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Sexta-feira, 11 de março de 2016.

As pessoas dizem que a dor é o caminho da felicidade, mas não sabem explicar porque temos de sofrer durante tanto tempo para depois sorrir apenas por uns segundos. Bom, eu também não sei, mas confesso que, por vezes, desisti eu próprio de tentar encontrar a felicidade e apenas remeter-me à dor. No entanto, nos últimos dias apercebi-me de que a felicidade é uma promessa, uma promessa que é realmente cumprida. Mas, pensando bem, a dor que estou a sentir neste momento é fruto dela. Da felicidade que criei com a encantadora habitante da minha mente que durante toda a noite esteve sob observação e da qual ainda nada se sabe.

Então, se a dor leva à felicidade, por consequência a felicidade leva à dor.

Após uma longa noite de desespero e receio pelo que pudesse acontecer, os médicos chegaram até Ryan com notícias sobre o estado de Victoria, agora estabilizado, mas ainda assim crítico. No entanto, eu ainda não sabia o que tinha acontecido com ela. E é disso que Ryan está a tratar saber, falando em privado com o médico responsável por ela.

Olhei para o monitor, vendo o registo do bater do seu coração. As lagrimas secaram durante a madrugada mas, agora, ao observar os raios de sol proveniente da janela a baterem suavemente no seu rosto, mais lagrimas ameaçam nascer em conjunto com a culpa que se começou a apoderar de mim enquanto observava a sua figura.

-Desculpa.- Sussurrei, a minha garganta seca e presa.- Lamento tanto.- Um soluço escapa dos meus lábios e eu aperto suavemente a sua mão, onde um cateter está instalado entre os pequenos cortes que o copo de vidro que ela segurava fez quando partiu. Levo-a aos meus lábios suavemente antes de voltar a olhar para o seu rosto. A mascara de oxigénio priva a minha visão para os seus lábios e os seus olhos estão fechados, toda ela relaxada enquanto os seus cabelos formam uma confusão selvagem na almofada. Ela não tem marcas visíveis, para além de algumas mazelas pequenas, mas mesmo assim é difícil olhar para ela. Não era como a ver dormir e apreciar a sua beleza. Agora era como a ver morta, sem qualquer sinal de vida além da sua respiração artificial.

A porta do quarto abre-se atrás de mim, fazendo-me olhar por cima do ombro para ver um Ryan acabado, cabisbaixo e com os cabelos bagunçados por, tal como eu, ter estado a passar as mãos por ele nas ultimas horas.

- Encontrei o Edward, ele levou a Samantha para casa.- Disse, o seu tom de voz rouco mais baixo do que o normal. Colocou-se a meu lado, os seus olhos verdes como os de Victoria estavam sem vida, tal e qual como eu me sentia agora.- Estás aqui há horas, não queres ir descansar?

- Não.- Abanei com a cabeça.- Eu não a posso deixar.- Falo, decidido. Não havia nada neste momento que me fizesse deixa-la, e ele pareceu perceber isso. A mão do meu patrão descansa no meu ombro, forçando-me a encará-lo.- Não vou deixa-la, ela pode acordar e...

-Louis, ela está em coma.- Ele engole em seco, o seu olhar desviando-se por momentos para a irmã.- Ela não vai acordar tão cedo.

- Em coma?- Questiono. O outro assente.- Porquê?- Ele suspirou antes de responder.

-Encontraram uma substância invulgar no sangue dela. Ela está tão fraca que tiveram de lhe induzir o coma, também porque não sabem se isto teve consequências no seu cérebro, uma vez que alguns dos órgãos estão a ficar prejudicados.- Disse.- Ainda não sabem que tipo de substância foi usado nela, mas estão a suspeitar que foi por administração oral.

As suas palavras deixaram a culpa ainda mais pesada sobre os meus ombros. Quem quer que lhe tenha feito mal, fê-lo porque anda atrás de mim e eu vou descobrir quem foi, eu tenho de descobrir.

- Não sabem quanto tempo o coma vai durar?- Inquiro.

- Depende dos efeitos secundários. O médico disse algo como de alguns dias a meses, no mínimo dos mínimos quarenta e oito horas.- Informou-me.

Eu fico em silêncio, e o meu silêncio falou por mim, não havia nada a dizer e ambos tínhamos consciência disso. Os bips das máquinas e o som do oxigénio a ser sugado foram os únicos barulhos ouvidos por um longo período de tempo, até o irmão de Victoria se decidir sentar num cadeirão que havia do outro lado da cama. Aproveitei esse momento para me debruçar sobre a cama cuidadosamente, observando-a, os lençóis brancos fazendo contraste com a escuridão dos seus cabelos e as suas feições compridas mais pálidas por detrás da mascara que usava. Deixei um beijo leve na testa da habitante da minha mente, sentindo uma correte elétrica a repelir-me ligeiramente.

Diabos, eu estava a ficar louco.

- Tu gostas dela.- A voz cansada e grossa soou, apanhando-me desprevenido, e eu não percebi se Ryan estava a fazer uma afirmação ou uma pergunta. Em contraste com toda a tristeza que pairava entre nós, um pequeno sorriso escapou-lhe quando fiquei sem reacção perante as suas palavras.- Fá-la feliz, é tudo o que te tenho a dizer.

- Eu irei.

Se ela sobreviver.


N/A- Bem, eu não sei o que vocês acham mas cá para mim isto não me cheira bem e vai haver estrilho. Eu não sei bem o que dizer porque continuo com a sensação de que vocês me vão matar por isto mas é tudo por uma boa razão, pensem comigo, agora com a Victoria de baixa... podemos descobrir mais sobre quem anda a fazer as ameaças ne? É, deve ser. 

Time.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora