uma coisa tão grave assim, você não precisa me ignorar. Você nem falou nada demais, e eu achei divertido. Vamos começar de novo.

A linha ficou muda. Eu esperei por algo que indicasse que havia caído a ligação, mas então pude ouvir sua respiração do outro lado.

— Olá, boa tarde. Eu me chamo Marcelo Schmidt, sou neto do Fernando Schmidt e primo do Biel, e fomos criados juntos desde bebês com o Teo. Sou amigo de infância da Adri, que é vizinha da Carla e esta é a conexão com todos. Estou falando com quem?

Eu queria rir, mas me segurei.

— Luísa? Não irá me responder?

Não.

— Luísa? Fala sério, se você for me ignorar vou dizer ao meu avô para te demitir. — Sua voz soou como uma ameaça.

Ele desligou e pouco depois recebi quatro e-mails, todos dele se desculpando e pedindo que eu o respondesse, mas ignorei todos. Fernando apareceu na porta. Minhas mãos começaram a suar frio quando ele se aproximou da minha mesa. Eu seria demitida no segundo dia de trabalho. Isso estava cada vez melhor.

Ele pegou o telefone da minha mesa e começou a discar para um número. Todos estavam olhando para nós, mas apenas Jessica parecia confusa com a situação. Gabriel estava com os braços cruzados olhando para seu avô com um sorriso nos lábios, Adriana estava apoiando as mãos na mesa e Matteo verificando algo em seu celular tentando segurar um riso.

— Alô? É, eu estou na mesa dela. Entendi, espere um pouco. — Fernand se virou para mim sorrindo. — Você vai desculpar meu neto ou eu vou ter que te demitir?

Todos começaram a rir em suas mesas, até mesmo Carla veio da recepção e se apoiou na cadeira de Adri. Eu não acredito que ele fez isso!

— Você é muito idiota, por que não disse logo que era meu neto? — perguntou Fernando ao telefone.

Biel ainda gargalhava.

— Concordo, vovô, mas nunca foi um segredo que ele é idiota.

— Tadinho, não fale assim dele — Adriana o repreendeu.

— Você sempre o defende, sua opinião não conta — interveio Matteo. — Mas, admito que não foi uma atitude inteligente.

— Continue ignorando ele, Luísa — comunicou Carla. — Estou do seu lado.

Todos ali sabiam o que tinha acontecido? A situação poderia ser ainda mais embaraçosa? Fernando me cutucou pelo braço, estendendo o telefone para mim.

— Eu não vou te demitir, só para que fique claro. Mas, fale com ele.

Eu peguei o telefone de suas mãos e levei a orelha.

— Alô.

— Que sacrifício, mulher, tudo isso por uma brincadeira? — Marcelo perguntou rindo.

— Isso tudo foi tão desnecessário.

— Talvez, mas admita, causei uma impressão e tanto, não?

— Tenho que reconhecer seu esforço.

Ouvi um suspiro audível do outro lado da linha.

— Estou desculpado? Prometo não mentir ou omitir coisas daqui pra frente.

Levantei meu rosto e todos ainda me encaravam, inclusive Fernando. Pressão? Nem um pouco.

— Ok, está desculpado. Agora preciso desligar, tenho trabalho a fazer.

Quando desliguei o telefone, todos voltaram a se concentrar em seus computadores. Fernando deu um tapinha em meu ombro e voltou para o corredor, com a Carla ainda rindo e com os braços cruzados nos dele.

Marcelo Schmidt, quem é você? Agora fiquei curiosa para saber da pessoa que mobilizou todo mundo para que não fosse ignorado por alguém que conheceu há apenas um dia.

BASTA ME ESCOLHER - degustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora