-14th-

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Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2016.

Por vezes acontecimentos profundos, de uma destruição implacável, provêm de realidades imperceptíveis, quase insignificantes que, passo a passo, começam a progredir pacientemente. Esse é um facto que tenho aprendido a considerar seriamente mas que não tenho conseguido encarar por completo.

Sabia que existiam pormenores importantes a desenvolverem-se tanto em mim como ao meu redor. Todavia, não sabia como prever o desfecho da sua junção. As situações que ocorriam eram cada vez mais incomplexas, mais intrigantes, mais estranhas e absolutamente sem sentido aparente.

Dos únicos (senão mesmo o único) aspectos evidentes era a hipótese incontestável de que havia alguém a perseguir-me. Alguém que conhecia o meu passado de alguma forma, alguém que sabia que eu estava aqui, alguém que sabia quem era, na verdade, a habitante da minha mente. Ou talvez não soubesse tudo isso, mas, decerto, tinha uma ideia muito aprofundada. Isso era inegável.

- Entre.- A voz monótona e gasta de Joseph conseguiu trazer-me à realidade e percebi que ainda não tinha tocado no relatório que tinha à frente. Definitivamente, não estava no auge do meu profissionalismo.

-Peço desculpa.- Baixa, morena e não muito atraente, adentrou no gabinete, dirigindo o seu olhar estreitado nos cantos para mim, prosseguindo.- Louis Tomlinson?- Questionou.

-O próprio.- Assenti. Notei a descendência asiática nos seus traços.

- Mrs.Lee pediu-me para o informar que deveria comparecer dentro de quinze minutos no seu gabinete.- Arqueei as sobrancelhas, sendo apanhado de surpresa com a sua mensagem.

- Não tinha nada agendado.- Retruco, erguendo-me, ajeitando as golas da minha camisa azul-clara.- Precisa de alguma coisa da minha parte?

- Provavelmente. Não tenho acesso a esse tipo de informações. Sou apenas assistente.- Explica, um pouco em tom de desculpa.- Acompanho-o até lá.

- Conheço o edifício, não precisa de se ocupar.- Dispensei gentilmente. Na verdade, simplesmente não queria ter de ficar na sua companhia, pois a proximidade para com outros entes da sociedade não me possibilita pensar corretamente e deixa-me nervoso, por vezes desencadeando momentos alucinantes.

-Lamento. Tenho de cumprir ordens.- Encolheu os ombros.

-Tudo bem.- Suspirei, encostando a minha cadeira.

Antes de abandonar a sala vislumbrei o semblante de Joseph que, embora já estivesse voltado para os arquivos, estava, muito provavelmente, equivalente ao meu. Ainda que fosse eu quem estivesse a viver de facto a situação.

Cedi passagem à mulher, sendo instruído pelas normas de etiqueta. No elevador, ninguém teve a necessidade de formar conversa, o que agradeci vivamente a Deus, ainda que não esteja totalmente convencido da existência de um ser superior e com puderes divinos. Quando, por fim, a viajem terminou, não estabelecemos nenhum contacto visual ou algo mais. Limitei-me a bater à porta indicada e esperar por permissão, o que acabou por chegar segundos depois.

- Bom dia.- Saudei com um aceno cortês. Dei um olhar em volta, percebendo que o seu gabinete era maior, talvez o dobro, do que o que eu e Joseph partilhava-mos. Não havia decoração, apenas longos vitrais com vista para Chicago, uma mesa para pelo menos doze pessoas um pouco mais afastada e, por fim, a secretaria principal onde Kristen me esperava, olhando para o monitor do vigoroso computador à sua frente.

- Bom dia Mr.Tomlinson.- Retorquiu.- Sente-se.- Apontou para a cadeira em frente à sua, a qual foi então ocupado por mim.

-Mandou chamar-me Mrs.Lee.- Disse, observando a sua postura extremamente correta e o seu visual impecável e estritamente formal.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora