Confissões (ou não!)

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Cá estávamos nós, em busca de espaço atrás de uma moita miseravelmente pequena, a observar a Bia e o Jack.

-Lola- eu sussurrei baixinho- eles só estão falando em inglês normal, não tem nada como "I love you".

-Se você ficasse quieta e me deixasse ouvir, eu iria saber!

-Meu Deus, Jack está pior que um tomate!

-Um tomate verde, no caso, certo? Ele me parece com ânsia de vômito.

-E Bia, essa lerda. Só fica olhando para baixo com o cabelo na cara. Que droga, SE BEIJEM LOGO!!!

-Calada, Melanie! Os chineses não precisam saber que estamos espionando um encontro! Ah, é, desculpa, era pra ser um encontro, mas é só um trabalho de inglês. Não sei onde estava com a cabeça quando confiei que esse débil teria alguma atitude.

-Lolalolalola, ele está chegando perto!!!

-Cadê???- Lola se jogou em cima de mim, me impedindo de ver e me deixando com a cara enfiada na grama.

-Saí de cima!!! EU QUERO VER, PO...

-ELE BEIJOU ELA!!!

-EITA MERDA, É HOJE!- disse enquanto puxava a cabeça da Lola para baixo e a empurrava, me lançando para cima e metendo os olhos naquela cena tão esperada. Eu vou ser a madrinha, vou usar um vestido rosé, cuidar da decoração, ah, pera, ainda tenho que fazer a lista de convidados. Daqui a duas semanas já está bom pra marcar a data do casamento?

Lola me tirou dos meus pensamentos ficando literalmente em cima de mim. Estava difícil respirar com alguém de joelhos na sua barriga.

-LOHAN- eu tentei dizer- EU TO MORRENDO.

Ela se virou bruscamente e se jogou para trás, dando de cabeça no chão. Estávamos quase formando uma bizarra cruz humana. E ela ainda estava com as pernas dobradas.

-O que foi?- consegui soltar quando finalmente consegui inspirar.

Ela levou o dedo indicador aos lábios como resposta. É, tinhamos sido notadas. Estiquei o meu pescoço o suficiente para ver, mesmo na horizontal, que eles ainda estavam na mesma.

-E aí?- ela fez com os lábios, mas não soltou o som.

-Ainda estão lá. Não é um pouco demais não?

-Isso é pra compensar.

Nos mantivemos na mesma posição por dolorosos cinco minutos. Ou dez. Ou quinze. Ou uma hora. Não dava para contar o tempo, mas parecia uma eternidade.

Me estiquei o máximo que pude mais uma vez e vi que eles deveriam ter entrado em casa, não estavam mais lá.

Levantamos, nos ajeitamos devidamente, mesmo sem conseguir tirar a grama do cabelo, e meu estômago ainda doía.

Então, como se nada houvesse acontecido, e só estivéssemos dando uma voltinha pelo vale dos pôneis cor-de-rosa, nós batemos na porta e esperamos alguém ir atender.

Jack chegou e a abriu com um semblante iluminado. Que lindo. Parece até aquelas criancinhas de antigamente, tipo "olha, fulano, acabei de ganhar o meu mais novo carrinho da Hot Wheels, estou tão feliz!".

-Oi, Jack! Nós estávamos coincidentemente passando pela portaria do seu condomínio e pensamos em dar uma passadinha aqui...- por trás dele, era visível uma Bianca com olhos mais brilhantes, tentando esconder seu sorriso.

-Ah, que legal, por favor, fiquem à vontade para entrar!- ele fez uma reverência exagerada. Custava muito fazer um curso de teatro antes? Bianca já estava nos olhando esquisito.

Os 26 Planos da Minha AdolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora