-8th-

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Domingo, 7 de Fevereiro de 2016.

O som do noticiário ecoa como fundo ao tempo que o meu ser preparava a primeira refeição. Levantara-me tarde e, até agora, uma curva acentuada não abandonara o meu rosto. Sentia-me bem, inexplicavelmente bem.

Retirei a posta de salmão para um prato, onde já arroz branco e alguma alface ocupavam espaço. Sentei-me na mesa da cozinha e, sozinho, disfrutei calmamente da refeição, observando algumas noticias aleatórias.

-"Ryan Allen, CEO da poderosa empresa AID*, recebeu ontem na sua casa privada cerca de duzentos convidados no âmbito da celebração do aniversário da empresa e, em simultâneo, do seu."- As palavras, expelidas num tom grave e austero, captam a minha atenção.-" Allen fez-se acompanhar da sua irmã Victoria, acto que já é habitual visto que a nenhum dos dois é conhecido algum companheiro."- Após isto, imagens da noite anterior começam a passar no pequeno televisor. Várias fotos desde a chegada dos convidados à chegada dos anfitriões são reveladas, porém nada do que aconteceu realmente na festa é visível. A reportagem termina com uma fotografia de Ryan e Victoria, em que os referidos são apanhados desprevenidos enquanto conversam algo entre si. Não conseguira evitar o pensamento efémero do quão estupido haveria sido. As parecenças entre ambos são notórias, estando em principal evidencia a cor profunda e enigmática predominante no olhar da dupla. Quando reflecti que a morena poderia ser comprometida, o pânico teria ocupado cada recanto do meu ser. A mera hipótese dela ser de alguém que não eu era doentia e poderia elevar-me a níveis extremos de loucura física e psicológica. Victoria era, de certa forma, minha e eu não aguentava a ideia de a partilhar para com outro homem. A ideia de alguém lhe tocar revirava-me o estomago.

Ninguém poderia tactear na minha Victoria.

Confesso que chama-la de minha tornar-se-ia um ato de obsessão, todavia a verdade é que acaba por acontecer o contrário. Ela não é minha, EU sou dela. Tornei-me dela a partir do momento em que possuiu a minha mente, quando se apoderou de mim de formas surreais, mesmo sem saber. No entanto, no fundo, sabia que ela acabava por também ser minha, embora não de uma maneira tão poderosa quanto o seu efeito sobre mim. Afinal, ela era a habitante da minha mente. Ela era o meu pequeno delírio que desde cedo atormentou o meu pensamento e isso era algo que não podia simplesmente ignorar.

Algures no interior da casa, o som alegre do meu telemóvel percorre a atmosfera. Limpo os lábios e busco o pequeno aparelho, avistando-o em cima da mesa de centro.

-"Boa tarde."- Saúdo ao atender.

-"Boa tarde também para ti, Louis"- Uma leve gargalhada ecoa do outro lado da linha, instruindo-me a fitar o ecrã de número desconhecido.

-"Victoria?"- Indago, embora pudesse reconhecer a sua voz na mais distorcida gravação.

-" Sim, sou eu."- Confirma.-" Como estás?"

-"Bem e tu?"- Caminho de regresso para a cozinha.

-"Similarmente. Estive a almoçar com Ryan."- Explica.- " Ele disse-me que te mudaste há pouco tempo."- Constata.

-" É um facto."

-" Já tiveste tempo de conhecer a cidade?"

-" Nem por isso. Tenho-me focado no trabalho."

-"Chicago tem tanto para ver. Devias explorar isto."- Ela divaga.

-" Eu demoraria metade do meu dia a encontrar tudo Victoria." – Aponto a triste realidade com algum divertimento.

-" Eu conheço bons locais."- Diz.- "Posso mostrar-te a cidade, se estiveres de acordo."

-"Uma oferta irrecusável."

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora