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Quarta-feira, 16 de março de 2016.

Há pessoas que vivem somente porque sim, não sabendo ao certo o que fazer, ou mesmo que são, nem se dão a grande trabalho de fazer algo contra isso. E isso não é algo a que se possa chamar de "vida" mas sim de uma mera existência.
Ora, existir implica unicamente respirar, fazer as coisas por fazer, quase como uma mera obrigação ou acaso.
Mas viver, viver implica fazer as coisas com amor, com vontade. Viver implica tornar o comum extraordinário, tornar o mero acaso que é a nossa existência em algo incrível e único.

Viver é saber, criar, inovar.
Viver implica, acima de tudo, ser feliz. O que não é fácil, mas é toda essa luta pela felicidade que nos torna de meros existentes em verdadeiros portadores de vida.

O som de passos ecoava nos meus ouvidos em conjunto com um estranho cheiro a químicos e desinfectante à medida que recuperava os sentidos. A visão desfocada e uma dor aguda no meu antebraço pareciam trazer-me à realidade mais rapidamente, enquanto um aglomerado de pressão se gerava na minha cabeça.

- Pressão arterial a aumentar, injetem. – Ouvi, e a minha visão focou-se numa mulher de óculos brancos cujo contraste com a sua cor de pele negra me atordoou. Ela segurava um monte de papéis, e ditava ordens para quem quer que fosse que a estivesse a ouvir.

Tentei levantar a mão, não consegui. Ambos os meus pulsos estavam presos à cadeira onde me encontrava sentado. Não me lembro de muita coisa, mas a ultima imagem que tenho é daquele homem loiro, e a minha última memória é daquela dor que se alastrou ao longo do meu braço antes de perder a consciência.

- O hipotálamo não reage.- Voltou a falar a mulher negra, deslocando-se até perto de mim.

- Quem és tu?- Perguntei, franzindo as sobrancelhas numa carranca quando ela me agarrou no que descobri ser um cateter enfiado no meu braço. Então senti um líquido entrar-me na corrente sanguínea.

- Martha.- Disse e colocou-se de frente para mim.- O que sentes?

- Tira-me isto.- Disse, ignorando-a. Ela abanou a cabeça.

- Não posso.- Olhou para o lado, onde um agrupado de gente se dirigia a nós. Martha afastou-se.

- Como está a reagir?- Um dos homens, que utilizava uma bata e que deveria ter uns dois bons dois metros, perguntou à mulher que falara comigo.

- Injetei uma nova quantidade, não deve tardar a fazer efeito.- Falou.- A atividade cerebral aumentou cerca de quinze por cento nas últimas duas horas.

- Algum sintoma?

-Nenhum até agora.- Os olhos escuros de Martha fitaram-me brevemente.

Então as atenções de todo o grupo viraram-se para mim. E enquanto fitava cada um deles, reconheci-a.

- Abigail?- Murmurei, ela deu um passo em frente, ruborizando levemente como já era costume. Todos os outros que a acompanhavam dispersaram pelo laboratório, Martha também se afastou.

- Louis.- Retorquiu a antiga recepcionista.

- Foi por isto que abandonaste a empresa?- Inquiri, um tanto ou quanto surpreendido.

- Eu nunca lá trabalhei por trabalhar.- Disse.- É um facto que desconheces, mas também há aqui muita coisa que não sabes.

-Não me digas.- Soei sarcástico, observando-a intensamente. - O que é isto?- Referi-me a todo o aparato e, evidentemente, ao meu corpo preso a esta cadeira.

- Descobrirás com o tempo.- Fez uma pausa, olhando em volta.- Não te posso responder a isso.

- Pensei que eras...

- Sou uma neurocirurgiã formada em Yale, fui contratada para estar perto de ti e vigiar as tuas reacções de perto.- Informou de rompante, apanhando-me desprevenido.

- Contratada por quem?- Esta era a derradeira pergunta.

- Já chega de conversa.- Fomos cortados pelo individuo de há pouco. Abigail desapareceu nesse instante.- Tu, o que sentes? - A sua voz fez a raiva agitar-se dentro de mim.

- O que é que querem de mim?- Grunhi, fazendo força nas amarras das minhas mãos. A minha cabeça começou a fervilhar, os meus pensamentos a agitarem-se compulsivamente.

- Queremo-los. Queremos a origem deles.- Disse, olhando-me de forma gélida, algum fascínio nos seus olhos.- Queremos saber tudo sobre eles.

- Do que estás a falar? – Franzi o sobrolho, intrigado. O meu interior dava voltas, a minha cabeça queria estourar.

- Queremos saber tudo sobre as tuas alucinações, sobre os teus delírios.

E eu explodi.

As suas pernas moveram-se rapidamente. Frenética, assustada, a sua face voltou-se na minha direcção e o medo percorreu cada traço da sua expressão " Louis!" – gritou – e depois caiu, tal como a escuridão caiu sobre mim.


Boa tarde delirantes, 

De novo, peço desculpa a minha demora mas acontece que estou a ponderar seriamente o que escrever nesta etapa, quer dizer, não é fácil porque tudo o que se passa no laboratorio é fictício, tal como na história em si, no entanto há certas coisas que tenho de estudar para dar um pouco de realidade e qualidade à história, tal como termos médicos e etc. Mas bem, já comeram cereais hoje? okay, pergunta random ahah
QUeria agradecer, mais uma vez, o facto de continuarem a acompanhar Delirium, por mais demorada que eu seja ultimamente... Obrigado, de verdade :)

Delirium ➵ L.TOnde histórias criam vida. Descubra agora