-28th-

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Terça-feira, 15 de março de 2016.

A escuridão da noite é carga que me acompanha.
Parece irónico metaforizar os meus sentimentos com uma realidade tão neutra como a noite, tão previsível e, em parte, monótona quando dentro de mim a última coisa que reside é calma e monotonia. Mas, de certa forma, por mais que o meu íntimo se contorça em emoções e exista vitalidade em mim, toda a camada de sentimentos que hoje se aglomera nas minhas entranhas não vai muito além de uma combinação de ansiedade e raiva. E, de uma maneira ou outra, a escuridão da noite é uma imagem perfeita desta combinação extenuante sendo, portanto, uma metáfora perfeita quando assemelhada ao meu interior complicado.

O vento fustigava as folhas das árvores do Grant Park, fazendo algumas esvoaçar ao longo dos trilhos, embatendo nos meus pés que, à semelhança de todo eu, ansiavam encontrar respostas. Grande parte de mim somente desejava descarregar a frustração em alguém e, por muito mau que isso possa soar, é a verdade, e ninguém melhor para isso do que a pessoa causador de todo o mal que aconteceu, não só a mim mas também a Victoria. No entanto, a parte consciente de mim-significativamente pequena- só pedia respostas a perguntas como "Porquê" ou "Quem". Mas, para isso, teria de encontrar o individuo com essas respostas.

Quando já ia a mais de meio do parque, um movimento vagaroso chamou-me a atenção no meio do reboliço constante do vento. Ali, num dos muitos bancos de jardim desgastados pelos invernos rigorosos de Chicago, estava a figura, sentada passivamente com as pernas cruzadas, as mãos nos bolsos e o seu perfil levemente iluminado pela luz do candeeiro de rua.

- Aguardava a tua chegada.- E foi com estas quatro palavras, com o levantar subtil do seu rosto na minha direcção e o vislumbre dos seus cabelos loiros platinados que eu percebi que nunca na vida tinha visto tal homem.

-Indicações mais precisas era uma boa ideia.- Falei calma mas firmemente, observando-o levantar-se nas suas botas envernizadas. Não tinha medo, não pensei em recuar, mantive a cabeça erguida e um olhar firme, pronto para o confronto que haveria de chegar.

Tinha um sorriso sinistro nos seus lábios, as suas mãos enterram-se no seu casaco escuro, retirando um maço de tabaco e um isqueiro que reluziu nas suas mãos.

- Louis William Tomlinson.- Disse, pausadamente, acendendo o cigarro.- O que procuras?

-Respostas.- Disse, um laivo de raiva a crescer dentro de mim perante a postura peculiar deste individuo. Ele parecia não deixar as emoções passarem pelo seu rosto, como uma estátua, todo ele era firme, atrevo-me até a dizer vazio.

-Respostas.- Murmurou, como quem pondera um assunto. Puxou o seu cigarro, fazendo-o queimar lentamente, para depois uma nuvem de fumo esvoaçar à sua volta e desaparecer arrastada pelo vento.

- O que queres de mim?- Inquiri, apertando os meus punhos.- Que ligação tens com o meu passado? Ou porque metes nisto uma inocente?- As questões eram tantas, e cada uma mais urgente do que a outra.

- Algumas perguntas não têm uma resposta.

- Mas estas precisam de uma. A bem ou a mal, eu vou descobri-las.- Assim que as palavras foram ditas, o seu olhar levantou-se até mim. E com uma passividade enorme e calculada ele falou:

- Não te chega já termos a Miss. Habitante numa cama de hospital?

E foi assim, com a sua calma, que eu perdi as minhas estribeiras. A menção de Victoria foi a gasolina para o fogo que se expandiu. Ela era o meu ponto fraco, sempre foi, e ele sabia-o. O meu movimento seguinte foi tão rápido, tão impulsivo e tão guiado pela raiva que quando ele percebeu eu já estava agarrado aos colarinhos do seu casaco, erguendo-o no ar com uma força que nem eu percebi de onde vinha.

- O que é que lhe fizeste seu merdas?- Cuspi na sua cara.

- Eu não lhe fiz nada.- E ainda assim, agarrado por mim, vendo a minha raiva fulminante, ele continuava calmo. O que me irritou ainda mais.

- Então quem foi?- Só via vermelho, no momento, era só vermelho.- Diz-me! O que queres de mim? O que queres dela? Diz-me seu filho da...- Uma dor forte. Uma picada infernal que se alastrou no meu braço, fazendo-me arregalar os olhos, vendo pela primeira vez uma emoção no seu rosto: triunfo.

E a última coisa que me lembro de ter ouvido foi um grito muito forte, agitado, frenético da única pessoa que a minha mente ouvia:

Consegues ouvir-me?


N/A- Saudações caros delirantes!
Peço desculpa pelo atraso enormissimo que cometi mas, aqui está Delirium de novo, e com mais um capitulo e... com mais um mistério? who knows? Quem é este individuo? o que irá acontecer?

Descubram no próximo episódio de Delirium! Não percam porque nós também não!

XxTime

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora