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Quinta-feira, 17 de março de 2016.

Todas as cores têm um significado para qualquer um de nós. Diferente ou semelhante de uns para outros, há sempre um significado atribuído.
O vermelho, por exemplo, eu associo à raiva, ao perigo, ao sangue e ao amor. Por sua vez, o branco é simples, simboliza paz. O preto é vazio, associado às coisas más ou à própria escuridão da noite, que nem sempre é tão malévola quanto tenta transparecer. Existem tantas cores, tantos tons e diversificados significados para cada um deles que é impossível nomeá-los a todos, ou ter mais do que uma visão de cada cor. A única questão que coloco é:
Se tivesse de escolher uma cor para ver o resto da minha vida, qual seria?
E é uma questão que me deixa a pensar.
Quer dizer, seria possível ver todos os dias, apenas uma misera cor sem me cansar? Sem dar em doido – quer dizer, mais do que já sou.
E as respostas que me ocorrem giram todas à volta de verde. Um verde enigmático, translucido, cativante e vibrante que significa tudo o que eu mais gosto neste mundo. O verde lembra-me dela, e ela significa tudo para mim. E, muito embora a ideia de uma cor fixa seja aborrecida e cansativa, desta cor, da cor dela, eu nunca me iria cansar, disso tenho a certeza.

A minha cabeça crepita exaustivamente como se fosse uma fogueira atiçada com gasolina. Estico os dedos, uma das poucas partes que não tenho agarrado, e tento controlar-me ao máximo enquanto a maca avança ao longo do aparelho de ressonância magnética.

O barulho ensurdecedor da máquina parece manifestar ainda mais a minha angústia, e sinto uma reviravolta dentro de mim. Apetece-me chorar. Contudo não o faço. Não me renderei à dor, à fúria ou à dúvida. Serei capaz de aguentar isto, por ela, por mim, principalmente por ela. Sei que se não o fizer, quem sofrerá não serei eu, mas sim ela.

Ela.

Era tudo o que me preocupava. Não havia dor que não suportasse, medo que eu não enfrentasse, dúvida que eu não descartasse por ela. E, embora queira sair daqui, terminar com esta tortura que visa a aumentar, sei que não é o momento certo, e terei de esperar.
Uma espera exaustiva e extenuante me aguarda, mas sei que mais cedo ou mais tarde irá compensar. Afinal, não era propriamente a primeira vez que era sujeito a este tipo de experiencias, portanto espero não vacilar.

Quando saio da ressonância, não digo uma palavra enquanto Martha e uma outra assistente se dirigem a mim e eu me volto a sentar na cadeira, onde sou novamente preso, muito embora já tenha cedido a isto, outra vez.

- Martha.- Chamei quando a assistente se afastou.- O que é que vocês estão à procura em mim? Quer dizer, que tipo de investigações estão a fazer ao meu corpo?- Os seus olhos negros fitam-me. Parece ser a única pessoa minimamente humana por aqui.

- Eu não sei muita coisa, só sigo ordens de superiores.- Diz calmamente, franzindo as sobrancelhas.- Mas pelo que sei, só estão a tentar avaliar o teu sistema nervoso e tentar descobrir a origem de algo que eu suspeito estar ligado à tua atividade cerebral.

- Os meus delírios? Quer dizer, visões?- Pergunto.

- Sim.- Ela fita-me, os seus olhos arregalados.- Admites que os tens?

Assinto com a cabeça. – Todos os que me rodeiam neste sítio parecem saber, para quê negar? – Encolho os ombros em indiferença, sorrindo forçadamente.

-Sim, de facto não há grande vantagem.- Murmura pensativamente.- Disseram-me que já estiveste numa situação idêntica a esta.- Fala, e algo no seu tom soa como que a uma pergunta. Pondero antes de lhe responder.

- Bem, aos oito anos fui internado num hospital psiquiátrico em Inglaterra.- Decido abrir o jogo.- Estive em Bethlem até aos doze anos, e enquanto lá estive conheci um homem, um psiquiatra, que sempre manifestou um certo fascínio pela minha mente.- A mulher acompanhava a história atentamente.

- De que tipo de tratamento eras alvo no hospício?- Perguntou, interrompendo levemente a minha narrativa.

- Essencialmente medicamentos, alguns dias na solitária e sedativos nos primeiros meses.- Contei.- Nenhum deles chegou a nenhuma conclusão sobre o meu problema, e acabei por sair de lá pior do que entrei. Na verdade, foi nesses tempos de cativeiro que as imagens na minha cabeça começaram a ser mais intensas e as visões mais prolongadas, algumas até tinham som.

- Fascinante.- Sorri, deslumbrada pela minha insanidade. Não a julgo, afinal, quem está ligado à neurocirurgia tem tendência a excitar-se com este tipo de invulgaridades. – Continuando, falavas de um homem...

- Ah sim.- Rebobinei.- Após deixar Bethlem Royal, estive com a minha família novamente, ainda que revoltado.- Apontei.- Foi aos quinze anos que esse tal homem me abordou, dizendo que me poderia ajudar como não me tinham ajudado antes.

- E tu aceitaste?

Acenei afirmativamente.- Eu era um adolescente isolado, demente e demasiado preso às imagens da minha cabeça. Precisava de ajuda, e ele dispôs-se. Eu aceitei, e nesse mesmo dia tive a minha primeira seção de choques.

-Choques elétricos?- Arquejou.

- Sim, ele tinha uma espécie de sala de tortura por conta própria numa garagem. Bizarro não?- Ri sem graça.- Ele experimentou alguns químicos também, alguns que me deixavam sem puder comer durante uma semana, outros que transformavam a minha cabeça numa bomba relógio de delírios mas o pior de tudo eram os choques.- Desabafei.- Era como se a corrente se apodera-se do meu cérebro e a dor psicológica se alastrasse. Era horrível como até as minhas pontas dos dedos pareciam doer.

- Isso é desumano.- Comentou, compaixão nos seus olhos.

O meu silêncio concordou com ela.- Ainda assim, nem tudo foi em vão.

- Não?

-Não.- Reforcei e suspirei antes de continuar.- Muito embora tenha sofrido bastante durante esse tempo, eu encontrei-a sabes, conheci-a.

- Quem?- Inquiriu, totalmente interessada.

- A única pessoa que guiava os meus delírios, tudo se relacionava com ela, muito embora não a conhecesse, até há uns meses.

- Então todas as tuas alucinações devem-se a uma mulher?- Anuo.- Uma mulher que nem sequer conhecias?

-Sim. Parece mentira, eu sei.- Sorri levemente, tentando amenizar as dimensões doentias da minha mente turbulenta.

- Mas deve haver alguma razão para ter sido ela. Descobriste-a? Quer dizer, descobriste a razão quando a conheceste?- Martha não estava apenas curiosa, ela parecia querer desvendar a minha mente, e acreditei que me queria ajudar ao fazê-lo.

- Não, mas descobri outra coisa.- Ela fita-me à espera que eu lhe confesse o que descobri.

- E então?- Pressiona. Olho-a intensamente, um sorriso verdadeiro a apoderar-se do meu rosto.

- Eu descobri que a amo.

Ora bem delirantes, aqui está, o Louis admitiu o que sentia pela victoria, muito embora ja todos soubessem disto ( I mean, ele está caidinho pela habitante da sua mente) mas, como em toda a realidade, nem sempre o amor é suficiente e a situação dele não tende a melhorar.
Mas de qualquer maneira, isso são coisas que podem saber nos proximos capitulos, entretanto... eu adoro cada um de vocês. A serio, eu tenho um amor tão grande por esta historia, invisto grande parte de mim nela e o vosso apoio, o simples facto de continuarem a ler... é reconfortante sabem? E eu nunca me vou fartar de agradecer-vos por isso. Obrigado, mais uma vez

Time.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora