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Sábado, 20 de Fevereiro de 2016.

Quando a nossa vida começa a rodopiar constantemente, atravessando períodos de tristeza consumista e felicidade avassaladora, é crucial para a nossa sanidade mental manter em equilíbrio os factores favoráveis e prejudiciais, tendo em conta a que é essencial para a nossa sobrevivência a presença disso mesmo, sanidade. No entanto, falar na minha posição torna-se fácil e realizar estas ultimas palavras demasiado difícil, embora de alguma maneira ainda me mantenha rijo ao ponto de não me submeter a uma recaída profunda, como poderia, eventualmente, acontecer quando conjugados os acontecimentos que atormentam a minha existência. Pressinto, demasiado bem e de uma forma inquietante que há algo errado ao meu redor. Quase como o pressentimento fictício dos filmes de terror, quando o protagonista sente que o perseguem. Todavia, não era totalmente assim que se poderia definir o meu estado. Eu sentia que algo estava mal, terrivelmente mal. Para além do envelope que chegara à minha posse faz quase duas semanas, havia igualmente equívocos, vários até, em tudo isto. E a nota, a palavra "Delírio" entrelaçada naquela pequena porção de papel, apenas serviu para reforçar a minha ideia.

Deixei que a minha cabeça perturbada voltasse ao mundo real quando, em cima da mesa da cozinha ainda repleta de vestígios do meu almoço não consumido, o meu telemóvel emitiu o som, não muito divertido, que sinalizava o contacto de alguém.

-"Louis Tomlinson."- Atendi, num tom dignamente formal, ainda que a minha voz fosse demasiado arrastada para pronunciar algo decente. Por vezes a exaustão e a cadência psicológica tomam conta de uma pessoa. Ou de um Louis devastado, não esqueçamos.

-"Pensei que tivéssemos ultrapassado a parte do profissionalismo."- A sua voz ecoou do lado oposta da linha, arrastando um pouco da neblina nostálgica que sobrevoava a minha cabeça. No final de contas, ela era das poucas, senão mesmo a única coisa de bom que ainda possuo.

-"Profissionalismo nunca é demais."- Retruquei, ainda que com uma falsa alegria estampada no meu tom.-" Como estão as coisas na universidade?"- Anotei mentalmente que deveria começar a ter em atenção o nome da pessoa que me ligava.

-"Definitivamente mais tranquilas."- Suspirou.-" Mal tive tempo de sair o resto da semana, sem falar que o Ryan trouxe um colega de faculdade para jantar e tive de reorganizar os programas. Não gosto de facilitar as coisas em alturas mais exigentes."- Confessou.- " De qualquer maneira, e tu? Como foi a tua semana?"

-" O habitual, acho. Excluindo o facto de todos me olharem de esguelha. Por vezes, sinto-me como se voltasse ao secundário."- Gracejei ironicamente, obtendo um riso breve da sua parte.

-" Eu disse-te que iria ser assim. "

-" Não me estou a queixar. Há muito tempo que as opiniões alheias deixaram de ter importância nas minhas escolhas e decisões."

-" Concordo."- Anuí, ainda que ela não me pudesse ver.-" Ouve, a Samantha está quase a chegar com o namorado, ela perguntou-me se tu também virias. Então, lembrei-me de te convidar."

-" Não sei Victoria."- Ponderei.

-" Aceita. Vá lá, somos amigos e a Sam teve uma boa impressão de ti. Além do mais, estar no seio de um casal feliz não é propriamente um programa divertido."- Gargalhou, fazendo-me sorrir inconscientemente.

-"Tudo bem."- Cedi.-" Precisas que leve algo?"

-" Sim, na verdade, preciso."

-" O quê?"

-"Boa disposição."- Declarou, transportando um sorriso anónimo até às minhas feições.

-" Assim farei"- Prometi.-" A que horas?"

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora