-7th-

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Sábado, 6 de Fevereiro de 2016.

A água caiu em cascata pelos meus ombros, espelhando o estado de decadência constante em que a minha vida sempre se resumiu. A água limpava a sujidade do meu corpo, arrastando consigo as impurezas, porém não levava com ela a nuvem tenebrosa que assombrava a minha alma. A água não levava a dor ou até mesmo a lembrança, não levava o sofrimento consumista que avassalou a minha alma danificada nos últimos dias, meses e anos.

Abandonei o chuveiro, secando o meu corpo com a áspera toalha branca. Os meus cabelos foram bagunçados pelo tecido, deixando-os levemente levantados. Pendurei a toalha no devido suporte e aproximei-me do lavatório, enchendo o mesmo com água de modo a fazer a barba. Aparei os pedaços que começavam a despontar, tornando a minha cara praticamente lisa de modo a proporcionar-me um ar mais sofisticado e formal. A camisa branca foi cuidadosamente colocada por dentro das calças formais azuis escuras. Uns sapatos castanhos clássicos ocuparam os meus pés para que depois o blazer de um só botão cobrisse o meu tronco, finalizando o conjunto.

Examinei a minha imagem ao espelho, ajeitando o meu cabelo para trás. Fora-me dito que o evento de hoje, como sendo o aniversário do patrão e da empresa, contaria com presenças importantes e para tal todos deveríamos cumprir as normas básicas de uma gala. Alcancei o convite repousado em cima da cómoda e coloquei-o no bolso interior do blazer. Ajeitei os colarinhos da camisa e, pegando na chave, abandonei o meu apartamento, dirigindo-me para o carro. Liguei a ignição e pus o cinto de segurança, observando o mapa no verso do convite. O local assinalado era um pouco longe de onde eu habitava. Consultei as horas no meu relógio de pulso e verifiquei que ainda dispunha de meia hora. Sem mais demoras, mergulhei no pouco transito e, seguindo as indicações do aglomerado de linhas que formava o mapa, acabara por ver as várias ruas indicadas a passarem no exterior.

A cada quilómetro que viajava os edifícios e construções tornavam-se menos concentrados e pude perceber que estava a abandonar a cidade. O por do sol já era visível e intensificava-se à medida que o tempo ia passando. A neve parecia ter-se afastado de Chicago por algum tempo, o que se revelou óptimo, especialmente para a viajem de hoje.

Executei a ultima indicação que o mapa me fornecia, virando à direita num cruzamento. Uma fila de carros expunha-se à minha frente. Ao longe, captei a visão de uma casa formidável na qual os portões robustos estavam abertos. Os carros avançavam lentamente, aumentando em parte a ansiedade que se haveria formado nos confins do meu ser. Quando a entrada foi alcançada já tivera escurecido e apenas as luzes artificiais resplandecentes iluminavam toda a área. Dois homens encorpados, vestidos em fatos negros, encontravam-se à entrada dos portões. Um deles possuía um conjunto de folhas e um auricular no seu ouvido.
Baixei o vidro quando me encontrava à sua frente.

-Nome.- O encorpado meio que exigiu, num tom forte.

- Louis Tomlinson.- Informei. Ele vasculhou o agrupado de papéis enquanto o colega a seu lado permanecia de maneira imóvel e com uma expressão ausente.

-Pode entrar cavalheiro. Desejamos-lhe uma boa noite.- É-me dada permissão, fazendo-me sorrir cortesmente, assentindo com a cabeça. Volto a subir o vidro do carro, entrando gentilmente pelos ilustres portões. Um empregado indica-me um lugar para estacionar entre o enorme conjunto de carros que variam desde viaturas semelhantes à minha até limousines exuberantes e dispendiosas. Abandono o veículo e o meu queixo cai ligeiramente o encarar tamanha luxuosidade. Uma tenda colossal e sofisticada é iluminada por dezenas de holofotes brancos, alguns flashes mais fortes captam a minha atenção, observando fotógrafos à entrada que aguardam a chegada de todos os convidados. Ajeito o casaco e tomo ar nos meus pulmões de modo a descontrair. Num passo decidido e cuidadoso, avanço sob o terreno até me colocar na fila de espera para a entrada que avança a um ritmo suportável.
O meu nome é-me pedido de modo a confirmar novamente a minha presença na lista de convidados, após isso uma máquina de fotografia, aparentemente profissional, dirige-se ao meu rosto, levando-me a sorrir naturalmente.

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora