Felipe

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Meu Deus, um novato! A ficha começou a cair. Era mais ou menos alto, rosto de bebê, olhos e cabelos escuros. Ele se sentou, tímido, numa das cadeiras do fundo. Deve ter reparado que eu parecia uma idiota me curvando tanto para trás, só para olhá-lo. Me virei instintivamente para frente assim que ele pousou os olhos em mim. Okay, ele serve, serve perfeitamente. O professor perguntou o nome dele em voz alta.

- É Felipe Harvard.

-Harvard?- disse o professor rindo- quer estudar em Harvard, Felipe?

-Todo mundo quer.

Eu ri baixo. Claro que todo mundo quer, mas querer não é poder. Nesse momento, olhei mais uma vez para o fundo, e lá estava ele, com os olhos cravados em mim. Me virei bruscamente para a frente de novo. E aí me dei conta de que, como tinha acordado atrasada, eu estava parecendo uma mendinga. Nem tinha penteado o cabelo. AI MEU DEUS. Eu tinha passado uma péssima primeira impressão. Como iria usá-lo se ele me achasse uma louca desvairada que nem se arruma para sair de casa? Me encolhi ainda mais na cadeira.

-Bia-sussurei.

-Que foi?

-Quando bater o horário, vamos correndo para o banheiro. Certo?

Ela riu.

-Por que?

-Por que estou parecendo uma traficante com essas olheiras e cabelos desgrenhados. E estou sem rímel, sem nem um gloss!

-Quer ficar bonita para o menino novo, dona Melanie?

-Não, bianca. Estou afim do professor mesmo.

Ela riu mais ainda quando se deparou com a imagem do professor discretamente enfiando o dedo no nariz. Ninguém estava prestando atenção, deixa o homem se cutucar em paz.

O sino tocou, eu e bia pulamos da cadeira e corremos até o banheiro, eu com meu estojo de maquiagem e escova de cabelo (que sempre carregava na mochila desde a minha mudança radical no ano passado) e ela na frente, parecendo uma maluca, me acobertando para ninguém ver meu estado deplorável.

Chegamos lá, e estava vazio, graças a Deus. Passei a escova pelos cabelos, uma camada de rímel e outra de gloss. Fiz pose no espelho (toda menina faz isso), e subimos de novo, dessa vez pela rampa, desfilando, deixando todo mundo nos ver. Mas dessa vez, a vez que o imprestável do novato (Felipe?) deveria me olhar, ele não olha. Ainda estávamos subindo, quando algum dos garotos do grupo onde ele estava disse algo engraçado e ele riu. Eu devo ter ficado bem boquiaberta, por que Bia perguntou o que foi e olhou rapidamente na mesma direção que eu.

-É, o sorriso dele é lindo.

-Lindo.

Chegamos em cima e a coordenadora da escola nos chamou para um "comunicado", fazendo todos entrarem na sala. Devidamente sentados, ela assumiu a mesma postura de um professor e disse que o mesmo havia faltado para essa aula. Que aula era mesmo? Interpretação textual, constava o meu horário. Nossa. Mal começaram as aulas e já falta um professor. Vai e vem, avisos, inscrição de educação física, quem quer dar atestado, etc. Depois de muita coisa, ela nos libera para descer e ficar o resto do horário lá em baixo, esperando. Chequei o meu celular e fones de ouvido. Eu, Bia e as meninas descemos, ficamos conversando. Perto dos meninos. Eu e Lola tiramos uma selfie, ela postou na sua história do snapchat. Depois de uns minutos, começou a rir de algo no celular.

-Que foi, Lola?

-Meu amigo disse que "a ruiva é gata". Já quer seu número do whatsapp.

Eu ri junto e fiz sinal para a Bia observar a expressão do Caio. Depois de meio segundo, ela riu mais ainda, e eu sabia que não era da mesma coisa que nós. Ela me chamou para um canto longe dos garotos e disse:

-Ele ficou fulo!

-Fulo como?

-Sem expressão! Ele tava olhando pra Lola e queria saber do que ela tava rindo, mas quando ela mencionou você, ele olhou pro chão e fingiu que não ouviu nada!

-Que idiota! Nem sabe atuar.

Rimos mais ainda. Era a primeira vez em que as coisas colaboravam a favor dos nossos planos. Percebi que Felipe estava no banco próximo a nós e que provavelmente tinha ouvido a nossa conversa. Eita. Não sabia se isso era bom ou ruim. Ele percebeu que eu o olhava novamente e suspendeu os olhos até mim. Nesse exato momento, Tácio chegou por trás e passou o braço em volta de mim. Ele vivia fazendo isso. Tácio era mais alto que eu, nem era bonito nem feio. Mas era o conquistador barato da turma. Não se engane com ele.

-E aí, Felipe? Já conhece a Melanie?- ele disse alto. A voz dele incomodava.

-O que você quer, Tácio?-perguntei sem saco. Felipe permanecia calado, apenas observando a cena.

-Vish, deixa de ser nervosinha! Tá de TPM, Mell?

Revirei os olhos e tirei o braço dele de trás de mim. Sorri de um jeito falso e saí dali. Nem tinha percebido que Bia já havia saído bem antes de mim, assim que o Tácio se aproximava.

Mais tarde, o sinal tocou e tivemos que subir. Na subida, lembrei que ainda precisava descobrir uma coisa: quem havia dito pro Caio que eu gostava dele? Quem havia inventado isso?

Foi incrível como, na hora em que pensei essas coisas, a Amélia cutucou as minhas costas e me perguntou em tom de "segredo":

-Como estão você e o Caio?

-Como deveríamos estar?

-Bem, ué! Não sei se se importa, mas dei um impurrãozinho... Contei a ele que você é afim dele.

-Você o que???

-O que foi? Fiz mal? Desculpa, é que reparei que ele te olhou umas vezes ontem e pensei que ele também estivesse afim.

Ela falava com tranquilidade, como se não tivesse feito nada de mais. Ela nem mesmo me olhava diretamente. Respirei fundo para não gritar com ela.

Os 26 Planos da Minha AdolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora