Estou sentado num banco, sentindo o sol na minha pele. Aquela escola é uma estufa, faz tanto calor que se colocarem uma batata no chão, ela frita sozinha. Ouço uma voz que só reconheço quando abro os olhos.
-Oi! Bom dia, Lipe! Ah, foi mal. Felps é mais legal, né?
Ela sorriu. Sinceramente, não sei qual é a dessa Melanie. Ela me trata como se eu fosse o máximo. Mesmo com todos aqueles meninos atrás dela.
-Na verdade, eu gosto de "Lipe".
Por que eu disse isso? Que droga, fica parecendo até que eu tô gostando dela! E quem costumava me chamar de "Lipe" era a minha tia. Minha mente foi tomada pelas lembranças da mesma apertando a minha bochecha.
Mell sorriu novamente e foi falar com a Bianca. Finalmente descobri o nome dessa aí.
O sinal toca, subo com Lola e os garotos. Engraçado, Lola não parece uma menina comum, além de um ótimo senso de humor, ela não é dramática, e nem melosa como as outras. Com certeza uma menina mais fácil de se conviver, e provavelmente, minha única amiga.
O resto da manhã passa-se normal. Mas quando o sinal bate, eu subo e quando entro na sala, Melanie vem falar comigo, com uma cara meio desesperada.
-Lipe. Precisa ver uma coisa. Vem comigo.
- O que foi?
-Só vendo. Vem.
-Depois você me mostra.
O que essa louca quer? E por que assim do nada? A curiosidade me dominava, mas não deixei transparecer, vai que eu caio numa cilada e me ferro de vez.
-Não, tem que ser agora!
O olhar da Mell parecia suplicar para que eu fosse com ela.
-Não dá pra descer mais, Melanie!
Eu pensei que ela fosse desistir, mas ela incrivelmente me puxou (literalmente) e foi andando. PQP, QUE MERDA DE LIBERDADE É ESSA??? Vivo me fazendo essa pergunta e não sei onde essa menina vai parar. Mas de um certo jeito, eu gosto disso. Ela é a primeira pessoa que faz questão de mim, mesmo que de um jeito estranho.
-Ai, ai, me solta, sua louca! O que tá fazendo, porra, me solta!
Continuei protestando enquanto ela andava me puxando pelo braço sem me deixar fugir. Estávamos descendo a rampa (ela estava descendo a rampa, eu estava indo a força). Na verdade eu não me importava em matar aula, só caso meus pais ficassem sabendo, e (claro) de ser arrastado pra sei lá aonde, pra ver não sei o quê. Chegamos perto de uma abertura escura e apertada, como um beco, que era perto da cantina, eu nunca reparei naquele lugar. Melanie me soltou e me olhou como se esperasse algo de mim. Nessa hora eu lembrei das palavras do Caio. "Você e Mell já se conheciam antes?", "acho que ela gostou de você, ela nunca sorri assim do nada". O jeito como ela me trata, sua proximidade estranha, tudo pareceu se encaixar. Ela não esperava que...?
Olhei para dentro do beco e vi Bianca. E então, minha hipótese absurda se tornou improvável. Um silêncio surdo tomou o lugar. As duas pareciam esperar que eu fizesse alguma coisa, mas eu tinha sido arrastado até ali, e ainda não fazia idéia do que aquilo significava.
Elas se olharam. Melanie interrompeu o silêncio.
-Bom. Sabe aquilo que o Ricardo disse ontem...? Sobre você e Bia...
Ricardo... Ah! Aquele tarado que ficou sugerindo coisas entre mim e Bianca ontem! Entendi tudo. Era para isso que elas tinham me chamado, e por isso tinha que ser a sós. Elas estavam com medo que eu considerasse mesmo o que ele falou, que eu tivesse a impressão errada. Nem acredito que cheguei a pensar naquela " outra hipótese".
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Os 26 Planos da Minha Adolescência
Teen FictionExistem 26 letras no alfabeto. E existiam 26 porquês para usá-las. Eu, Melanie, a garota quieta, nerd, que nunca arriscara nada na vida, prometi a mim mesma uma única coisa: em dois anos, 26 acontecimentos improváveis irão se cumprir. Autora: yellow...