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Domingo, 27 de março de 2016.

A confiança é a palavra-chave de qualquer relação.
Amizade, amor, até mesmo familiar. Quando confias numa pessoa, não lhe confidencias apenas os teus segredos mais obscuros mas sim todas as memórias que tens, e todas as que vais criar com ela. É quase como uma entrega de almas que é feita sem dar por ela, que vem calma e arrebatadoramente. Porém, quando quebrada, arrasta a tua alma para longe dessa pessoa, para longe de ti, para um beco profundo de desilusão. E é das piores coisas que se pode perder; a confiança.
Por isso, é que ela é tão difícil de se obter.
Por isso é que é tão demorada. Por isso é que é um processo tão extenuante.
Porque é igualmente dolorosa de se perder e, uma vez quebrada, nunca será a mesma, ainda que possa ser reconstruida.

O laboratório estava deserto de noite. Todos os maníacos iam para casa ter com as suas famílias ou com o que quer que façam quando não estão a usar-me como um belo rato de laboratório. Honestamente, não sei como conseguiria dormir com a consciência descansada se trabalhasse em algo semelhante ao que estou a ser sujeito. No entanto, trabalho é trabalho.

Abri os olhos quando um chiar me despertou do meu estado semi-inconsciente. Provavelmente é um dos lunáticos ou apenas um segurança nocturno. Uma porta correu algures no espaço, o som de passos ecoou por entre o zumbido das máquinas e um vulto apresentou-se diante de mim, dobrando-se sobre a minha cadeira de forças.

-Mas o que...- Ia protestar, até ser calado por um olhar reconhecido e aliviante. Logo os meus braços foram libertos, seguidos das minhas pernas.
Estava incrédulo, num misto de surpresa e alivio com um laivo de expectativa.

- Pensei que não voltavas.- Confidenciei, esfregando lentamente os meus pulsos desgastados pelas ligas e doridos pela imobilidade das últimas semanas.

- Eu disse que ia arranjar maneira de te tirar daqui.- Sussurrou com um pequeno sorriso.- Consegues levantar-te?- Inquiriu, ajudando-me a sustentar o meu peso nas minhas pernas tremelicantes. Aguentei em equilíbrio, apoiando-me no ombro da menor, tentando endireitar a minha coluna.

- Hei-de conseguir.- Falei. Afinal, a adrenalina que estava a gerar-se em mim começava a dar-me as forças que pensava ter perdido. As minhas pernas começavam a enrijecer, e tanto eu como Martha sabíamos que dependíamos da minha força para sairmos daqui.

- Tem cuidado com os sensores de movimento à saída de cada porta, tenta andar o mais encostado possível às paredes.- Alertou, avançando cuidadosamente assim que me viu estabilizado.

Segui Martha pelos corredores do laboratório extenso, observando minuciosamente os alarmes, sensores e camaras de segurança por todos os compartimentos. O cuidado com que avançávamos era estrondoso, quase tanto como a descarga de adrenalina que tomou conta de mim e que me impossibilitou ser afectado por qualquer dor, dormência ou cansaço dos meus músculos. Nem sequer meu psicológico conturbado se atrevia a atrapalhar a minha fuga, até ele parecia colaborar comigo pela primeira vez na vida. Mas a cada passo que dava, tudo parecia mais surreal. Não estava ciente do que estava a acontecer. E se fosse mesmo a minha imaginação a iludir-me novamente? Se fosse mais um delírio ou um sonho intenso? Aguentaria essa desilusão?

- Louis!- Um sussurro urgente trouxe-me de volta dos meus devaneios.- O segurança da entrada principal está a fazer rondas neste piso, temos de descer.- Puxou-me por um braço antecipando o meu raciocínio e meteu-nos por umas escadas escuras.

No segundo lanço da escadaria desequilibrei-me. Sem Martha como apoio, quando me ia amparar em alguma coisa, a minha mão tocou no corrimão frio e de metal, fazendo uma forte corrente elétrica atravessar o meu curto cerebral, disparando imagens ao meu redor.

Os seus olhos, o seu cabelo, a sua cara, o seu sorriso e o seu sangue.

Senti o ar escapar-me dos pulmões e as minhas pernas cederam, a minha cabeça doía como nunca, o meu coração estava atónito. Perdi a noção da realidade, perdi a noção de que estava prestes a sair do meu purgatório, perdi uma parte da minha alma com aquela visão. E nem os abanões histéricos e os chamamentos urgentes da mulher de pele negra me conseguiam demover deste estado, sendo um pequeno eco nos confins da minha mente.

- Tu tens de ser mais forte que isso. Doma o teu psicológico, enfrenta-o! - Mas eu não queria.- Tu vais sair daqui, estamos tão perto caramba!- Não, não posso. – Louis, eles vão atrás dela, tens de sair daqui para a salvares. Se não queres lutar por ti, luta por ela, luta pela Victoria. Por favor, Louis, por favor!

Agarrei bruscamente o seu braço num estalo de realidade.
Ela tinha razão, eu tinha de a proteger, eu não podia fraquejar, não mais.

Levantei-me com a última esperança que tinha.
Ambos ficamos cientes que esta era a última oportunidade para o nosso sucesso. E aproveitamo-lo, correndo escadas abaixo, fintando os corredores, até que a saída apareceu, iluminada por deuses, a meros metros de distância.

É agora?

E foi. Tive a resposta quando o ar frio embateu na minha cara, despertando os meus sentidos adormecidos, fazendo os meus olhos encherem-se de lagrimas de alívio, lagrimas de liberdade. E quase me deixei cair de novo, não fosse a mulher ao meu lado, a minha libertadora, empurrar-me para o carro que nos esperava, que arrancou ainda nem as portas tinham sido fechadas.

Ainda mal tinha clareado as ideias, ou seja, o conceito de liberdade renovada, e já Martha falava sobre o quão difícil tinha sido trazer-me de volta à realidade quando tive uma descarga elétrica.

- Nunca vi alguém tão perdido em toda a minha carreira.- Reclamou.

-Isso é porque nunca estiveste com ele um dia inteiro e nunca assististe a muitas paranóias.- O condutor rematou, numa voz conhecida, e quando notei a armadura preta segura nas suas orelhas, quase que o estomago me saiu pela boca.

- Joseph?- Murmurei sem esconder surpresa. Ele olhou rapidamente para trás, dando-me um dos seus sorrisos curtos habituais.

- É verdade colega, parece que não és só tu que tem coisas a esconder.

E eu fitei-o, incapaz de processar esta informação quando ainda há escassos minutos estava imobilizado num laboratório de tortura que, agora, cada vez ficava mais para trás.

Boa noite delirantes!
O LOUIS ESTÁ LIVRE WLELELELELE FINALMENTE (POR ESTA É QUE NÃO ESTAVAM À ESPERA PAH) agora... veremos o que se segue ( ou seja, esperemos pelo proximo capitulo!)

E mais uma vez, como sempre, obrigada aos que continuam desse lado e por me apoiarem neste projeto que tem a minha alma devota.

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⏰ Última atualização: Oct 21, 2016 ⏰

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