Meu estômago doeu tanto que eu pensei que fosse explodir. Eu comecei a tremer, e a ofegar muito. Senti meu corpo inteiro ficar quente. Deve ser por que meu coração batia muito rápido, e muito forte. Tentei me acalmar. Não consegui. Meus olhos lacrimejavam, acho que é por que fiquei muito tempo com eles abertos. Mas de fato, eu não queria fechá-los. Temia que, se isso acontecesse, aquela mensagem iria desaparecer, e eu iria acordar, tudo seria um sonho.
-(gui) você não me respondeu...
-(eu) sei lá... é uma coisa que não dá para explicar, mas que me atrai.
-(gui) hm
- certo
- se um dia você descobrir o que é, me diga... aposto que consigo, seja lá o que for.-(eu) okay
-(gui) vlw, flw.
Eu desliguei o celular e arfei. Fechei os olhos finalmente e senti as lágrimas escorrerem. Pus a mão no meu coração e o senti desacelerar aos poucos, antes de me deitar. O sono, que havia me faltado, chegou com tudo e logo adormeci profundamente.
Quando acordei, senti o mesmo frio na barriga de antes, porém mais forte. Não tinha raciocinado muito na noite anterior, só me deixei levar pela emoção (eu quase morri ali, SÉRIO), mas não parei para pensar direito no que aquilo significava. Comecei a me arrumar enquanto organizava os pensamentos. Ele havia ficado com ciúmes. "Ciúmes" é pouco, no mínimo, foi muita raiva. Não tem como ele sentir só amizade por mim, por quê senão, ele não teria perguntado coisas como "o que ele tem que eu não tenho" ou afirmado outras como "se você gosta dele, então também gosta de mim". Mal posso acreditar que isso aconteceu. Pensei que levaria dias, até meses para fazê-lo me enxergar como uma garota de verdade, e não só como uma amiga, para fazê-lo sentir raiva do Felipe, e mais ainda para faze-lo sentir ciúmes. Mas assim que comecei a pôr o plano em ação, em poucos minutos, todas aquelas coisas aconteceram. E de uma vez só! Meu estômago se revirou ao pensar nisso. Foi tão fácil! Mas ainda não cheguei ao final. Tinha que continuar o plano, não dava pra parar ali, eu ainda não tinha certeza se ele gostava de mim.
Desci, tomei café, escovei os dentes, e ouvi a minha mãe me chamar já de dentro do carro.
-Estou indo!
Entrei e fechei a porta.
- Do que você tá rindo, menina?
Fechei o meu sorriso, que eu nem sabia que estava lá.
- Nada, mãe.
-Sei. Quando a gente tá assim é por que tá apaixonado.
-Queeeeeeeeeee??????? Apaixonada, eu? Hahaha, nunca, imagina, não viaja, que louca, meu Deus! Tá sonhando ainda, mãe, quer que eu te acorde? Vê se pode uma coisa dessas, Lu?
Olhei a Luísa no banco de trás. Ela me olhava de volta assustada, como se eu estivesse seriamente doente, delirando. Eu dei um riso forçado.
-Ai, gente, que isso.
Eu olhava em volta esperando alguém dizer alguma coisa, mas as duas ainda me olhavam desconfiadas e como se eu estivesse com problemas mentais.
-Gente, a escola. Vamos.
Minha mãe deu a partida no carro e finalmente o rádio ligou e irrompeu aquele silêncio assustador. Quando cheguei na escola e entrei pelos portões, vi o Felipe.
-Oi! Bom dia, Lipe! Ah, foi mal. Felps é mais legal, né?
Felipe me olhou com sua expressão indecifrável de sempre. Mas dessa vez, falou comigo.
- Na verdade, eu gosto de "Lipe".
Sorri amigavelmente, e fui falar com Bia.
-Oi! Lembra do que eu te falei. Quando tocar o sinal do intervalo.
Ela me olhou com cara de cumplicidade, e se virou para subir a rampa. E novamente, eu senti ciúmes. Por que? Mesmo que eu passasse horas tentando descobrir, não conseguiria. Mas eu estava feliz, meus dois planos estavam correndo muito bem.
Depois das aulas de revisão, que eram dadas toda quinta, eu já estava com os dedos da mão doendo de tanto escrever.
Então o sino do intervalo tocou. Eu peguei o meu lanche, desci. Tinha demorado de juntar as minhas coisas (na minha escola, se você bobear com seu caderno ou estojo, pode encontra-lo no lixo, ou em cima do ar condicionado, ou talvez pisoteado no chão, na melhor das hipóteses), então só pude encontrar Bia já na cantina. Felipe não estava por lá. Acho que ele foi lanchar com os outros meninos hoje. Depois que Bia comprou o seu lanche, sentamos debaixo da rampa. Jack chegou e do nada, deu uma mordida no pastel de Bia.
-Jack!!! Meu pastel, meu lanchee, naaaaooo.....
-Já era. Melanie? Sabe que eu te amo, né? O que tem aí pra comer?
Eu ri.
-Nem vem, Jackson. Tenho uma mão, e não tenho medo de usar.
Ele levantou as mãos dele para cima como se estivesse se rendendo e saiu dali.
-Coitado... Daqui a alguns minutos, ele já não vai ter mais essa abertura pra falar comigo.- Bia disse, mordendo seu pastel (o que sobrou dele), e revirando os olhos com uma cara maliciosa.
-Ahm, Bia... Como você pretende fazer ele saber, ahn... Que você e o Felipe... Ficaram?
Ela deu de ombros.
-O Felipe provavelmente vai contar pra alguém, e todo mundo vai ficar sabendo.
Me dei conta de que faltavam só 5 minutos para o sinal bater. E eu teria de puxar o Lipe pelo braço, dizer que precisava mostrar algo a ele lá embaixo, e conduzi-lo ao beco aonde Bia esperava. Por favor, Bia. Desista. Por favor, não me faça fazer isso. Eu não quero que vocês fiquem. Sou egoísta. Sou possessiva. Estou com ciúmes. Não me faça fazer isso.
Eu estava de olhos fechados, aproveitando cada segundo, e dando graças por cada um deles, antes de ouvir o som que me obrigaria a fazer algo nada agradável. Mas o sino tocou. Abri os olhos arrependida de ter topado aquilo. Mas não faria diferença, Bia pediria ajuda à outra pessoa e eles ficariam do mesmo jeito. Olhei para ela e ela me olhou com o mesmo olhar de cúmplice, antes de levantar o polegar e ir até o beco.
Subi, seguindo o fluxo de pessoas que também e dirigiam à sala de aula. Ia mesmo matar aula por causa daquilo? Não, quando levasse o Felipe até lá, eu subiria, pediria desculpas ao professor pelo meu atraso e assistiria aula normalmente, fingindo que nada aconteceu. Ou tentando fingir.
Estávamos entrando na sala, localizei o Felipe, que já estava quase se sentando.
-Lipe.
Ele virou a cabeça na minha direção, mas não disse nada.
-Precisa ver uma coisa. Vem comigo.
- O que foi?
-Só vendo. Vem.
-Depois você me mostra.
-Não, tem que ser agora!
-Não dá pra descer mais, Melanie!
Puxei ele pelo braço e andei até a porta.
-Ai, ai, me solta, sua louca! O que tá fazendo, porra, me solta!
Respirei fundo e continuei andando. Eu sabia que todos nos olhavam e pensavam muita coisa.
Eu o puxei rampa abaixo, e ele ainda estava tentando fugir, até que chegamos no beco. Ele me olhou como se de repente, tivesse sacado tudo. Mas assim que viu Bia lá, sua expressão se tornou confusa novamente.
-O que vocês querem?
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Os 26 Planos da Minha Adolescência
Ficção AdolescenteExistem 26 letras no alfabeto. E existiam 26 porquês para usá-las. Eu, Melanie, a garota quieta, nerd, que nunca arriscara nada na vida, prometi a mim mesma uma única coisa: em dois anos, 26 acontecimentos improváveis irão se cumprir. Autora: yellow...