Plano A

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- Como?

Retirei os fones para ter certeza do que estava ouvindo.

- Fiquei sabendo ontem. Não me leve a mal, Melanie mas... Acho que não combinamos muito.

-Caio. Eu não...

-Não piore as coisas... Não se preocupe, podemos ser amigos.

Como assim? Quê? Eu estava ouvindo isso? Ele estava me dando um fora sem nem ao menos eu gostar dele?

-Mas eu não...

-Você é legal, e bonita...- ele percorreu os olhos da minha cabeça aos meus pés, como se estivesse checando se o que acabou de falar era verdade- Mas, acho que não daríamos certo. Não é você, sou eu. Entende?- ele disse rindo.

Ah. Agora eu entendi. Eu queria gritar e esfregar na cara dele que NÃO estava afim dele, que nada daquilo era verdade. Mas não conseguia fazer nenhum som sair da minha boca. Eu só me enchia de raiva a cada segundo e o fitava incrédula com os olhos arregalados.

- Enfim... Eu já vou indo, a gente se vê.

Ele jogou a mochila nas costas e foi andando, enquanto eu parecia uma estaca, parada no mesmo lugar, ainda olhando o banco.

-Espera, Caio, ESPERA!

Ele se virou.

- Eu não gosto de você!

Eu sibilei cada palavra, para fazê-lo entender. Tentei fazer uma cara de bem sincera. Repeti.

- Não... Gosto... De você.

Ele me olhou apertando os olhos e fazendo uma cara de safado.

-Sei...

Voltou-se para frente e riu enquanto saía pelo portão.

QUE CARA IDIOTA, CONVENCIDO, IMBECIL, RETARDADO! O que ele acha, que é tão lindo que nenhuma garota escapa ao triste destino de amá-lo? Que todas são inevitavelmente caidinhas por ele? Eu não gosto dele, não gosto dele! E mesmo assim ele me dispensa, se achando o máximo só por que tem a droga de um par de olhos azuis e é o bonitinho da sala.

Não percebi, mas minha cara de ódio estava hilária. Principalmente por que eu ainda olhava o portão, e o porteiro me olhava de volta e ria como se eu estivesse louca.
Respirei fundo. Liguei para o meu pai mais uma vez, e parece que fui meio grossa com ele, por que levei uma bronca sobre ser mais educada.

Quando cheguei em casa, a primeira coisa que eu fiz foi contar tudo à Bia (por mensagem). Ela ficou mesmo chocada, me mandou até fotos da sua cara de surpresa.

- Não acredito. Ele disse mesmo tudo isso? Vc n tá sonhando, tá?

- Clr q n né garota. Eu tô com uma raiva tão grande, que seria capaz de bater nele agr.

- Kkkkkkkkkkk experimenta isso amanhã.

- ok, vou tentar.

Desliguei o celular e fui pro meu quarto. Depois de tomar banho e trocar de roupa, abri o meu caderno, o meu caderno favorito, sempre escondido atrás de todos os meus livros. Folheei até a parte onde estava escrito em letras grandes e cor-de-rosa: "PLANO A". Escrevi ao lado " Fazer o Caio se arrepender de tudo que disse". Certo. Vai ser difícil, mas podemos tentar. Subplanos? "1- Encontrar alguém para gostar (ou fingir que gosto).
2- Deixar "acidentalmente" ele saber disso. 3- Provocar muito, das mais variadas maneiras. 4- Não dar atenção à nada do que ele fizer ou disser. 5- Quando ele quiser saber o que está acontecendo, ou por que estou sendo tão fria, fingir que nada aconteceu e ser 'amigável'. Vai ser a minha vez de dar o fora e ele vai se arrepender pelo resto da vida". Quando terminei de escrever, estava com uma expressão maliciosa estampada no rosto. Guardei o caderno e desci pra fazer qualquer coisa. Como não tinha chegado o módulo da escola ainda, não tinha dever.

À noite, deitei para dormir com um objetivo. Coloquei meu celular debaixo do travesseiro e fechei os olhos assimilando o que eu deveria fazer amanhã.

Acordei com a claridade, ou com os gritos da minha mãe. Olhei em volta. Tinha tido um sonho estranho onde eu condenava o Caio à morte e ele era enforcado, mas não antes de se ajoelhar aos meus pés e me suplicar perdão. OK, meio cruel. Olhei as horas. 7:15!!! ESTAVA ATRASADA, ATRASADA! Pulei da minha cama com tanta força que ela rangeu. Só deu tempo de eu me vestir, por um casaco, descer, engolir a comida, escovar os dentes e fazer uma trança às pressas. Saí pela porta correndo, recebendo gotas de chuva na cabeça como meu primeiro presente do dia. Entrei no carro, onde a minha mãe e a Luísa me esperavam. Meus batimentos cardíacos só se acalmaram quando estávamos perto da escola.

Não consegui prestar atenção na primeira aula. Era de geografia (odeio geografia). Mas a economia e o relevo do Canadá em nada me interessavam, e tudo o que eu conseguia fazer era fuzilar o Caio com os olhos. De vez em quando, ele me olhava de volta, fazia a mesma cara de safado, como se estivesse me pegando no flagra e sempre estivera certo sobre eu gostar dele. Lógico, isso me deixava com mais raiva ainda. Eu estava xingando ele mentalmente quando ouvi uma voz desconhecida, vinda da porta da sala. Toda a turma parou para ver.

-Desculpe, estou atrasado.

Um novato.

Os 26 Planos da Minha AdolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora