Ali, de olhos fechados na sala de cirurgia, ouvindo o murmúrio dos médicos ao meu lado e uma bolsa de sangue ainda em minhas veias eu orava com todas as minhas forças para que meu bebe ficasse bem. Estava muito nervosa, os bipes soavam irritantes perto de meu ouvido. Mas ao sentir o toque suave e delicado pousando em meus cabelos fui ficando mais tranquila, acariciando de leve a minha cabeça. Algo no toque emanava leveza. Podia sentir uma energia muito boa fluindo por todo o meu corpo, deixando-o mais relaxado.
Abri os olhos com um sorriso no canto da boca esperando ver o rosto de Claudia ao meu lado. Mas não havia ninguém.
A sala estava cheia com os paramédicos e enfermeiras, mas ninguém perto o suficiente para me fazer cafuné.
Franzi o cenho um tanto quanto confusa. Podia jurar que tinha alguém ali.
Dei um suspiro resignado. Gostaria que Claudia estivesse comigo. Ela mal olhou para mim na ambulância. Não disse uma palavra.
Um perfume doce encheu o espaço, e imediatamente vi o rosto de minha irmã. Era a mesma fragrância que ela costumava usar.
–– Você está pronta? Perguntou a enfermeira me trazendo de volta para o presente.
Eu fiz que sim e então ela colocou uma mascara de oxigênio em meu rosto e pediu que eu contasse de dez a zero.
–– Dez, nove, oito... – olhei para Sarah ao lado de minha cama e tentei dar um sorriso, mas estava grogue de mais. – sete...
–– Vai dar tudo certo. – ela segurou minha mão apertando de leve as pontas de meus dedos. – Não se preocupe.
Respirei fundo mais uma vez e apaguei.
***
–– Sarah? Chamei baixinho sem abrir os olhos.
Tive medo de ter sido apenas mais uma alucinação. Tive medo de abrir os olhos e me deparar com o nada mais uma vez.
Respirei fundo tentando sentir o cheiro do perfume, e só abri os olhos quando senti o toque quente em minha mão e aroma doce.
–– Como você está? Minha mãe perguntou quando a encarei.
–– Bem. – disse devagar.
Senti algo estranho na garganta. Podia jurar que estava sentindo Claudia ali, mais presente do que nunca.
–– O medico acabou de sair daqui. – disse.
Meu coração disparou de repente.
–– E meu bebe? Perguntei sentindo uma angustia enorme. Um vazio impreenchível .
Levei a mão até a barriga sentindo uma pontada aguda um pouco abaixo do umbigo por causa dos pontos.
–– Está em observação. – a boca de minha mãe se retraiu em uma careta e ela esfregou o braço.
–– Por que?
–– Porque ele é muito pequenininho filha.
–– Ele? Senti um fervor crescer dentro de mim. – Espera, não fala. – pedi.
Senti meus olhos lacrimejarem ao falar. Queria eu mesma ver. Mal podia esperar para sentir o cheirinho do meu bebe, ver o rostinho miúdo e sentir o calor dele junto de mim.
Minha mãe sorriu para mim caridosamente e enxugou uma lagrima que escorria pelo meu rosto.
–– Onde está a Claudia? Perguntei depois de um minuto.
Achei muito estranho não encontrar Claudia ali, empoleirada em minha cama, tagarelado sem parar.
Minha mãe franziu o cenho.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...