Dividida Ao Meio

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-Gente, a aula começa às 13:45!- eu digo, tentando interromper a discussão entre Felps e Gui.

-Mas ainda são 13:32...-Gui fala checando o horário no seu celular.

-Ah, mesmo assim, ainda tínhamos que passar naquele outro lugar, não é, Lola?- penso em alguma coisa para dar de desculpa.

Puxo o Felipe pelo braço e vou murmurando um "tchau, Gui..." quando sinto outra mão me puxar. Gui me lança um olhar MUITO fofo. Não tive como resistir, soltei o Felipe.

-Ahn... Mell. Eu consegui a senha pro niver da Helenna, sabia? Eu vou. Nos vemos lá?- alguma coisa dentro de mim começou a formigar. "Nos vemos lá", disse com um sorriso. Ele lançou outro para mim, e seus olhos brilharam. Meu estômago dobrou-se ao meio. Por que ele tem que ser tão lindo? Ele soltou finalmente o meu braço, e quando me viro para sair, vejo que Lola e Felps não estão mais lá. Desco as escadas da Jovens Geeks quase correndo, e do lado de fora, Felipe exibe uma expressão nada boa, enquanto Lola se demonstra aflita por algum motivo.

-Podemos ir?- digo.

-Pode dar um jeito de disfarçar, pelo menos? Só faltava se jogar aos pés dele e gritar "eu te amo". E ele nem é parecido comigo.- Felipe cruzou os braços como uma criança pequena pedindo doce.

Eu ri, por um minuto esquecendo que eu e Felps não estávamos nos falando direito antes. Me recompus ao lembrar e disse em tom sério:

-E você se importa? Vamos logo.

-Eu vou sozinho. Felipe se virou e simplesmente andou na frente. Tive vontade de puxá-lo e perguntar o que houve, quando Lola falou comigo.

-Deixa ele, Mell... Você é muito lerda. Mas deixa. Esquece.

-Como? Lerda??? Como assim??? Espera! Alguém pode me explicar o que houve, pelo amor de Deus?

Felipe se virou e me olhou profundamente por um tempo. E durante esse tempo, vislumbrei o antigo Felipe. Aquele olhar observador, inocente. Seu sorriso perfeito veio à minha mente. Por que não podíamos ser amigos? Eu quero muito ser amiga dele. Amiga do seu eu antigo, não do atual.

Ele virou-se devagar e continuou andando.

-Entendeu, agora?- Lola sussurrou.

Tentei encaixar as peças e raciocinar, mas nada me veio.

-Não.

Lola me fitou com ar de "desisto".

-Você é muito, muito lerda. Coitada.- ela acariciou a minha cabeça. O que foi engraçado, por que eu sou mais alta que Lola.

Na aula, eu tentava entender. Não o conteúdo, claro. Raio atômico é tão fácil... Eletronegatividade e eletropositividade são quase a mesma coisa, só que opostos. Não havia necessidade de me concentrar demasiadamente em química agora. Posso permitir meus devaneios. Felipe tem algum motivo para agir estranho comigo. Ele não gosta do Gui. Ele não falava comigo e, estranhamente, voltou a falar. Mesmo sendo rude, consigo ver vestígios da sua real personalidade nele agora, por mais difícil que seja. Ele não mudou totalmente.

-Melanie. Tem lápis?- Felipe me olhava com desprezo e estendia a mão. Voltou a ser rude.

-Pra você, não.- respondi à altura. Me virei para a frente, mas senti os seus olhos em mim. Ele não esperava que eu fizesse isso.

Ouvi o som de uma cadeira sendo arrastada e o vi ao meu lado. Olhando o quadro. Como se não fizesse diferença a minha presença.

-O que você quer?- perguntei em tom indiferente. Já disse, estou jogando o jogo dele. Posso mudar de personalidade tão fácil quanto ele. Se eu quiser, na hora que quiser.

Ele me olhou surpreso, e depois do jeito de sempre. Ignorante.

-Nada. É proibido sentar aqui?

-Desde o que eu saiba, existe um padrão para a sala de aula que consiste em cinco filas, e você não está em nenhuma delas.

-E no que isso te diz respeito?

-E no que eu e Gui te dizemos respeito? Também não é da sua conta e você se meteu.

Ele se virou e me ignorou no meio da minha fala. "Imbecil", murmurei. Ele deve ter ouvido.

O sinal tocou e eu fiquei sentada, na mesma posição. Queria dormir. Estava morrendo de sono. Felipe se levantou, claro.

A outra aula foi de geografia. O professor começou a passar um slide. Os mapas foram ficando meio turvos... O texto se dividiu em dois... Em três? Em um momento, enquanto ainda lutava pela abertura das minhas pálpebras, não vi mais nada.

Mãos nervosas me sacudiam.

Abri os olhos devagar.

-Mell, Mell, Mell, Mell!!!- Bianca gritava com os olhos arregalados.

-Hmm. Oi.- me espreguiçei. Por quanto tempo eu dormi? Seu semblante de pânico e o fato de estar na escola me despertaram.

-Você dormiu o horário inteiro!!! Sorte que estava escuro e o professor não viu! VOCÊ NÃO SABE! Enquanto você dormia, o Felipe sentou do seu lado que nem na outra aula! E ficou te olhando! E depois, começou a mecher no seu cabelo! Eu aqui dando um tilt e você apagadona. Teve uma hora que ele encostou a cabeça na sua, mas foi só por meio segundo, ele deve ter percebido que eu tava olhando todos os movimentos dele.

O quê??? Isso não tem lógica. Felipe não está falando comigo direito ainda.

-E o que isso quer dizer? Ele sempre é grosso comigo, por que faria isso?

Bianca deu de ombros.

-Mas ele fez, isso fez! E ele se mudou para o seu lado bem na hora em que você abaixou a cabeça e pegou no sono de vez. Lola tava atrás de mim e me disse umas coisas. Mas ela me mandou jurar pela minha morte que eu não te contaria por que Felipe disse para ela não contar.

What? Espera! Pode ser que ele tenha revelado a ela o motivo de ele estar bravo comigo! O motivo de ter se afastado e me ignorado tanto tempo!

Saí correndo atrás da Lola. Ela estava ouvindo música e Felipe estava ao lado dela, jogando.

-Lolalolalolalolalolalola me conta o que você disse pra Biaaaaaaa!

Eu a puxei.

-Por favor!!!

-O que eu disse?

-E eu sei? Quem sabe é você! Mas é sobre ele...

-Ele quem?- Lola retirou um fone, confusa. Se tem alguem lerda aqui, é ela, com certeza!

-Felipe!- disse enfim. O mesmo desviou a atenção do celular e nos fitou, sem entender.

-Aaaah. Aquilo?-Lola se virou para encará-lo, e ele, subitamente vermelho, a alertou com os olhos para que não me contasse.



Os 26 Planos da Minha AdolescênciaOnde histórias criam vida. Descubra agora