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Sábado, 12 de março de 2016.

A força nem sempre vem nas situações em que mais precisamos, ou se manifesta nas pessoas em quem julgamos que preside. Por vezes, durante uma discussão, aquela pessoa mais franzina é quem toma as rédeas da situação, demonstrando-se forte o suficiente para derrotar qualquer par de músculos ou conjunto de argumentos que se lhe atravessasse no caminho. Obstante a isto, existia eu que, por mais músculos que tivesse, sempre fui instruído a manter-me calado e a obedecer a ordens e desejos de outrem. No entanto, as coisas estavam prestes a mudar para o meu lado.

Ao relembrar a imagem de Victoria naquela cama de hospital, indefesa e quase sem vida, uma força que nunca antes havia tido estava a crescer num redemoinho barulhento dentro de mim. Quem quer que seja o responsável teria de pagar caro pelo que fez, e eu estava determinado a saber quem era e o que queria.

Atravessei o passeio em frente à AID, entrando pela porta principal, sendo recebida pela recepcionista ruiva cuja qual nunca fora tão simpática quanto Abigail o era. Falando nela, nunca mais a vi desde que se despediu. Ela era simpática, gostava de voltar a revê-la. Mas esquecendo isso, continuei em direcção ao meu escritório, chocando contra Joseph à saída do mesmo.

- Bom dia.- Eu disse, cumprimentando-o rapidamente.

- Não foi uma boa noite para ti.- Observou com os seus olhos grandes e escuros por detrás da armação dos seus óculos.

-É, não tem sido fácil dormir.- Confessei. Esta noite acabei por sair do hospital e ir para casa, tomar um banho e descansar. Todavia, não sei se foi da preocupação ou do excesso de acontecimentos num curto espaço de tempo, a minha cabeça latejava constantemente, zumbidos interrompendo o meu sono de minuto em minuto.

- Compreendo, já todos sabem o que aconteceu.- Disse de forma calma, a sua expressão nunca demonstrando alguma emoção.

-É, as notícias correm depressa.- Forcei um sorriso de lado, ele assentiu.

- Pensava que não viesses ao escritório, é sábado.

- Vim entregar o diagrama que devia ter feito ontem.- Elevo a pasta na minha mão. Embora a custo, tive de cumprir as minhas obrigações, por muito que a minha cabeça não estivesse disposta e o meu coração estivesse naquele quarto de hospital com ela.

- Podes deixar na minha secretária, eu trato dele.- Joseph ofereceu-se, algo que me deixou surpreendido.- Os amigos são para isso.

-Obrigado.- Sorri de lado, não acostumado à sua faceta amigável.- Vou deixar na tua secretária então.- Ele assentiu e foi-se, eu entrei no escritório, as coisas ainda no mesmo local. Também, só faltei um dia, não era como se as paredes mudassem de cor de um momento para o outro.

Pousei a pasta em cima da secretária de Joseph e contornei a sala até à minha, sentando-me na cadeira giratória e encarando o nada. O meu pensamento era consumido com a ânsia de voltar para ela, de voltar a vê-la. Era tudo o que eu queria, mas não o que posso fazer e, por vezes, temos de deixar a parte lucida de nós tomar conta da situação para que, de alguma forma, consigamos lidar melhor com a pressão e a porra dos sentimentos que se geram. Mas, mesmo assim, não é fácil.

Levantei-me com a intenção de ir embora e, ao tempo que o fiz, dei uma cotovelada em algo na mesa, que caiu ao chão com o impacto. Ao debruçar-me para apanhar o objecto, fiquei hesitante quando vi algo que não me era familiar, mas acabei por pega-lo de qualquer das formas porque se fez um clique na minha mente, fazendo-me estagnar.

Era um gravador áudio.

O meu ritmo cardíaco parecia ter-se tornado um cavalo de corrida. A espectativa a bombeava intensamente as minhas veias e as minhas mãos pressionaram firmemente o botão e uma voz grave, masculina e sonoramente embaciada, soou através do aparelho:

-"Estou tão perto de ti que consigo sentir a tua frustração, e ainda mais perto para fazê-la crescer."

A minha respiração soltou-se num sopro e os meus punhos bateram na mesa com força, com muita força.

Ele estava perto, mas quão perto?

N/a: Peço desculpa pelas ausências, caros delirantes. Mas a verdade é que não é fácil escrever o que tenho em mente para isto, e muito menos arranjar tempo. Pelo lado positivo, tenho uma criação de macacos azuis (mentira, mas gostava). Desculpem qualquer coisa, sejam felizes.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora