Lucky Charm

Almoço de família

- Já está a ficar tarde, tenho de ir andando. Não te esqueças, sem nada e depois vestido azul. Estou cá às dez. - Diz o Ricardo enquanto veste o casaco.
- Eu não vou estar nua quando chegares, por isso podes vir só às onze e meia.
- Já namoramos à um mês, não me podes deixar dar só uma espreitadela àquilo que me espera? - Diz enquanto me agarra na cintura e me puxa para si.
- E estragar a surpresa? Nem penses!
- Stingy!
- Idiota!
Ele dá-me um beijo de despedida e vai-se embora.

Acordo às nove e meia com o despertador do telemóvel e começo a vestir-me para o almoço. Meia hora depois, como prometido, o Ricardo aparece e eu estou...
- Não acredito! - Diz enquanto me olha de cima a baixo.
- Acredita porque é verdade.
Estou com uma camisa de dormir que mostra mais do que tapa. Decidi arranjar um intremédio...
- Não estás nua...
- Se quiseres eu posso ir já vestir-me para o almoço. - Ameaço.
- Prefiro-te assim! - Ele aproxima-se e dá-me um beijo cheio de desejo.
- Calculei... - Ele ri-se e beija-me outra vez.
Durante a meia hora seguinte ele passa o tempo a admirar-me em camisa de dormir e a beijar-me.
- Tenho de me ir vestir! - Queixo-me quando ele me prende pela quarta vez nos últimos minutos.
- Mas ainda tens uma hora!
- Exatamente! Só tenho uma hora! Não queres que a tua família goste de mim?
- Quero lá saber!
- Pois, mas eu quero! É a primeira vez que os vou ver e chegar atrasada não é um bom começo! A não ser que queiras que eu vá assim...
- Mas o que é que estás a fazer?! Já só tens uma hora, vai-te vestir! - Ordena-me.
Não lhe respondo e vou para o quarto arranjar-me.
Visto o vestido que o Ricardo tanto gosta e vou para a casa de banho. Aliso o cabelo e faço uma trança que atravessa o topo da cabeça, como uma bandelete. Depois, trato da maquilhagem: ponho base, para tapar a parte que ainda está negra da minha cara, meto risco preto, uma sombra branca leve e um batom rosa brilhante.
Acabo e vou para a sala onde o Ricardo está a ver televisão.
- Então, o que achas? - Pergunto-lhe metendo-me à sua frente.
- Acho que estás linda!
- Óptimo! - Digo baixando-me e dando-lhe um beijo.
Chegamos ao meio dia e meia a uma casa numa zona rural.
- Ricky!! - Chama um rapaz que vem dar um abraço ao Ricardo. - Tudo bem?
- Tudo!
- Então esta é que é a tua namorada?
- Yasmin. - Digo com um sorriso.
- Gabriel, mas o mundo trata-me por Gabe.
- O mundo?
- Claro! Toda a gente me conhece!
- Ah! É do género "everybody hates Chris" mas com Gabe! - Brinco.
- Eu gosto desta miúda! - Diz o Gabe para o irmão fazendo-me sorrir. - Vamos, já está toda a gente lá dentro.
Seguimos o Gabe e entramos numa espécie garagem que tem várias mesas com diferentes tipos de comida e cadeiras espalhadas por todo o lado.
- Estava a ver que nunca mais! - Diz uma rapariga que vem ter connosco assim que entramos.
- Annie, ainda é cedo! Como é que já estás com fome?
- Qual fome?! Eu quero é conhecer a tua namorada!
- Yasmin. - Apresento-me estendendo a mão.
- Annie. - Apresenta-se e agarra a minha mão.
- Minha vez! - Grita outra rapariga. - Eu sou a Martha.
- Prazer. Sou a Yasmin.
- Estas pessoas! A irmã devia ser a primeira a conhecer a namorada!
- E tu deves ser a Nicole. - Adivinho.
- O Ricky falou-te de mim?
- Só me disse mais ou menos os nomes de toda a gente.
- Então Ricky onde é que está a nova jeitosa? - Pergunta um rapaz cumprimentando o Ricardo.
- Mesmo aqui, Jace. - Responde o Ricardo pondo o braço à minha volta.
- Então tu és a nova... Jace.
- Yasmin. E não sou a nova, sou a mesma desde o início do ano.
- Não me digas que os rumores são verdadeiros! Houve mesmo uma gaja que te pôs uma trela?! Então e aquela Andrea? Era mais gira que esta! - Diz incrédulo para o Ricardo.
- Se não gostas do que vês, não olhes! - Respondo-lhe irritada.
- Olha, olha... Ainda não lhe ensinaste que ela tem de servir e calar?!
- O único rafeiro pulguento que anda por aqui és tu!
- Vens à casa da minha família e insultas-me?! Mas quem é que pensas que és cabra?!
- Consigo ver porque é que gostaste tanto da Andrea, vocês são iguais!
- O que é que tu disses-te?! Estás a comparar-me com uma mulher nojenta?!
- Acabou! Jace, não sejas mal educado! - Diz a Sandra, a mãe do Ricardo. - E Yasmin, eu sei que ele merece, mas é da família por isso eu sugiro que tenhas cuidado com as tuas palavras.
- Peço desculpa, exaltei-me. - Digo.
- Só tem cuidado para que não volte a acontecer.
- Terei. - A Sandra vai-se embora.
- Não te preocupes o meu irmão é um estúpido por natureza, só o aguentamos porque é família. Sou o Harry e este é o Mike, ele é o mais novo da família, ainda tem seis.
- Seis? Mas disseste-me que ele tinha treze. - Digo para o Ricardo.
- Disse?
- Disses-te!
- Não ligues ao meu neto, ele tem uma memória pior do que a minha! - Diz uma senhora idosa. - Sou a Theresa, minha querida.
- Olá, sou a Yasmin.
- Olá, Yasmin. Sou o Eric, o marido da Theresa.
- Olá!
- Agora que já conheces-te toda a gente vens connosco! - Diz a Annie puxando-me.
- Ricardo! - Chamo.
A Annie para abruptamente e vira-se para trás.
- Ricardo? - Perguntam algumas vozes em coro, incluindo a da Annie.
- Sim...
- O que é que isso quer dizer? - Pergunta uma voz.
- Que língua é? - Pergunta outra voz.
- Onde é que aprendes-te? - Pergunta uma terceira voz.
Olho para o Ricardo e começamos os dois a rir, com a família dele toda a olhar para nós curiosos.
- Do que é que se estão a rir? - Pergunta o Gabe.
- Vocês acabaram de lhe fazer exatamente as mesmas perguntas que eu lhe fiz no dia em que eu a conheci. - Responde sem tirar os seus olhos dos meus.
- Isso é muito bonito, mas eu continuo curiosa! - Diz a Nicole.
- É o nome dele em português. - Respondo.
- E porque é que o tratas assim? - Pergunta a Martha.
- Porque ele mo pediu. Disse que como namorada, tinha de ter uma alcunha para ele que mais ninguém tinha.
- Mas porquê em português? - Pergunta a Annie.
- Porque eu sou portuguesa.
- A sério? Com esse sotaque pensava que eras de Inglaterra! - Diz o Harry.
- Pois é! Como é que arranjas-te esse sotaque? - Pergunta o Ricardo.
- Adivinha!
- Stingy! - Grita o Ricardo.
- Idiota! - Grito de volta em português.
- Ok, se continuarmos assim nunca mais saímos daqui! - Queixa-se a Annie e volta a arrastar-me para um sítio qualquer, com a Nicole e a Martha atrás.
Leva-me até uma sala praticamente vazia com excepção de uma pequena mesa no centro.
- Conta, tudo! - Exige a Martha.
- E não deixes de fora nenhum pormenor! - Diz a Nicole.
- Vocês estão a falar do quê? - Pergunto confusa.
- Como é que tu e o Ricky se conheceram? - Pergunta a Annie.
- Com uma pepsi e uma camisa branca extremamente cara. - Acho que estou a ter um dejá vu...
- Conta!
Conto-lhes como nos conhecemos, mas elas não ficam satisfeitas e obrigam-me a contar-lhes tudo até ao momento.
- Então, tecnicamente, vocês não namoram nem à um mês. - Calcula a Martha.
- Sim. - Respondo.
- E já têm tanta história... - Percebe a Nicole.
- Sim.
- E pormenores sórdidos? - Pergunta a Annie.
- Não há! E mesmo que houvesse vocês não iam saber!
- Como assim não há? - Perguntam as três em coro.
- Não havendo.
- Vocês ainda não tiveram relações? - Pergunta a Nicole.
- Não.
- Uau... Ele gosta mesmo de ti! - Exclama Martha.
- Porquê?
- Porque o Ricky era igual ao Jace, só que ele respeitava as mulheres.
- Ah, sim! Ele era um player, eu sei.
- Exato e agora não tem sexo à mais de um mês! - Explica a Nicole.
- Não me digas que só agora é que te apercebes-te! É que tu também não fazes! - Exclama a Annie.
- Pois...
- Ah, não! Tu és virgem! - Grita a Nicole.
- Porque é que isso tem de ser a primeira coisa que eu oiço quando abro a porta? - Diz o Ricardo à porta. - E sim, ela é. Não lhe tirem a inocência, é uma das coisas que eu mais adoro nela.
- Ai é? - Pergunto.
- É! - Responde-me. - Está na hora, meninas.
Elas levantam-se e saem da sala. Eu sigo-as, mas antes de passar pela ombreira o Ricardo agarra-me pela cintura.
- Três perguntas: de onde vem o sotaque? Onde aprendeste italiano? E do que é que vocês falaram?
- James Bond em demasia. - Ele começa a rir-se - O meu pai é italiano e ensinou-me. Não tens nada a ver com isso.
- Tenho uma namorada meio italiana?
- Diz-se que sim.
- Vocês vêm ou vão continuar a namorar? - Pergunta o Gabe
- Continuar a namorar! - Respondemos em coro.
- Mas será que ninguém tem juízo nesta casa?! - Oiço a Nicole reclamar.
- Nós já vamos! - Diz o Ricardo.
- E eu a pensar que nos íamos divertir um bocadinho... - Gozo.
- Espera até chegarmos ao teu apartamento e podemos divertir-nos o quanto tu quiseres, mas agora é altura do karaoke!
- Karaoke?!