Eu passava mais tempo na rua do que em casa. Não estava mais aguentando aquele climão. Era sempre a mesma droga. Chegar em casa, ajudar em alguma coisa e nada de dialogo. Uma vez ou outra alguém perguntava sobre Claudia, mas nada além disso. Tudo bem, foi uma grande perda, sim foi, mas nem por isso a vida tem que parar, ficar congelada naquele momento deprimente. Sarah odiaria isso, ela tentaria contornar a situação, quebraria o gelo. Estava de saco cheio, e por isso passava mais tempo na rua com Lucas do que em casa.
-- Ela está muito chateada. - disse Lucas.
-- A Emília não presta. - disse. - Eu disse isso para a Claudia milhões de vezes, mas ela não me escutou. - dei um suspiro.
-- Mas ela está muito para baixo. - disse tristonho.
-- Mas ela tem a gente. - disse chegando um pouco mais para o lado dele.
Ele colocou a mão em minha cintura e me virou para ele.
-- Sabe, vir passar as férias aqui na casa da minha prima, foi a melhor coisa que me aconteceu. - ele me puxou para mais perto.
O momento em que nossos lábios se tocaram, naquela pequena sala de espera, fez meu coração pular no peito. Aquilo parecia certo , mais tão errado ao mesmo tempo. Claudia estava na sala ao lado, qual seria a reação dela se nos visse?
Lucas tinha razão, eu tinha que parar de me preocupar só com Claudia. Por que eu simplesmente não aproveitava o momento?
Sentados um ao lado do outro, tão juntos, seu cheiro... o cheiro do perfume...
Eu o afastei.
-- O que foi? Perguntou.
Não ia dar tempo de chegar ao banheiro. Peguei o pote de balas em cima da mesinha de centro e vomitei.
Lucas ficou me olhando por alguns segundos.
O que ele ia pensar? Será que ele achava que eu estava com nojo dele?
Meus olhos se arregalaram, eu tinha que dizer alguma coisa, mas não saia nada de meus lábios.
Eu olhei ele se levantar e se afastar.
O que eu tinha feito?
-- Sua idiota. - sussurrei.
Para o meu espanto, ele voltou com um copo de agua nas mãos.
-- Acho melhor ir ao medico. - disse.
-- Desculpa por isso.
-- Está pedindo desculpas pelo que? Ele me encarou. - Não tem que pedir desculpas por isso.
Fui até o banheiro, onde joguei o conteudo do pote de balas dentro da privada e dei descarga. Lavei o vidro com sabonete liquido, passando a mão para ter certeza que estava bem limpo. Que situação ridícula.
Voltei para a sala de espera no nomento em que a porta do consultório se abriu e Claudia saiu de lá suspirando.-- Oi. - disse. - Como foi? Perguntei ainda com o pote na mão
-- Tenho que trabalhar meus sentimentos. - disse sem emoção aparente.
Coloquei o pote de balas atrás do vaso de bromélias vermelhas na mesa de centro
Minha boca estava com um gosto horrível.
Antes de sairmos, fui até o banheiro para fazer um gargarejo.
***
-- Não acredito que você não ia me contar que beijou meu primo - Claudia disse pulando da cama.
-- Eu fiquei com medo. - disse na defensiva.
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Um fio de esperança. {EM REVISÃO.}
No FicciónA primeira vez que ouvi falar em anorexia, não tinha mais do que 12 anos. E naquela época eu não conseguia entender como uma pessoa podia ter nojo da comida. Não sabia nada sobre o assunto. Até descobrir que Claudia estava indo por esse caminho tão...