Me sentia uma intrusa na casa de Claudia.
Claudia gostava de dizer que era minha casa agora também. Dona Ana conversou com Rubens e ele me deu todo apoio para ficar em sua casa.
Disse que me tinha como uma pessoa da família.
Era muito esquisito acordar todas as manhas e ser tratada como irmã de Claudia.
"Coma seu iogurte com frutas, vai fazer bem a você e ao bebe, e você tem que dar exemplo a Claudia" ela me disse em uma manhã de terça quando já estava pronta para sair para o trabalho.
Claudia tinha uma lista do que devia comer durante o dia colada na porta da geladeira. E eu ganhei um espaço lá também.
" Você tem que lembrar que está se alimentando por dois agora" Rubens me disse quando cheguei cansada do trabalho e não quis comer.
Claudia parecia estar melhorando.
Ela foi comigo ao hospital em minha primeira consulta.
Não dava para saber o sexo do bebe ainda, mas eu estava radiante e muito eufórica quando ouviu o coraçãozinho dele.
Do meu bebe.
Eu fiquei tão emocionada que não consegui conter as lagrimas.
Era o meu filho ali naquele pequeno monitor, era o meu bebe.
Queria poder beija-lo naquele instante. Nunca o tinha visto, nem o tocado, mas eu já o amava.
Quando recebi meu primeiro salário fiz questão de dar metade para ajudar nas despesas da casa, já que agora eu estava morando lá também.
" Guarde esse dinheiro para comparar as coisinhas do bebe, você vai precisar ter uma reserva para uma emergência." Ana colocou o dinheiro de volta em minha mão e sorriu.
Eu estava começando a me sentir parte daquela família, sentia como se eles tivessem me adotado.
–– Você tem falado com Lucas? perguntei secando meu cabelo com a toalha.
–– Na verdade não. – Claudia deu de ombro enquanto mexia em seu computador.
–– Ele tem andado estranho. – penteei as pontas de leve para não arrebentar os fios.
–– Estranho como? ela me encarou.
–– Distante.
–– Vocês por acaso brigaram ou algo do tipo?
–– Na verdade não. – aquilo estava me chateando.
Fazia uma semana que Lucas parecia meio distraído quando falava comigo.
–– Pode ser por causa das provas –– Claudia disse depois de um longo minuto. – Minhas provas começaram essa semana, provavelmente as dele também. – ela deu de ombro.
Me inclinei para ver o que tinha na tela do computador, não para ficar bisbilhotando o que Claudia fazia quando estava ali. Não, era apenas curiosidade.
–– O que está fazendo? perguntei sem muito assunto.
Pisquei duas vezes, um tanto confusa quando ela fechou todas as abas abertas deixando só o a música tocando.
–– Nada.
Apertei os olhos.
–– Claudia.
–– Não era nada de mais, eu juro. – disse.
Fiz um "Runf" e me levantei da cama, estava na hora de ajudar dona Ana a preparar o jantar.
Ela sorriu doce e gentilmente para mim quando entrei na sala.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...