-11th-

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Sexta-feira, 12 de Fevereiro de 2016.

Existem dias em que tudo parece estar bem, calmo e tranquilo. Este não era, definitivamente, um deles. Aliás desde a noite de quarta que nada é sereno. Tudo à minha volta parece suspeito, merecendo a análise pormenorizada da minha mente. Todo eu estava em alerta constante. A angústia começava a remoer o meu íntimo de maneiras desgastantes e intensas, não tenho ideias do que poderia estar prestes a acontecer, ou até já se encontrar a decorrer. Melhor, tenho palpites, demasiados até, mas acreditar neles é demasiado terrífico.

Abandono o meu escritório, arrastando comigo a neblina de incertezas e receios que ocupava sem consentimento o meu espirito. Ao chegar à ressecção o meu nome foi aclamado, mas não pela despedida habitual pela parte de Abigail. Esta voz era um tanto mais grave, não perdendo a feminidade. Então reconheci o timbre harmonioso, originando uma descarga de surpresa em mim, provocando uma enorme pressão na minha mente. Estaquei por completo ao sentir a dor consumista invadir a minha presença condenada. Cerrei o maxilar, tentando manter interior o que se passava em mim. Num último acumulado de sofrimento e reboliço de imagens, formou-se a tão esperada sequência de factos, criando o delírio do momento.

Uns suportes tão delicados, revestidos da mais pura e cálida pele que já mais haveria visto. Eram tão delicados, assemelhados ao divino, simples e puros. Pés de anjo.

-Louis.- Um toque no meu braço despertou-me, levando-me a focar o meu olhar na mulher intrigada que me contemplava de forma atenta.

-Victoria.- Soei num suspiro, logo limpando a minha garganta.- A que se deve a tua presença?-Sorri, já um pouco reconstruido ao tempo que a dor parecia afastar-se quase por completo.

- Precisava de falar contigo.- Lançou num tom de voz agora abatido.- Esperava que saísses para podermos falar um pouco.- Falou, levando-me a fitar o meu relógio.

- Esperas há muito tempo?

-Desde o fim do teu horário de trabalho. Não quis interromper.

-Podias ter entrado, para além de seres algo como dona da empresa, estava apenas a adiantar trabalho, visto que me ocupa a cabeça.- Expliquei, sorrindo de lado.

- Achei por bem não interromper.- Afirmou cordialmente.- Podemos conversar num outro sítio? Apenas alguns minutos.- Pediu.- Aqui não é muito discreto.- Segredou. De esguelha consegui decifrar olhares de trabalhadores de passagem que nos fitavam com interesse, alguns com intriga espelhadas nas suas expressões.

-Claro.- Assenti.- Bom fim-de-semana Abigail.- Despedi-me como já é habitual e caminhei com Victoria até ao exterior, observando o movimento das suas ancas esculpidas de forma generosa a movimentarem-se até um automóvel cinza. Desviei a minha atenção por segundos da sua figura encarando o Aston Martin cujo design tiraria o folego a qualquer um.

-Entra.- Disse abstraidamente, ocupando o lugar do condutor.

-Está tudo bem?- Indaguei ao deslizar para o lado de pendura. Ouço-a suspirar profundamente e afundar-se no banco de cabedal, fitando o tecto.

-Tens visto os noticiários ultimamente?- Nego com um aceno, observando os traços tensos nas suas feições.

-O tempo ultimamente é muito apertado.- Justifico, sabendo que a minha mente tem estado numa luta constante entre o trabalho e as ameaças silenciosas emanadas pelo envelope que chegara à minha posse.- Há algo de importante nas notícias?

-Vê por ti próprio.- Exaspera, vasculhando na sua mala e esticando-me uma edição da "In Touch". Fiquei despistado nos primeiros instantes, ao aceitar a revista, porém, a intriga deu lugar ao espanto quando contemplei o título em destaque na capa, acompanhado por uma imagem comprometedora.- Isto é horrível.- Barafusta, afundada nos seus braços.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora