Dizem por ai que tudo acontece por uma razão e que o acaso não existe. Mas eu não acredito que seja tudo tão complexo. As coisas acontecem porque tem que acontecer e o acaso dá um empurrãozinho as vezes. Eu não acho que uma coisa possa ser tão simples como o destino e nem tão complicada quanto o acaso
Não foi o acaso que matou minha irmã, e nem o destino foi o culpado de tudo. O acaso nos colocou dentro daquele taxi, mas o destino poderia ter sido outro se não tivéssemos entrado dentro dele. Poderíamos apenas ter ficado esperando por meu pai na entrada do hospital.
O destino colocou Claudia no time de vôlei, o acaso tirou. São as circunstancias dos momentos, os pequenos detalhes que fazem a diferença de ser ou não ser. Estar ou não estar. Viver ou morrer...
As circunstancias me fizeram terminar com Lucas, e as circunstancias me deixaram mordida de ciúmes pela minha melhor amiga.
Fiquei deitada por tanto tempo que acabei pegando no sono. Tinha acordado muito cedo. Mas não dormi por muito tempo, acordei com o barulho da campainha e Claudia me chamando.
–– Nanda, você pode atender pra mim? Não posso sair assim. – ela fez uma careta e apontou para o moletom que ainda vestia.
Eu esfreguei o rosto e assenti.
Ergui uma sobrancelha quando cheguei ao portão e um grupo de meninas tagarelava.
–– Oi?
–– A Claudia está? Perguntou uma menina miúda de cabelos compridos.
–– Hm, sim. Vou chama-la. – disse.
Claudia estava na sala quando entrei.
–– Não acredito que disse que eu estava. – disse zangada.
–– Você me pediu para ir atender o portão, e não disse nada sobre mentir.
Ela bufou.
–– Diz que já estou indo. – ela olhou para o corpo. – Vou me trocar.
Eu assenti e voltei para o portão.
Dei o Recado parar as meninas e pedi para elas entrarem para esperarem lá dentro.
Uma delas me chamou de canto.
–– Você pode segurar ela por mais uns minutos? Perguntou.
Eu ergui uma sobrancelha.
–– O que vocês estão aprontando?
–– Você é a Nanda não é?
Eu fiz que sim e ela estendeu a mão.
–– Pode me chamar de Lua. – ela sorriu. – Nós ouvimos muito sobre você quando a Claudia estava no time.
–– Prazer. – eu peguei sua mão.
–– Nós viemos dar uma notícia para ela, e tenho certeza que ela vai ficar muito feliz. Por isso trouxemos algumas besteiras para comemorar – ela tirou a mochila das costas e mostrou algumas latinhas de Smirnoff. – e algumas bebidas também, porque ninguém é de ferro.
Estava prestes a ser a mãe chata, a responsável, a estraga prazeres. Mas concordei, afinal de contas não era todo dia que Claudia recebia as amigas do vôlei em casa.
–– Vou ver o que posso fazer. – eu sorri abertamente.
Claudia estava escolhendo uma roupa na montanha que fez com as roupas de seu guarda-roupa quando entrei no quarto.
–– Eu não sei o que vestir. – ela pegou uma camiseta preta. – tudo fica horrível em mim.
Eu dei risada.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...