-- Está tudo bem? Sarah perguntou quando entrou na cozinha.
Fiz que sim com a cabeça e fui em direção a pia. O cheiro do sangue estava me deixando enjoada. Fechei os olhos com força antes de abrir a torneira para limpar o corte.
-- Tem certeza de que está bem? Perguntou.
-- É só um pouco de sangue. - disse.
-- Não molha. Vai demorar mais para coagular se deixar o sangue entrar em contato com a água. - Sarah me entregou um pedaço de papel toalha sorrindo um pouco.
-- Obrigada. - eu enrolei o papel no dedo apertando com cuidado.
Terminei de temperar o tomate que estava cortando com sal e azeite.
--O almoço está pronto. - disse.
Sarah pegou dois pratos no armário e me entregou um. Eu a encarei por um instante antes de pegar o prato dando um suspiro.
-- Você precisa se alimentar direito Nanda, se não vai ficar doente. - ela me repreendeu.
Revirei os olhos, minha irmã era quatro anos mais nova, mas ela cuidava de mim constantemente como se fosse ela a mais velha. E eu era muito grata.
-- Eu não estou com fome. - disse - Estou preocupada com Claudia. - me sentei na cadeira abaixando a cabeça sobre a mesa.
-- Ei, eu sei que não é nada fácil, mas se você não estiver bem não vai ter condições de ajuda-la. - Sarah se abaixou ao meu lado e pegou minha mão. - Come só um pouco.
Eu suspirei e então me levantei.
-- Você tem razão. Ela precisa de mim.
Ela sorriu para mim docemente.
-- Ela vai ficar bem. - Sarah pegou dois copos e colocou na mesa enquanto eu me servia. - Que tal irmos fazer uma visita para ela hoje? Perguntou depois de pegar o suco na geladeira.
Eu fiz que sim, e me sentei para comer.
Eu estava sim, muito angustiada com a situação em que Claudia estava, mas aquela não era a única coisa que estava me incomodando. Gustavo não retornava minhas ligações, e não respondia meus SMS. Estava ficando preocupada. Sabia que ele costumava me ignorar às vezes sem motivos aparentes, mas já fazia uma semana que ele não respondia a uma mensagem minha. Fui a sua casa algumas vezes, mas ele também não estava lá em nenhuma das ocasiões.
-- Onde está a mamãe? Sarah perguntou me tirando de meus devaneios.
-- Na sala eu acho. - dei de ombros.
Meu pai entrou na cozinha acompanhado por minha mãe. Meu pai beijou a testa de Sarah quando passou por ela e se sentou ao meu lado.
-- Oi pai. - Sarah sorriu abertamente.
Minha mãe serviu meu pai e colocou o prato em sua frente e depois se juntou a nós na mesa.
O cabelo de minha mãe estava amarrado em um rabo de cavalo desgrenhado com algumas mechas soltas. Ela sorriu para mim quando percebeu que eu a encarava.
Retribui o sorriso.
Minha mãe sempre foi uma pessoa muito doce, mas a convivência com meu pai a deixava estressada a maior parte do tempo. Era muito difícil vê-la sorrindo.
Meu pai e eu nunca fomos muito próximos, desde que me entendo por gente a nossa relação sempre foi muito conturbada. Nos momentos em que paro para pensar na figura paterna que ele é, as únicas coisas que me veem a mente são as brigas e os gritos que tivemos. Não consigo me lembrar da ultima vez que ele me pegou no colo ou me colocou para dormir. Não consigo me lembrar da ultima vez em que realmente conversarmos. Com minha mãe era diferente, mesmo ela tendo seus momentos de histeria, eu sabia que a maioria das vezes que brigávamos era por causa do meu pai. Ela sempre ficava ao seu lado, independente da situação. E isso era devido ao fato de meu pai já ter chegado bêbado em casa e lhe agrediu com tapas e socos.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...