Capítulo 3

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Sarah entrou em coma naquela noite. Demorei um tempo para digerir aquilo, não podia acreditar que algo assim estava acontecendo com uma pessoa tão doce como Sarah. Tive que insistir para que o médico me deixasse vê-la, não sabia se teria outra chance. Uma enfermeira me levou até a UTI, e me alertou que Sarah estava muito ferida e seu estado ainda era bastante critico.

Sarah tinha a cabeça enfaixada, seu rosto estava inchado e manchas arroxeadas cobriam a maior parte de sua pele que era visível. Senti meu coração se quebrar em milhares de pedaços quando peguei sua mão. Não consegui ficar por mais do que cinco minutos ali.

Pedi para a enfermeira me levar de volta para o meu quarto, não queria começar a chorar de novo.
-- Ela vai ficar bem. -  disse a enfermeira quando me ajudava a voltar para a cama. Ela acariciou  meu ombro e sorriu.
Tentei sorrir de volta sem muito sucesso.
Observei a enfermeira deixar o quarto e entao fiquei encarando a porta por alguns minutos.
O medico parou em frente a minha porta mas não entrou, ele estava acompanhado, demorei alguns segundos para reconhecer minha mãe.
Ela olhou para mim ainda parada do lado de fora até decidir entrar.

–– Desculpe não ter vindo antes. – disse abaixando a cabeça enquanto se aproximava.

–– Não tem problema. - disse baixinho.
Encarei minhas mãos em meu colo sem saber o que dizer.

–– O medico disse que logo você poderá ir para a casa. - ela pousou a mão em meu braço

Senti um calafrio percorrer meu corpo. Não esperava vê-la aqui.

–– Seu pai está muito abalado. – disse depois de alguns minutos em silencio.

Não sabia se ela estava esperando uma resposta minha. Eu também estava muito abalada com o que tinha acontecido. Não tive certeza se ela tinha dito aquilo apenas pra justificar a ausência de meu pai, mas eu sabia que ele não tinha aparecido até agora por me culpar.

–– Eu venho te buscar amanhã. – disse acariciando minha mão.

–– Obrigada. – disse sorrindo um pouco.

Minha mãe deixou quarto de cabeça baixa. Sabia que ela estava triste. Mas de certa forma estava aliviada por ela ter vindo me ver, significava que ela não estava com raiva de mim pelo que tinha acontecido.

***

Minha mãe me trouxe roupas limpas logo cedo na manha em que tive alta. Ela me ajudou a caminhar com a muleta enquanto íamos até o ponto de ônibus. Para a minha sorte, eu estava indo para o lado oposto do que a maioria das pessoas que iam trabalhar.

A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi tomar um banho. Passei a mão sobre o ventre instintivamente enquanto me ensaboava.

Eu estava gravida.

Parei em frente ao espelho antes de me vestir e analisei meu corpo. Não tinha visto meu reflexo desde o acidente. Minha testa tinha um corte que já não doía e algumas manchas pretas estavam espalhadas por todos os lados. Mas não era aquilo que queria ver ao me olhar. Queria ver minha barriga.

Não podia acreditar que tinha uma vida ali dentro.

Procurei meu celular em minha gaveta depois que me vesti, tinha que ligar para Gustavo. Tínhamos que resolver aquilo. Não podia contar para os meus pais que estava gravida antes de falar com ele.

Me deitei na cama. Chamou algumas vezes antes de cair. Liguei mais uma vez, chamou quatro vezes antes dele finalmente atender.

–– Alô? atendeu uma voz sonolenta do outro lado.

–– Estou tentando falar com você a dias. – disse feliz ao ouvir sua voz.

–– Quem fala?

Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}Onde histórias criam vida. Descubra agora