-- Tudo bem. - concordei com a cabeça.
-- Serio? Vai concordar fácil assim?
-- Era só isso? Perguntei.
Ela assentiu.
Emília sorriu largamente para mim, e me deu as costas.
Caminhei em silencio até a avenida e então segui direto para a casa.
Pensei um pouco na proposta de Emília. Aquilo não parecia ser uma má ideia.
Peguei o celular e liguei para Lucas
-- Nanda, oi. - atendeu todo feliz. - Ah, espera um minuto.
Eu não pude deixar de rir ao ouvir o barulho do Vídeo Game.
Garotos. Pensei.
-- Oi, desculpa, o que você estava falando? Perguntou.
-- Quero saber se vai sair amanha. - perguntei na maior cara de pau.
Ele ficou mudo por um minuto que me pareceu uma eternidade.
-- Er... Amanha eu vou com a Claudia no psicólogo. - disse meio sem graça.
-- Ah, e depois disso? Perguntei.
-- Não sei Nanda, na verdade eu nem sei quanto tempo nós vamos ficar lá... amanhã é dia de pesagem e a Claudia pediu para eu ir junto, e tem a nutricionista... pode demorar....
-- Ah, tudo bem então. - disse deixando transparecer minha tristeza.
-- Não fica assim. Por que você não vem com a gente? Perguntou.
Pensei um pouco.
-- Acho melhor não, se ela me quisesse lá, teria me chamado. - disse por fim.
Me despedi depois de conversarmos um pouco e então desliguei.
Chegando em casa fui me deitar para descansar um pouco.
Pensei sobre o momento em que Emília sorriu para mim, com aquele seu ar arrogante.
Acabei pegando no sono ao pensar sobre isso, acordei e faltava pouco tempo para a janta ficar pronta.
Me sentei a mesa, e de novo aquele clima, sem ninguém falar nada, parece que Sarah realmente fazia falta para unir a família, sempre os únicos sons presentes no ambiente eram dos talheres.
Terminando de jantar fui direto ao meu quarto, fiquei sem nada para fazer, então peguei um livro e li um pouco, estava cansada devido ao últimos fatos, então me deitei e dormi.
Ao acordar pela manhã fiquei pensando se deveria ligar para Cláudia e perguntar se poderia acompanha-la, talvez apenas uma desculpa para ver Lucas, mas será que estaria certo?
Acabei notando que estava um pouco apaixonada por Lucas, procurando motivos para vê-lo, falar com ele ou até mesmo apenas ouvir sua voz.
Me deitei de frente para a cama de Sarah. Que falta fazia minha menininha, ouvir a voz dela antes de dormir... senti meu coração se apertar.
Coloquei meu fone de ouvido para tentar relaxar, e depois de algumas musicas resolvi tomar um bom banho.
Passei o resto do dia assistindo a filmes idiotas na TV, e ouvindo musica. Quando a noite chegou tomei um comprimido para dormir
***
Acordei com minha mãe me chamando na manha seguinte.
-- Fernanda, tem um garoto te chamando no portão.
Levantei assustada.
Estava tão desnorteada que nem me lembrava onde estava.
-- O que? Perguntei.
-- Tem um garoto te chamando no portão. - disse.
Olhei a hora em meu celular.
Quase 14 da tarde. Meu deus do céu. Como é que eu podia ter dormido tanto?
-- Diz que eu já vou. - disse me levantando.
Fui para o banheiro escovar o dente. Joguei um pouco de agua fria em meu rosto para poder acordar.
Troquei de roupa rapidinho e corri para a sala, onde Lucas estava sentado me esperando.
-- Oi. - eu disse meia sem jeito.
-- Oi. - ele sorriu aquele sorriso lindo que só ele dava.
-- O que veio fazer aqui? Perguntei ainda sem jeito.
Não sabia se sentava, ou se continuava em pé, então me encostei à parede.
-- Queria fazer uma surpresa para você. - disse se levantando. - A Claudia perguntou de você.
Aquilo me pegou de surpresa. Afinal, ela estava ou não falando comigo?
Claudia parecia mais uma criança de 7 anos, que não sabe o que quer. Uma hora quer doce, outra quer salgado... e eu estava totalmente sem paciência para lidar com crianças, ainda mais que já tinha que lidar com uma dentro de mim...
-- Ah - foi só o que eu consegui dizer.
-- Ela quis saber por que você não foi com a gente.
Revirei os olhos.
Ela estava parecendo mesmo era um cãozinho. Que agora você chuta, e daqui a pouco ele volta abanando o rabinho.
-- Ela está com a Emília.
Meus olhos se arregalaram.
-- Como é?
-- Ela saiu com a Emília, disse que ia tomar sorvete com ela.
Senti meus musculos se contrairem. Não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Então aquela mentirosa tinha ou não feito um acordo comigo?
-- Quer dar uma volta? Perguntou por fim.-- A Claudia volta que horas?
Ele riu baixinho.
-- Nanda, para de se preocupar um minuto com ela, e se preocupa com você... Por que não aceita o meu convite e se diverte um pouco?
-- Tudo bem. - disse por fim.
Ele tinha razão. Eu tinha mesmo que parar de me preocupar tanto com Claudia, e me preocupar um pouco comigo.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...