A vida é uma coisa engraçado. Numa hora não temos nada, e na outra temos tudo. Buscamos a felicidade a todo instante, mas ela parece nunca aparecer e ser na maioria das vezes bem superficial. Descobri de uma forma bem estranha que felicidade está no momento em que você acorda e sente aquela saudade e sabe que vai poder ver aquele rosto mais uma vez. Isso com certeza é felicidade, esperar horas para poder ver alguém e quando o momento está chegando dá até aquele frio na barriga. A sensação da certeza de que vai poder demonstrar seu amor mais uma vez. Descobri minha felicidade ao acordar toda manhã e não querer ver outro rosto a não ser o de Sarah, da minha pequenina Sarah. Mal podia esperar para sentir seu cheirinho amadeirado pela manhã e sua mãozinha delicada segurando meu dedo.
Aquela manhã era a primeira vez que daria banho nela sozinha. Fiquei morrendo de medo só de pensar que poderia derrubar Sarah na banheira e afoga-la sem querer, por isso não deixei que a enfermeira saísse do meu lado um só segundo quando ela passou Sarah para os meus braços. Ela era tão pequena e tão frágil que tinha medo até de segura-la errado.
–– Você está se saindo muito bem. – disse a enfermeira para mim quando troquei minha primeira frauda.
Não foi nojento como achei que seria, foi fácil do que esperei também.
Os dias foram passando e eu amamentava Sarah em meu quarto sempre que as enfermeiras me levavam ela. Era gostoso ouvir seu chorinho, e mais gostoso ainda sentir seu calor em meu peito quando ela adormecia. A única parte triste era a hora em que ela tinha que voltar para a incubadora.
Fazia uma semana que estava no hospital e as únicas visitas que recebia eram de meus pais. Meu pai ficou todo abobalhado quando viu a neta pela primeira vez, e não conseguiu conter as lagrimas depois de ter perguntado o nome dela. Minha mãe segurou Sarah no colo com aquele olhar de avó apaixonada.
Estava extremamente feliz com minha família ali ao meu lado, mas chorava durante a noite pensando em mil motivos pelos quais Claudia não ia me ver. Nem mesmo Dona Ana tinha aparecido para me dar um Oi.
Mas eu não ia perguntar á minha mãe, ela não ia me dizer. Nem ao meu pai, sempre que tocava no assunto ele dizia ter um compromisso.
Era quinta-feira quando o médico me deu alta. Sarah ainda não podia ir para a casa comigo por causa de seu baixo peso e tamanho. Ela estava com um pouco mais de 1kg o que era bom, e se continuasse assim logo poderia leva-la comigo.
–– Nós podemos passar na casa da Claudia? Pedi ao meu pai quando saiamos do meu quarto.
Ele parou no meio do corredor.
–– O que foi? Perguntei.
–– Olha filha... – ele começou a dizer.
–– Pai pelo amor de Deus me diz logo o que está acontecendo, eu não aguento mais ficar só esperando alguém me dizer alguma coisa. – comecei a dizer atropelando as palavras – Eu vim para esse hospital na companhia de Claudia e quando acordei não tive uma noticia dela, nem dos pais dela, e eu sei que ela não perderia por nada o nascimento da afilhada dela. Credo desse jeito vou começar a achar que ela morreu...
Parei imediatamente de falar, de repente tudo começou a fazer sentido. Senti o nó em minha garganta me impedindo de continuar.
Me apoiei na parede sentindo que ia cair.
–– Você está bem? Meu pai me segurou pelo braço. – Senta aqui. – ele me levou até uma cadeira.
–– Pai, me diz por favor o que aconteceu. – meu pedido não foi mais alto que um sussurro.
–– Fernanda eu...
–– Pai pelo amor de Deus, me diz onde a Claudia está. – gritei.
Ele me encarou assustado e então tirou o celular de seu bolso e me entregou.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
Non-FictionA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...