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Domingo, 31 de Janeiro de 2016.

A noite é a altura em que as trevas dominam o mundo. Toda a luz solar se desvanece, deixando tudo numa penumbra indescritível. Nem mesmo as estrelas estão presentes na noite de hoje.Tudo é negro e sinistro porém, feliz ou infelizmente, a noite não é silenciosa. Mesmo que toda a escuridão seja tenebrosa o silêncio não prevalece nas ruas encanecidas de Chicago. Haverá sempre algo a perturbar a tranquilidade. Desde o barulho exaustivo de um bar ao simples barulho de um gato a vasculhar os caixotes do lixo. Talvez a noite seja como a vida, faria sentido. Por muito calma que a tua vida aparente estar haverá sempre algo que visa aniquilar essa passividade, obstruindo as tuas hipóteses de equilíbrio.

O som oco de tacões ecoa através da rua, fazendo o meu corpo enrijecer. Elevo discretamente o meu olhar até à direcção do ruído. Não muito afastada, ela caminhava apertando o seu casaco contra si, tal como no meu pensamento. Caminha apressadamente e perscruta as horas no seu relógio, acelerando cada vez mais o seu passo. Ela aproxima-se, fazendo o meu ser estremecer de receio. No final de contas, qual era realmente o meu plano? Aborda-la com um pretexto aleatório? Ela iria achar-me louco, mais do que já sou e isso não é algo, definitivamente, que eu deseje.

- Age naturalmente.- Ordeno a mim mesmo, desencostando-me do candeeiro de rua. Eu precisava de a voltar a ver nem que fosse apenas para poder rever o seu olhar encantador.

Reuni as minhas forças, deixei as minhas alucinações de lado e, num ato de coragem, caminhei até ela. Ao tempo que eu dou um passo, ela corta numa rua algo mais à frente. Bufo, constrangido, e paro o meu avanço. Talvez fosse um sinal. Talvez fosse o destino a contrariar a minha vontade. Talvez o mundo queira que ela permaneça na minha mente, tal como sempre permaneceu. Lanço o meu olhar para o chão, enfio as mãos nos meus bolsos e giro sobre mim próprio. Começo a afastar-me lentamente, chutando alguns amontoados de neve no passeio, pensando que deveria ter permanecido na minha terra natal. Nunca deveria ter viajado para os estados unidos apenas com uma mera hipótese de a encontrar.

Porque tinha ela de atormentar a minha mente?

Antes que pudesse responder, algo em mim me fez estacar. Por instinto eu viro-me, correndo através do negrume, sem saber ao certo o porquê. Algo em mim palpitava, incitando-me a segui-la. A minha mente oscilava, gritando para que eu a seguisse. Sem forças para contestar, foi o que fiz, guiando-me por um delírio consciente.Entrei na rua em que ela virou e mal o fiz, o ar ausentou-se dos meus pulmões.

- Dá-me o dinheiro, os códigos dos cartões de créditos e tudo ficará bem para ambos os lados.- Uma voz arrastada proferia, alto o suficiente para me permitir ouvir enquanto me aproximava. Ela permanecia petrificada, os seus olhos bastante arregalados.Eu poderia sentir o frio da lâmina contra o seu pescoço -Vá lá boneca.- A sua mão percorreu o seu tronco, fazendo-me cerrar os dentes. A mão dela tentou lutar contra ele, mas os movimentos foram-lhe cortados, impedindo que continua-se a resistir. Senti a raiva borbulhar no meu íntimo, elevando os níveis de adrenalina no meu organismo. Antes que ele pudesse fazer algo mais, o meu pé teria acertado na zona traseira do seu joelho, derrubando-o e agarrando os seus ombros, desferindo-lhe um soco extremo que o deixa atordoado.

-Nunca mais tocas nela.- Digo entre dentes, num tom reduzido para que apenas ele o pudesse ouvir. Empurro-o brutamente e afasto-me do seu corpo ainda repousado no chão, entre as réstias de neve.

Ela estava sentada contra uma parede, não muito afastada. As suas mãos amarravam os seus joelhos enquanto ela olhava sem expressão para a parede à sua frente, com algo indecifrável a percorrer-lhe o olhar.

" Vá lá Louis, tu precisas disto. ELA precisa disto." O meu subconsciente incentiva-me, fazendo-me estender-lhe uma mão. Ela olha-me com os seus olhos cristalinos, transmitindo-me alguma confusão por detrás de toda a sua postura. Sorrio-lhe de lado, impulsionando-a a aceitar a minha mão. Ela ergue-se por si, descartando a minha ajuda.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora